Estátuas fazem parte do imaginário popular desde a antiguidade. Religiosas ou não, elas manifestam a história, crença e cultura dos povos ao redor do globo há milênios. Agora, a maneira rudimentar de construir deu lugar à tecnologia que permite a criação de obras grandiosas, como o Cristo Redentor, uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno e cartão postal do Rio de Janeiro, e o Monumento de Cristo, em Elói Mendes (MG) e Encantado (RS).
Essas duas últimas foram esculpidas pelas mãos de Markus Moura, de 43 anos. Natural de Fortaleza (Ceará), foi no Sul e Sudeste do Brasil onde ele encontrou espaço para erguer estátuas gigantes. O cearese assina junto com o pai, o mestre Genésio Moura, e outros familiares diversas obras pelo País, incluindo o segundo maior Buda do mundo. A estátua fica em Ibiraçu (Espírito Santo).
"Meu pai começou no entalhe na madeira e conheceu um empresário que levou ele para Santa Catarina. Com os anos, ele entrou no (Parque) Beto Carrero para fazer esculturas de cimento. Quando eu estava com 13, 14 anos, ele colocou eu e meu irmão para trabalhar lá, mas a gente era muito novo e não se interessou muito", lembra Markus.
À época desinteressado, o escultor sabia que tinha o dom para as artes, mas preferiu por se mudar para Minas Gerais e estudar educação física. A paixão pelo esporte falou mais alto, mas não venceu o alerta de uma namorada da época, que o provocou a buscar recursos financeiros para se manter.
A primeira escultura não se esquece
Foi só então, com o 'incentivo' da namorada, que Markus decidiu acompanhar o pai na construção do Monumento de Cristo, em Elói Mendes. A escultura, construída em 2006, já superava a imagem da 'irmã' carioca em um metro e meio de altura. "Fui ganhando dinheiro, e isso foi me incentivando. Fui aprendendo, gostando", lembra.
Mas o processo de aprendizado não foi fácil. O mestre Ceará, como é conhecido seu pai, é autor das imagens 'Menino da Porteira', de Ouro Fino (MG), e a estátua do Rei Pelé, em Três Corações (MG), e tinha um jeito particular de ensinar seus filhos a esculpir.
"Meu pai sempre ensinou assim: ele deixava a gente trabalhar o dia todo e, no dia seguinte, ele quebrava tudo se estivesse errado, ou corrigia a gente no que precisava, mas sempre desafiando. Assim fui, me aperfeiçoando", conta.
Dois anos de trabalho por estátua
De 24 a 36 meses de trabalho. Esse é o prazo que Markus pede para realizar uma obra, que depende de fatores externos para ser concluída, como estabilidade do tempo e entrega dos materias.
O processo começa com o pedido de um potencial cliente, que apresenta uma foto ou uma simples ideia, sobre a qual o escutor trabalha a partir de inspirações próprias.
"Depois que eu encaixo na proporção sobre o tamanho que o cliente quer, começo a construção no ferro. Entorto tudo manualmente, moldando, e minha equipe fecha com ferros menores, reveste de tela e depois com camadas de massa. São quatro camadas de cimento com 10 centímetros de espessura", explica.
O segredo, segundo ele, vem do detalhamento. O processo artístico, mesmo em estátuas gigantes, se dá nos detalhes que o escultor produz com pequenas ferramentas.
"Uso uma faca e um pincel mesmo, esculpindo em cima do cimento. Quando o trabalho passa dos dois metros, aí preciso de ajuda de arquitetos e engenheiros", acrescenta.
Vida é solitária, mas a inspiração o cerca
Markus conta que atualmente é responsável pela obra de quatro estátuas gigantes no Brasil, entre elas, o Cristo Acolhedor de Sobradinho (RS), o Arcanjo Miguel da cidade de São Miguel Arcanjo (SP) e uma estátua de Cristo de 70 metros de altura em Pilar (AL). Os diferentes locais de obra fazem com que o escultor passe boa parte do tempo viajando. Segundo seus cálculos, ele passa cerca de 15 dias em cada lugar.
E é essa dinâmica do trabalho a responsável pela vida solitária que ele leva. Apesar de ter dois filhos, de dez meses e de quatro meses, que moram no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais, ele não é casado.
A rotina o impede de ficar por muito tempo em um único lugar. Isso, segundo ele, afasta pretendentes. "Eu acabo me envolvendo, gostando, só que preciso ir embora trabalhar. Elas ficam tristes e choram, mas é a vida, né?", reflete.
Isso, no entanto, não o impede de encontrar beleza e inspiração por onde passa. Markus afirma que, da mesma forma que o canteiro de obras é seu ateliê, a natureza é sua fonte inesgotável de inspiração. "Cem por cento! Desde um inseto, um rato, uma cobra, uma paisagem, a combinação de cores... É incrível, a natureza é incrível", reforça.