"Eu nunca quis ser outra coisa, a não ser pilota", diz comandante de voo

Kéli Tomé realizou sonho de infância e hoje ocupa o posto mais alto na carreira dos pilotos

10 mai 2024 - 05h00
(atualizado às 08h03)
Kéli Tomé é comandante de voo na Latam
Kéli Tomé é comandante de voo na Latam
Foto: Arquivo Pessoal

Kéli Tomé tinha apenas 16 anos quando realizou o sonho de fazer seu primeiro voo de instrução. Vinte e três anos depois, ela chegou ao topo da carreira de pilotos: é comandante da Latam.

"O caminho foi muito difícil, porque eu venho de família humilde, então a grande dificuldade do aviador é justamente pagar as horas de voo, pagar a formação, que é muito onerosa. Minha família investiu muito recurso até eu conseguir me formar para instrutora de voo. Porque uma coisa é certa: para dar certo, a gente tem que ter apoio da família", conta ela, em entrevista ao Terra.

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Nascida nos anos 1970, Kéli lembra que tudo ao seu redor apontava o céu como destino. Naquela época, o mundo celebrava a chegada do homem à Lua, seu pai fazia pequenos voos de instrução e sua mãe era apaixonada por aviação. 

"Eu cresci nesse meio. Eu nunca quis ser outra coisa, a não ser pilota", reforça.

Kéli em um dos seus primeiros voos; atualmente, ela é comandante na Latam
Foto: Arquivo Pessoal

A formação em aviação

Os primeiros passos de Kéli Tomé na aviação civil foram em um aeroclube, logo após se formar em aeronáutica civil. O trabalho como instrutora de voo deu novo rumo à sua relação com a aviação. Em vez de pagar para acumular horas de voo, ela passou a receber um salário para fazer o que mais ama -- um passo modesto em direção a uma carreira que demanda não apenas paixão, mas também experiência acumulada ao longo do tempo. 

Foram doze anos pilotando um bimotor particular com uma família, até que sua trajetória profissional passou por uma manobra de brilhar os olhos: ela começou a trabalhar na Latam, em 2007, como copiloto. Ela garante que, lá, encontrou um ambiente propício para seu crescimento, com plano de carreira que a levou gradualmente da malha doméstica para voos de longa distância em wide bodies, como o A330 e o A350.

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"Você vai dedicar muito do seu tempo ao trabalho, aos treinamentos, aos estudos que são necessários. Os nossos descansos são em outras cidades, são em outros países. A gente está muito longe da família. Mas você pode ter certeza que aquele aviador é um ser feliz, é um profissional realizado", destaca. 

Comandante nunca desistiu de sonho e conta que trajetória foi longa até ocupar cargo atual
Foto: Arquivo Pessoal

Ao longo de sua carreira, Kéli aliou as experiências ao desenvolvimento de suas habilidades. Tanto que em 2018 sua dedicação e habilidades foram reconhecidas com a promoção a comandante, marco que a levou de volta à família de aeronaves com a qual tinha boas lembranças: a família Airbus 320. Hoje, ela desfruta de uma carreira que abrange tanto voos domésticos quanto internacionais. 

"Eu nunca passei por uma única situação de preconceito por ser mulher, muito pelo contrário. O meio aéreo, seja ele do aeroclube, seja ele da linha aérea, é muito receptivo a todas as pessoas que amam aviação. E ele é um meio muito solidário, as pessoas são muito incentivadoras", conta a pilota Kéli Tomé.

Mulheres que a inspiram

Kéli também ressalta a importância da representatividade feminina na aviação, mas ainda mais o papel inspirador de mulheres que passaram por sua vida. Com orgulho, ela menciona as colegas de trabalho e duas comandantes que atualmente lideram as operações dos maiores e mais modernos aviões da empresa, o 777 e o 787.

"E, além delas, eu queria acrescentar a minha mãe como inspiração, que desde de mocinha morava em uma cidade do interior, do lado do campo de aviação. E aí chegava o avião e ela sabia até dos horários que o avião pousava lá. E ela guardou algumas fotos, daquelas impressas, ainda em preto e branco, do avião do lado da casa dela. Ela já tinha essa admiração, essa empolgação toda com a aviação, desde mocinha", lembra. "Apesar do meu pai ter feito o posto de piloto, eu acho que eu herdei muito a paixão e admiração dela pela aviação. E hoje eu tenho um aviãozinho pequeno, que nos dias de hobby eu continuo voando".

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Paixões à parte Kéli garante que a aviação oferece oportunidades gratificantes, apesar dos sacrifícios necessários. Por um lado, é incrível conhecer lugares diversos ao redor do mundo. No entanto, sua rotina muitas vezes se resume a passar tempo em hotéis e aeroportos, com intervalos de descanso relativamente curtos entre os voos. 

Ao Terra, Kéli ressaltou a importância da representatividade feminina na aviação
Foto: Arquivo Pessoal

Para ela, a prioridade é se recuperar do cansaço das jornadas de trabalho e se preparar para os próximos desafios, em vez de fazer turismo. Os passeios ocorrem apenas quando os voos permitem estadia prolongada em um destino. O instinto exploradora e curiosa, na verdade, surge mesmo nas férias, quando ela tem tempo disponível para isso. 

Ao fim da entrevista, Kéli encoraja mulheres a seguirem seus sonhos. Se for na aviação civil, ela diz que o caminho para se tornar piloto é igual para todos, independentemente do gênero.

"Essa é uma carreira de paixão, uma carreira de inspiração. Hoje as meninas brincam de Barbie, brincam de boneca, e os meninos brincam de carrinho, de aviãozinho. Aí eu pergunto: por que as brincadeiras dos meninos têm que ser mais legais? E não podemos esquecer, a Barbie tem avião, né? A Barbie pode ser o que ela quiser quando ela crescer. Então, por que a mulher não pensa em se tornar piloto de avião? Uma mulher pode tudo!", acrescenta.

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Fonte: Redação Terra
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