Nos últimos meses, uma nova tendência tem tomado as redes sociais. Pessoas de diferentes áreas profissionais têm aderido a uma atitude diferente: colar frases sinceronas nas cadeiras de seus escritórios, revelando de forma divertida e honesta o que ouvem todos os dias no trabalho e o que precisam para manter o foco nas tarefas durante o expediente.
Uma das empresas que aderiu e viralizou com a trend foi a Blunt Brasil, uma marca brasileira de streetwear. A publicação no TikTok soma mais de 550 mil visualizações ao mostrar que os funcionários escolheram para colar em suas cadeiras frases como: "Não fale comigo, estou montando catálogo", "Não me chame, estou em reunião" e "Eu já estou subindo a peça no site".
Nos comentários, muitos outros trabalhadores se identificaram com os recados e afirmaram que também estavam pensando em aderir a tendência.
Quem também fez sucesso com a Trend foi a Cubo Itaú, uma comunidade que conecta boas soluções para construir cases de inovação para o mercado. Com a legenda: "Quando o time precisa tomar algumas medidas drásticas… 🤫", a publicação alcançou mais de 300 mil curtidas no Instagram.
Entre os desabafos dos funcionários da empresa, haviam mensagens coladas como "Orem por mim que hoje 'tô' só por um milagre", uma clara referência aos dias em que tudo parece dar errado; "Não me chame para um café (pois eu irei)", revelando o vício em cafeína para enfrentar o cansaço; e "Por favor, não fale comigo (sou tagarela e me distraio fácil)", uma confissão sincera de uma personalidade falante e facilmente distraída.
Depois que a trend começou a se espalhar, profissionais de outras empresas também passaram a usar a criatividade para se expressar por meio dessas frases coladas nas cadeiras.
No TikTok, a Help Condomínios, localizada em São Paulo, aderiu a tendência e seus funcionários usaram plaquinhas divertidas como: "Ocupada até 2024, eu sei que é urgente, mas tudo é", e "Por favor, não converse comigo. Só se for fofoca boa".
A tendência também foi aderida pela empresa de combranças Litígio B2B, de Recife (PE), em que colaboradores escolheram mensagens como: "Não quero conversar, estou fechando parceria" e "Não me peça nada sem antes mandar o CNPJ do cliente".
"Ação permite uma cultura mais leve"
Ao Terra, Eduardo Migliano, fundador da 99jobs - uma comunidade colaborativa online de carreiras - explicou que ações que permitam levar o dia a dia de trabalho como algo sobre o qual o funcionário possa falar e dar risada é essencial para manter uma cultura cada vez mais leve.
"Trazer brincadeiras sobre a rotina, que pode ser maçante, abre espaço para gente falar a respeito com mais naturalidade. Além, claro, de aumentar as chances de uma abordagem de colegas que podem começar ali com uma bela risada, quebrando barreiras corporativas e gerando conexões humanas mais reais. Até o próprio movimento de implementar a brincadeira gera sociabilidade para o espaço", destaca.
Segundo Migliano, no período pós-pandemia as empresas estão buscando criar espaços que sejam mais sociáveis. "Então caminhar com os reflexos sociais para onde a sociedade está indo e construir essas narrativas que de alguma forma sejam orgânicas e atualizadas faz todo sentido. E essa consciência vai muito além de um hit do momento", explicou.
O fundador da 99jobs também explica que ações como essa são importantes porque "conversam com as gerações ativas e até mesmo com as gerações que estão em vias de ingressar no mercado de trabalho".
No entanto, Migliano destaca que toda brincadeira não pode ultrapassar o respeito ao outro. "A brincadeira deve ser direcionada à rotina e nunca a pessoas em específico, ou seja, ridicularizar, dar recados ali que são passivo, agressivo, em nenhuma hipótese."
O alerta também é feito por Gianpiero Sperati, CHRO (Líder de Recursos Humanos) da Gupy - empresa especialista em tecnologia para RH no Brasil. Segundo ele, os limites de quaisquer brincadeiras são aqueles da cultura da empresa e do cuidado para com outras pessoas.
"Deixar claro o que pode e o que não pode ser feito é uma ótima ideia para evitar criar situações delicadas ou ofender alguém, o que geraria o efeito oposto do que estamos buscando, de leveza e inclusão no ambiente de trabalho", destacou.
Segundo Sperati, esse tipo de ação como o da trend, desde que as brincadeiras respeitem a cultura e o bom senso, traz o diferencial de fortalecer um ambiente leve e de segurança, além de criar conexões.
"A implantação também vêm de forma leve e sutil - se uma pessoa que for gestora e respeitada dentro da empresa fizer uma brincadeira dessa, é provável que outras pessoas sintam segurança em copiar a atitude. Aqui na Gupy falamos que se fossemos fazer uma “equação de resultados” de uma pessoa, seu potencial é dividido pelos seus medos e pelas burocracias da empresa. Então quanto mais você conseguir reduzir os medos, criando um ambiente leve, mais chance você tem de gerar um ambiente produtivo", destacou.