Empresas estão optando por monitorar seus trabalhadores por meio de GPS, buscando garantir sua segurança, produtividade e execução correta dos processos. No entanto, a prática precisa ser analisada criteriosamente para equilibrar o monitoramento com a preservação da privacidade e saúde mental dos colaboradores.
O monitoramento em empresas tem se tornado uma tendência em diferentes áreas, como indústria, mineradoras e logística, entre outras, para a gestão de equipes e segurança. A prática, no entanto, pode despertar estranheza e até resistência entre os trabalhadores.
No campo ideal, o objetivo é que a tecnologia permita aos gestores acompanhar o trabalho de várias equipes ao mesmo tempo, em qualquer lugar. Por outro lado, a sensação de estar sendo vigiado recai sobre os funcionários, que terão seus passos monitorados a todo instante.
Independentemente da perspectiva, Marcelo Lonzetti, diretor da ZTrax, empresa de tecnologia de monitoramento de pessoas e ativos, prefere encarar a ferramenta como reforço à segurança no dia a dia. Para ele, a proposta é utilizar a tecnologia para acompanhar a produtividade e assegurar a execução correta dos processos.
"A gente foi abordado por algumas empresas no intuito de monitorar, não simplesmente por monitorar as pessoas, mas para acompanhar a produtividade, acompanhar a segurança, acompanhar até se o processo está sendo bem feito, para ser mais específico", diz Marcelo.
O monitoramento é feito por meio de aparelhos de GPS, que funcionam como pequenos rastreadores que são carregados no bolso ou nos veículos dos funcionários, e não podem ser desligados. A bateria dura até 30 horas, e há um botão de emergência.
Promessa de segurança
Segundo Marcelo, é preciso quebrar o paradigma de que o monitoramento é negativo para o trabalhador. Para tanto, devem ser envolvidos gestores e profissionais de recursos humanos, algumas vezes até o sindicato da categoria.
"O sindicato diz 'Poxa, você está monitorando o meu colaborador, o meu associado', mas é tanta informação positiva para o associado, que, na verdade, isso acaba caindo por água. Por exemplo, como que ele vai provar depois que ele estava cumprindo horas extras? Ali tem como você gerar essa informação", argumenta.
O presidente da Comissão de Advocacia Trabalhista da OAB-SP, Gustavo Granadeiro, pondera que o monitoramento pode estar em conformidade com a legislação, mas também provoca desconforto e estresse aos funcionários, em especial no contexto de trabalho remoto. Se do ponto de vista da gestão do negócio é positivo para controle da produtividade, o uso de softwares de monitoramento acarreta danos psicológicos e sociológicos nos colaboradores da empresa.
"Claro que depende da pessoa, mas isso pode, vamos dizer, adoecer uma pessoa, porque ela pode achar que está sendo vigiada o tempo inteiro e que tem que performar. Então, isso causa um estresse muito grande. Não é raro, eu já tenho visto alguns casos de empresas que fazem um controle muito rigoroso da rotina do seu empregado e isso é algo tão opressor que a pessoa prefere se desligar daquela empresa", exemplifica.
A empresa pode monitorar o funcionário?
Sobre a legalidade do monitoramento, Granadeiro enfatiza a importância de avaliar a finalidade do controle. É o objetivo desse monitoramente que irá permitir ao juiz a auferição da medida como excessiva ou razoável.
"É uma questão de segurança, até porque geolocalização normalmente a gente utiliza, ou as empresas utilizam, para serviço externo, não para serviço interno. Neste caso existe uma finalidade específica que é a segurança, porque se ele [o funcionário] está dentro de uma mina, eventualmente é preciso localizar rapidamente, se cai uma barreira", diz.
De qualquer forma, o advogado recomenda que as empresas adotem transparência e comunicação eficaz sobre a práticia, para que os colaboradores saibam por que estão sendo monitorados e como seus dados estão sendo utilizados. É essencial, acrescenta o presidente da comissão da OAB-SP, que existam políticas claras de privacidade e consentimento dos funcionários para a coleta de seus dados.
O advogado enfatiza que, embora o monitoramento dos funcionários possa ser legal, é crucial considerar os impactos negativos e buscar um equilíbrio entre a necessidade de controle e a preservação da privacidade e da saúde mental dos trabalhadores. Ele defende que a comunicação transparente e o respeito à privacidade são fundamentais para garantir um ambiente de trabalho saudável e produtivo.