Dados do IBGE mostram que as mulheres brasileiras possuem a maior carga horária de trabalho entre trabalho doméstico, informalidade, desigualdade salarial, pouca representatividade e alta mortalidade materna.
Em meio às discussões do Dia Internacional da Mulher, celebrado nesta sexta-feira, 8, a desigualdade de gênero segue com números alarmantes quando se trata dos principais indicadores sociais do País, como participação no mercado de trabalho, renda, escolaridade, saúde e até representatividade em cargos políticos.
O índice de participação das mulheres com 15 anos ou mais de idade no mercado de trabalho (ocupadas ou em busca de trabalho e disponíveis para trabalhar) foi de 53,3%, enquanto entre os homens a taxa chegou a 73,2% no ano de 2022. Os dados foram apresentados na terceira edição do estudo Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O levantamento traz uma sistematização de informações para análise das condições de vida das mulheres no País. Diante da desigualdade no âmbito profissional, o estudo aponta que o maior tempo dedicado ao cuidado de pessoas e afazeres domésticos acaba impactando na redução da participação das mulheres no mercado de trabalho.
No Brasil, em 2022, as mulheres prestaram essas atividades quase o dobro de tempo que os homens (21,3 horas contra 11,7 horas). O Nordeste lidera com o maior tempo gasto, que corresponde a 23,5 horas, sendo também a Região com a maior desigualdade em relação aos homens.
Aumento da desigualdade para mulheres negras
Além disso, fatores raciais e sociais também interferem nessa realidade. Conforme o IBGE, o recorte por cor ou raça indica, por sua vez, que as mulheres pretas ou pardas estavam mais envolvidas com o trabalho doméstico não remunerado que as mulheres brancas (1,6 hora a mais), enquanto para os homens a cor ou raça declarada não afetou a dedicação a essas atividades.
Considerando as diferentes jornadas de trabalho de homens e mulheres, em ocupações no mercado de trabalho e no doméstico não remunerado, a carga horária total semanal de trabalho das mulheres foi de 54,4 horas e, para homens, 52,1 horas no mesmo ano.
Outro dado alarmante diz respeito à situação de maior taxa de informalidade das mulheres (39,6%) contra 37,3% dos homens, sendo que a diferença entre as mulheres pretas ou pardas (45,4%) e dos homens brancos (30,7%) chegou a quase 15%.
Frequência escolar
Na frequência escolar, a desigualdade por cor ou raça também estava presente. Isso porque cerca de 39,7% das mulheres brancas de 18 a 24 anos estudavam, enquanto entre as pretas ou pardas, essa proporção era de 27,9%. Os homens pretos ou pardos tinham o menor percentual dentre os grupos observados (24,6%).
A proporção de mulheres brancas com 25 anos de idade ou mais que tinham completado o nível superior (29,0%) era o dobro do observado para as pretas ou pardas (14,7%).
Rendimento
No mesmo ano, o rendimento das mulheres foi, em média, equivalente a 78,9% do recebido por homens. No início da série histórica, em 2012, essa razão era estimada em 73,5%. A maior diferença no rendimento, em 2022, estava no grupo de profissionais das ciências e intelectuais: elas receberam 63,3% da média dos homens.
Ainda no âmbito econômico, cerca de 32,3% das mulheres do País estavam abaixo da linha de pobreza, ou seja, tinham renda diária per capita de até U$6,85, de acordo com o Banco Mundial. Essa era a situação de 41,3% das mulheres pretas ou pardas que residiam no Brasil, contra 21,3% das mulheres brancas.
Queda da mortalidade materna
A saúde das mulheres sofreu com o crescimento da mortalidade materna durante a pandemia de covid-19. Em 2020, a taxa chegou a aumentar em 29% em comparação ao ano anterior, atingindo a marca de 74,7 óbitos por 100 mil nascidos vivos. No ano seguinte, essa proporção foi de 117,4/100 mil. Em 2022, a razão de mortalidade materna caiu, sendo estimada em 57,7 a cada 100 mil nascidos vivos.
Violência contra a mulher
Em 2019, considerando apenas a principal violência sofrida, 5,7% das mulheres brancas relataram ter sido vítima de violência psicológica, física ou sexual praticada por ex ou atual parceiro íntimo. A proporção era maior para as mulheres pretas ou pardas, com 6,3%.
Representatividade na política
Embora as mulheres representem 52,7% do eleitorado e a proporção de deputadas na Câmara Federal tenha aumentado de 14,8%, em setembro de 2020, para 17,9%, em novembro de 2023, o país encontra-se na 133ª posição de um ranking de 186 países e tinha posição inferior a vários países latino-americanos como o México, Argentina, Equador e Bolívia.
Com dispositivos legais desde 1995, o Brasil prevê cotas eleitorais, reservando um percentual de candidaturas em eleições proporcionais para as mulheres. Contudo, apenas com a Lei n. 12.034, de 2009, essas cotas tornaram-se obrigatórias, de modo que, em eleições proporcionais, haja no mínimo 30% e no máximo 70% de candidaturas de cada sexo, por partido ou coligação partidária.
Ainda segundo o IBGE, em 2023, apenas 16,1% das cadeiras de vereadores eram ocupadas por mulheres. Regionalmente, a presença menos expressiva se deu na região Sudeste (14,2% de vereadoras) e a região na qual as mulheres estavam mais representadas entre vereadores (16,9%) foi a Nordeste.
Com relação ao poder executivo local, somente 12,1% das prefeituras, em 2020, data da última eleição, estavam ocupadas por mulheres. Dentre as prefeitas, 66,9% eram mulheres brancas.