Em 2021, a designer de games Ana Camargo, 29, decidiu fazer uma mudança radical: trocou a carreira estabelecida no Brasil para se arriscar no mercado de trabalho da Finlândia por flexibilidade e qualidade de vida. Antes, trabalhava 14 horas por dia. Hoje, a jornada diária não ultrapassa sete horas. Assim como Ana, outros brasileiros estão mudando para o país nórdico em busca de um estilo de vida mais desacelerado, com jornadas de trabalho reduzidas e uma cultura profissional mais flexível.
Em 2023, pelo sexto ano seguido, a Finlândia foi considerada o país mais feliz do mundo, segundo o Relatório Global sobre Felicidade. O país oferece vagas para trabalhadores estrangeiros, inclusive brasileiros.
A escolha do país nórdico não foi por acaso, o artista tinha conhecimento do mercado de games e da cultura de bem-estar no trabalho. "Aqui eles querem saber como você está e te mantêm satisfeito de estar ali", relata.
Por exemplo, Campos tem acesso direto ao CEO da empresa de games em que trabalha, com 110 funcionários. "Todo mundo pode conversar como se fossem da mesma hierarquia, você sente que todos fazem parte do mesmo time", diz.
"Também existe uma maturidade em relação aos negócios, o trabalho é bem flexível, dá para você sair mais cedo para fazer algo de que goste." Em termos financeiros, o que recebe e o que gasta está mais equilibrado. Agora, ganha 45% a mais do que no Brasil (ele não revelou valores).
"O pessoal da empresa depois me contou que eles estavam com dificuldade de encontrar candidatos qualificados na Finlândia."
Enquanto Finlândia ganha, Brasil perde mão de obra qualificada
Cerca de 2.466 brasileiros moram legalmente no país nórdico, segundo dados mais recentes do Serviço Estatístico da Finlândia. Embora não exista uma pesquisa que mapeie com precisão o cargo que ocupam, há um consenso no mercado de que os profissionais das áreas de TI e setores adjacentes sejam os mais procurados. Quem afirma é Maria José Tonelli, da FGV.
"Hoje, o mercado não é local, é global. Então, brasileiros com boas qualificações têm competência para estar nesse mercado de trabalho. Não precisam ficar restritos ao Brasil, podem nadar em qualquer lago", diz.
Tonelli avalia que o comportamento das empresas brasileiras tem responsabilidade na perda de talentos. "O grande problema nas empresas é contratar pelo 'hard' e demitir pelo 'soft'. Porque não sabem lidar com humanos e fazer uma equipe trabalhar bem. Ninguém motiva ninguém, mas desmotivar é muito fácil."
Áreas que têm vagas para brasileiros no exterior
Na avaliação da professora, os profissionais da área de tecnologia não são os únicos a despertarem interesse do mercado finlandês. Trabalhadores do setor da ciência e da educação, além de pilotos e executivos brasileiros, também estão mais propensos a receber propostas de emprego e a concorrer a cargos estrangeiros.
Se por um lado trabalhadores qualificados ganham mais opções na hora de pleitear um emprego, por outro, o Brasil corre o risco de perder talentos de diversas áreas.
"É preciso que as organizações preparem e mudem os estilos de liderança e façam uma mudança de mentalidade", diz a professora, acrescentando que as organizações não podem mais perder tempo.
"Você tem uma geração que chega e não quer mais isso (modelos organizacionais exaustivos). Então, as empresas têm que se adaptar."