Salário mínimo de R$ 13 mil e tempo de lazer: brasileiros contam como é trabalhar em Luxemburgo

Funcionário deve ser focado e eficiente nas 8 horas de trabalho, mas não fica além da jornada e tem tempo para vida pessoal e lazer; salário é bom, mas custo de vida também é alto

4 set 2023 - 20h10
(atualizado em 5/9/2023 às 15h54)
Foto: Reuters

Com o maior PIB per capita do mundo, Luxemburgo é um pequeno país no centro da Europa com forte tradição industrial e uma enorme presença de profissionais do mundo todo. Com pouco mais de 660 mil habitantes, no país vivem pessoas de mais de 170 nacionalidades, e cerca de 46% dos residentes são estrangeiros.

Hoje o país conta com o maior salário mínimo da Europa. Os valores diferem entre profissionais qualificados e não qualificados. No primeiro caso, a remuneração chega a € 3.009,88 e para o segundo grupo € 2.508,24 — um pouco mais de R$16 mil e R$13 mil, respectivamente. Veja aqui como encontrar um emprego no país. O salário é bom, mas os gastos também são altos.

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Brasileiro reprovado na primeira vez insistiu e conseguiu

A remuneração alta e as oportunidades de ascensão profissional foram alguns dos motivos que levaram o brasileiro Fábio Henrique Rocha, 33, a buscar uma vaga no país. Desde 2021, ele atua como gerente de auditoria na multinacional Ernst & Young na capital luxemburguesa.

Ele conheceu Luxemburgo por intermédio de um amigo e desde então começou a sonhar com a vida na Europa. Em 2019, teve sua primeira tentativa frustrada em um processo seletivo no país devido a uma pessoa local ser escolhida.

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Posteriormente, por meio desse amigo, conseguiu uma oportunidade de trabalho em auditoria em Luxemburgo. Fez o processo seletivo, com testes técnicos e entrevistas, e no fim foi selecionado pela empresa.

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"Quando comecei, estava determinado a mostrar serviço, então frequentemente estendia meu expediente. Até que um dia, meu superior me abordou e disse. 'Fábio, você precisa parar por hoje. Não precisa exagerar. Vá descansar, volte para casa. Amanhã é um novo dia, o sol nascerá novamente e você continuará vivo", conta Rocha ao comparar a realidade luxemburguesa com a concepção brasileira de trabalho duro.

Por conta disso, a eficiência é algo extremamente valorizada no país. A jornada oficial é parecida com a do Brasil, a diferença está na forma com que os luxemburgueses veem o profissional. No novo país, Rocha percebeu um ambiente colaborativo, separação clara entre vida pessoal e profissional, e maior foco e eficiência no trabalho.

"As oito horas em que a pessoa está trabalhando, ela realmente está ali focada. Eles chegam e vão embora no horário certo, só levantam para comer, voltam, trabalham, vão embora e acabou", explica.

Segundo ele, a alta qualidade de vida em Luxemburgo é sustentada não apenas pela boa remuneração, mas também pelo sistema de segurança social abrangente e pelas diversas oportunidades de trabalho no país.

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Grandes empresas como Arcelor Mittal, Ferrero e GoodYear tem suas matrizes no país. Segundo o cônsul de Luxemburgo no Brasil Jan Eichbaum, a estrutura econômica do Luxemburgo é moldada principalmente pelo setor dos serviços, que por sua vez é impulsionado pelo desenvolvimento do setor bancário e financeiro.

Mora na Bélgica e chega em 20 minutos a Luxemburgo

Ao mesmo tempo em que o salário mínimo é alto, o custo de vida no país acompanha esse movimento. Isso resulta em um mercado de trabalho que se destaca pela presença significativa de trabalhadores transfronteiriços.

No Brasil, o especialista em marketing Vitor Ponciano, 26, passava uma hora e meia no transporte para chegar ao escritório. Hoje em dia, ele mora na Bélgica e trabalha em Luxemburgo. Atravessa a fronteira dos dois países e chega ao trabalho em 20 minutos.

Assim como Ponciano, milhares de profissionais deslocam-se diariamente de França, Bélgica ou Alemanha para o seu local de trabalho no grão-ducado.

Segundo a Agência de Desenvolvimento de Emprego do país, quase um em cada dois trabalhadores desloca-se diariamente pela região, que oferece transporte público gratuito.

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As experiências profissionais em agências de publicidade no Brasil fizeram com que Ponciano criasse um gatilho de pressão psicológica em determinadas situações do dia a dia de trabalho.

Esse gatilho muitas vezes é acionado sem que ele perceba, como se fosse uma resposta automática a certos estímulos que remetem às demandas intensas e prazos apertados que costumava enfrentar nesse ambiente.

Por exemplo, quando surge a necessidade de entregar um projeto em curto prazo, mesmo que a situação não seja tão crítica quanto as que vivenciou no passado, Ponciano se vê imerso em um estado de urgência e ansiedade.

Seu corpo reage como se estivesse enfrentando os mesmos desafios extremos, mesmo que a situação real não exija tal intensidade.

"O dia vai passando e você vai analisando que as coisas não são tão urgentes. Eu não preciso virar a noite ou ficar igual a um louco para tentar entregar isso", declara.

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Ele afirma que em Luxemburgo há menos pressão e um melhor equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.

No Brasil, o trabalho é muitas vezes priorizado em excesso, enquanto em Luxemburgo as pessoas valorizam mais suas vidas pessoais.

Segundo Vitor, o ambiente de trabalho em Luxemburgo é mais relaxado e focado, o que contrasta com a pressão encontrada no Brasil.

Apesar da diferença na forma em que brasileiros e luxemburgueses encaram o trabalho, os profissionais que chegam ao país europeu costumam ser bem recebidos e valorizados por algumas competências específicas, como a adaptação e por "saber trabalhar", explica o cônsul de Luxemburgo no Brasil, Jan Eichbaum.

"O brasileiro possui uma habilidade incrível de adaptação, improvisação e competência social. Essas características tornam os brasileiros muito bem-vindos", conta.

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