Antes de se tornar influenciadora e ganhar visibilidade nacional por sua participação no Big Brother Brasil, a psicóloga Sarah Aline já trabalhava como analista de diversidade e inclusão. Uma profissão que ela faz questão em manter mesmo após o fim do programa. A fama não a desvio de seu caminho e tem até ajudado a voz jovem de 25 anos ter um poder de propagação maior.
Quando o nome de Sarah Aline apareceu entre os confirmados no último Big Brother Brasil, muita gente se perguntou o que fazia um analista de diversidade e inclusão. Na época, o termo foi um dos mais pesquisados na web. "Dei risada com os memes que surgiram falando que eu estava analisando a quantidade de gays nos espaços", conta a ex-BBB, em entrevista exclusiva ao Terra. Uma rápida pesquisa no LinkedIn revela que existem mais de 10 mil vagas abertas na área no país.
A diversidade faz parte da realidade da população, mas, segundo ela, ainda não se vê refletida nos espaços de trabalho. Em um país onde 55,9% da população se declara preta ou parda, segundo o Censo 2022, os espaços de trabalho, principalmente os cargos de liderança, ainda são pouco diversos.
Como explica Sarah, o tema diversidade é trabalhado no Brasil ha pouco tempo, menos de dez anos, mas é vital para empresas que pretendem estar na vanguarda da inovação. "Quando a gente fala do ambiente organizacional, nessa tonalidade de querer inovar dentro dos nossos produtos, a gente fala sobre um lugar de construção e que pessoas precisam ser diferentes para que aquelas construções aconteçam", defende.
Um recado que há anos a jovem de 25 anos tenta passar para as empresas, mas, só depois da exposição do BBB, passou a ter a sua expertise mais reconhecida. "Eu tive uma retenção muito maior do foco dessas lideranças, muito por causa dessa questão de agora eu ser uma pessoa mais famosa”, revela. Confira a entrevista na íntegra.
Terra: Como está sendo a sua vida após esse turbilhão todo do BBB?
Sarah: São muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo, e a gente vai se adaptando a essa nova rotina. Mas acredito que agora seja um momento que é muito bom. Não só profissionalmente, mas eu já consigo pensar mais em projetos que são possíveis até associando a Sarah de antes do Big Brother. Me sinto mais presente e pronta, para conseguir abraçar essas oportunidades e possibilidades.
Terra: Como a sua participação no BBB impactou o seu lado profissional?
Sarah: Eu sempre trabalhei em organizações com diversos tipos de segmentos. Uma das coisas que essa minha vida nova me possibilitou, e que eu não pensava antes de ir ao programa, é agora tenho mais oportunidade de falar sobre tudo que eu atuava antigamente. Continuo falando sobre desenvolvimento de pessoas, de comportamento, de mercado de trabalho, de processos inclusivos e o meio do entretenimento também é muito carente disso. Uma das coisas que tem me deixado muito feliz é perceber que é algo que construí, a minha especialidade, a minha carreira profissional. Foram coisas que eu me aprofundei, estudei, enfim, me especializei. Só que agora, num lugar de impacto um pouco mais amplo. Posso continuar trabalhando com pessoas, ajudando pessoas, falando de desenvolvimento de pessoas, mas agora numa gama super maior e com maneiras diferentes de se fazer, não só no processo organizacional de uma empresa. Essas são as maiores possibilidades que têm surgido. Me dá uma sensação de também estar fazendo algo que sou apaixonada.
Terra: Você é bastante ativa no LinkedIn. É uma estratégia?
Sarah: Não que eu não goste das outras redes sociais, mas a rede social que mais me identifico é o LinkedIn. Mesmo ele tendo uma vibe meio tóxica. Mas, pra mim, sempre foi um lugar que comecei a crescer e evoluir profissionalmente, eu via que era um lugar que me abriu muitas possibilidades e oportunidades. É um lugar de criar conexões. Em cada publicação que eu fazia, me conectava com uma pessoa de uma empresa específica e com trabalhos. Acho que o meu amor pelo LinkedIn como rede é muito pela oportunidade que tive quando comecei a me movimentar nessa rede social. Mesmo agora, depois que saí do programa e não publico com a mesma frequência, eu não queria que isso morresse.
Terra: Antes de participar do programa, você já tinha uma carreira consolidada como analista de diversidade dentro de empresas. Entretanto, muita gente só soube da existência de uma função como a sua, depois que viu você na televisão. Você acredita que a sua participação no reality fomentou esse assunto?
Sarah: Antes de entrar na casa, eu deixei um vídeo que falava sobre as dificuldades e os desafios de um profissional que trabalha com diversidade, e encontra a maior dificuldade do mundo, porque ele só quer representar a demografia brasileira em lugares de poder. Isso é muito difícil e cansativo, e é uma construção social que exige muita coisa. Eu deixei essa crítica de algo que eu já conhecia, um shadezinho para o mercado, e o resultado foi muito legal. Muitas empresas começaram a falar sobre isso, e começaram a associar, querendo ou não, alguns comportamentos que tive no programa às situações reais que acontecem nas empresas, quando a gente fala de barreiras institucionais para diversos formatos de pessoas.
O tema da diversidade é um tema recente, tem mais de nove anos que pessoas de fato desenvolvem coisas nessa área. Agora sinto que o meu trabalho, a minha especialidade e a minha influência como uma pessoa pública pode fazer com que essa fala, de fato, chegue em lugares e pessoas que precisam de uma assistência. Seja um funcionário, que precisa entender quais são os seus direitos de segurança de trabalho, seja uma empresa, que gostaria falar sobre esse tema e que quer se associar com pessoas públicas que também falam sobre isso.
Terra: Você sente que é ouvida de uma maneira diferente?
Sarah: Eu fiz uma participação esses dias para uma empresa, algo bem institucional, para falar sobre a diversidade. Uma das coisas que percebi e que mudou muito pelo fato de eu ser figura pública, é que eu antes de ir para o programa, eu tinha mais dificuldade de acessar, numa palestra, pessoas importantes para a mudança de estratégia do negócio do que agora sendo uma pessoa visivelmente conhecida. O meu papel será cada vez mais aumentar o discurso e o diálogo daquilo que acredito e com mais visibilidade e mais oportunidades de outras pessoas conseguirem emprego, acesso e segurança no mercado de trabalho.
Terra: Você pode me dar um exemplo?
Sarah: Antes de eu ir para o programa eu sempre fiz muitos treinamentos. Sempre falando de processos inclusivos. Sempre que eu ia fazer esses treinamentos, eu falava na camada de liderança, para pessoas líderes dentro dessas instituições, sobre demografia, negócio, saudabilidade de equipe, para conseguir trazer o discurso de diversidade como algo que a empresa precisasse encarar como uma responsabilidade. Mas essas lideranças nem sempre tinham tempo para me ouvir. Acaba que você tem que implorar para as pessoas participarem.
Isso mudou no primeiro treinamento que dei depois da casa. Tive uma retenção muito maior do foco dessas lideranças, muito por causa dessa questão de agora eu ser uma pessoa mais famosa. Isso é ótimo porque potencializa o diálogo, mas também é uma crítica porque o meu discurso continua sendo o mesmo, são os mesmos processos, são as mesmas barreiras, mas agora a gente sabe que essa visibilidade faz com que as pessoas talvez tenham um pouco mais de interesse ou queiram ouvir.
Terra: Por que é importante ter uma analista de diversidade? Por que as empresas estão buscando isso agora?
Sarah: Independente de qual seja o seu negócio, o produto final sempre será consumido ou ele terá que passar por pessoas para que ele exista. Nas organizações, sempre se fala, independente do segmento, sobre inovação. E essa inovação, ela é sempre baseada no que o nosso produto final precisa, que somos nós pessoas. E quando a gente fala do ambiente organizacional, a gente fala sobre um lugar de construção e que pessoas precisam ser diferentes para que aquelas construções aconteçam.
É extremamente importante falar sobre processos inclusivos, porque a gente acaba se esbarrando em barreiras sociais que distanciam pessoas de oportunidade e distanciam o nosso negócio da inovação.
Terra: Você comentou que essa é uma área muito nova dentro do mercado corporativo. Como é que a gente se torna um analista de diversidade? Como é que a gente acessa isso?
Sarah: A primeira vez que vi vaga com esse perfil eu ainda era estagiária. Eu também não sabia o que era. Quando eu entrei no BBB, eu dei risada com os memes que surgiram falando que eu estava analisando a quantidade de gays nos espaços. Foi mais ou menos esse nó que deu na minha cabeça, porque é uma área muito recente no Brasil. Eu me interessei pela área. A produção de conhecimento nesse ramo ainda vem muito de fora. Agora que a gente está construindo isso no Brasil. Para emigrar para uma vaga de analista, um assistente de diversidade e inclusão, é preciso que que tenha como bagagem, obviamente, tudo relacionado a pessoas, recursos humanos, psicologia e outras áreas que falam sobre pessoas, RH e empresas. É uma necessidade muito grande saber sobre os marcadores sociais das diferenças que a gente tem na nossa sociedade. A gente precisa reconhecer a nossa sociedade como é.
Terra: Você acha que a gente está caminhando para um lugar melhor nesse quesito?
Sarah: Eu sempre falei que falar sobre diversidade, falar sobre processos inclusivos, exige uma ação imediata, mas tem um resultado a longo prazo. Então, hoje olho e acho que a gente já caminhou muito. Justamente por isso que a pauta tem diversas frentes, seja em saúde, seja na tecnologia, seja no entretenimento. Isso puxa a responsabilidade das empresas de fato a se movimentarem. Acho que ações imediatas já estão acontecendo, mas um resultado bom, saudável, feliz, a gente vai ver a longo prazo a partir dessa responsabilização.
Terra: Como serão seus projetos pessoais agora?
Sarah: A gente vai continuar trabalhando bastante a minha imagem. O que fiquei muito feliz é que, após o BBB, as pessoas também me associaram à Sarah, que fala bem, que tem a sua intelectualidade, a sua expertise, consegue falar sobre afetos, consegue falar sobre psicologia, sobre vida real, de uma forma muito doce. Eu vou continuar comunicando sobre isso. Por outro lado, existem muitas possibilidades de trabalho, como moda e beleza, cuidados com a pele, que são coisas que eu sempre amei muito e que nunca foi uma possibilidade de trabalho, que agora é. E a última faceta é, obviamente, a Sarah falando de inclusão e diversidade.