A sociedade está em constante evolução e no mercado de trabalho não é diferente. A tendência da vez é chamada de lazy job (trabalho preguiçoso, em tradução livre para o português). O termo, no entanto, pode gerar confusão. O lazy job não é uma ode à preguiça ou procrastinação, mas, sim, a busca por vagas que permitam mais equilíbrio entre a vida profissional e a pessoal, com mais flexibilidade e autonomia para os funcionários.
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A tendência viralizou nas redes sociais com a hashtag #lazygirljobs, em especial, entre jovens mulheres estrangeiras. Mas, engana-se quem pensa que ela não acontece no Brasil. O lazy job mostra também uma nova perspectiva sobre o mercado de trabalho compartilhada pela geração Z, nome dado ao conjunto de pessoas nascidas de 1995 até 2010.
Juliane Ruffatto, doutora em Administração de Empresas pela Unisinos e mentora de carreiras, explica que os valores dessa nova geração são diferentes e isso se reflete também nas suas escolhas profissionais. “Eles se importam muito com justiça social, com meio ambiente e querem trabalhar em lugares em que os seus valores sejam respeitados. O trabalho tem de ter um propósito maior do que só ganhar dinheiro. Por isso, eles querem a flexibilidade de trabalhar de casa, a qualquer hora, em busca também de mais qualidade de vida”, explica em conversa com o Terra.
Nas redes sociais, não faltam relatos negativos sobre a chegada desta nova geração ao mercado de trabalho. Preguiçosos, imaturos e desinteressados são alguns dos estereótipos já associados aos jovens da geração Z. Para Juliana, muitos desses atributos são mitos. “Temos que sair dessa bolha e entender que isso são rótulos; é preciso compreender e conversar com essa galera”.
Ela ainda destaca que, no geral, os jovens da geração Z não são preguiçosos, mas sim procrastinadores. Como nativos digitais, eles são ágeis, têm boa capacidade para desempenhar múltiplas tarefas e estão em busca do desenvolvimento interpessoal. Isso significa que "quando eles têm incentivo para continuar estudando, aprendendo, se capacitando, eles tendem a permanecer naquele posto de trabalho”, diz Juliane.
Apesar de pertencerem a um mesmo grupo, esse grupo não é homogêneo. É importante notar os diferentes contextos que moldaram essa geração já nascida em um ambiente digital, marcado por instabilidades políticas, sociais, econômicas e ambientais.
O filósofo e professor Diego Almeida Monsalvo explica que “os jovens de hoje não estão sendo mais preparados para uma realidade de trabalho razoavelmente estável, segura e de sustentação para um futuro justo e de liberdade econômica”. Segundo ele, os millennials, por sua vez, “encontram-se frente a um paradoxo, idealizada e programada para fazer cumprir as demandas do sistema, do desfrutar hoje enriquecendo agora, influenciar e seguir; e se frustra com a realidade de um mundo do trabalho efêmero e imprevisível, de perspectiva curta e sem garantias”.
A instabilidade não se reflete de maneira igual em todas as classes sociais. Assim, muito dos comportamentos considerados padrões da geração Z, como a tendência a trabalhar com algo ligado ao seu propósito de vida, esbarram na desigualdade social.
"O jovem de baixa renda e o de classe média tem realidades bem diferentes. O jovem [de classe média ou alta] tem mais possibilidade de escolha do que o jovem de baixa renda, que muitas vezes precisa ajudar no sustento da família. Ele não tem as mesmas oportunidades, nem os mesmos poderes de escolha”, ressalta Juliana.
Ainda assim, a instabilidade é um ponto em comum dessa nova geração. "Jovens pobres e de classe média, partindo de situações diferentes e com dificuldades diferentes, fazem parte do mesmo 'estrato social', de servir às empresas e famílias dos jovens ricos e milionários. Numa analogia, vejo que enquanto o garoto pobre corre contra o tempo nas pedaladas de um aplicativo de entrega de comida e afins, o garoto classe média trabalha como operador, técnico e trainee dessa mesma empresa. Os dois não sabem sequer para quem trabalham e não imaginam como se estabilizar em seu futuro”, finaliza Diego.