Vergonha no trabalho é proteção ou sabotagem? Veja como emoção pode afetar sua carreira

Gestor de RH explica como uma característica tão pessoal pode impactar na performance de um bom funcionário

7 ago 2024 - 05h00
Gestor de RH dá dicas para driblar timidez
Gestor de RH dá dicas para driblar timidez
Foto: Getty Images

A mão não para de suar e o coração bate cada vez mais forte, como se fosse sair pela boca. Parece a descrição de um atleta após uma maratona olímpica, mas não é. Na verdade, essa é sensação de uma pessoa tímida quando está prestes a se posicionar ou apresentar algo novo no ambiente de trabalho. 

Diferentemente daqueles que fazem questão de falar sobre tudo e não perdem uma resenha, o introvertido muitas vezes pode ter dificuldade de criar boas relações no ambiente corporativo e tende a "deixar para lá" os incômodos sentidos no dia a dia do escritório. No entanto, não é sempre que acontece.

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Às vezes, os tímidos resolvem abrir a boca e se posicionam diante de reuniões e tomada de decisões em equipe. Essa é a hora que os 'divertidamentes' entram em conflito e a pessoa enfrenta dois caminhos: ou respira aliviada por finalmente ter falado, ou repassa a cena mil vezes na mente e sente cada vez mais vergonha. 

Mas até que ponto esse comportamento é autoproteção e quando ele se torna sabotagem? Gabriel Gatto, especialista em Recursos Humanos, explica ao Terra como uma característica tão pessoal pode impactar na performance de um bom funcionário no ambiente de trabalho. 

"Esse comportamento pode fazer com que o colaborador perca oportunidades de aprendizado, desenvolvimento e reconhecimento", defende Gatto. "A timidez também pode criar um ambiente de trabalho onde o medo de errar impede a experimentação e o aprendizado, essencial para o crescimento tanto individual quanto coletivo".

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'Suando frio' pelo emprego

A agonia interna já começa antes mesmo de conseguir o trabalho. É durante o processo seletivo que os mais introvertidos tentam quebrar a barreira da timidez para se destacar na hora da entrevista. Mesmo tendo um bom curículo e habilidades totalmente alinhadas à vaga, eles precisam 'cortar um dobrado' na hora de 'vender o peixe'. 

Para Gatto, a vergonha pode fazer com que os profissionais mais introvertidos sejam subestimados durante o recrutamento, o que acaba afetando a recolocação profissional. No entanto, o especialista em RH também acredita no lado positivo do comportamento de quem deixa o 'Divertida Mente' da vergonha comandar o painel de controle. 

"Introvertidos geralmente possuem grandes capacidades de concentração, escuta ativa e tomada de decisões ponderadas. É crucial que recrutadores reconheçam essas qualidades e adotem uma abordagem inclusiva para valorizar a diversidade de perfis", explica. 

E se o tímido passa por um processo seletivo, 'sua frio' na hora da entrevista, tenta se soltar ao máximo e... Ufa! Consegue a vaga, agora, ele precisa lidar com a rotina do trabalho e, sempre que possível se posicionar em relação às demandas. Para os mais introvertidos, esse movimento é difícil.

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Vergonha pode ser empecilho para crescimento profissional
Foto: Getty Images

A opção, muitas vezes, é confiar opiniões e posicionamentos apenas aos colegas de trabalho mais próximos. Para quem vê de fora ou até mesmo para um gestor que não está atento à personalidade de seus funcionários, o comportamento pode ser visto como omissão ou até desinteresse. 

Portanto, a regra é simples: quanto menos comunicação, mais espaço o profissional deixa para mal-entendidos.

"Isso não só limita o crescimento profissional, mas também afeta a autoestima e a satisfação pessoal. A longo prazo, essa postura pode criar um ciclo de frustração e estagnação, dificultando o alcance do pleno potencial do profissional", alerta o especialista.

Outro perigo que os funcionários tímidos correm por não expressarem sua opinião é o conformismo com práticas que, muitas vezes, não estão alinhadas à postura profissional que desejam ter. Gabriel Gatto resume: "A vergonha pode resultar em uma falta de inovação e diversidade de pensamento, pois os funcionários têm medo de se destacar ou de compartilhar opiniões divergentes".

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É possível deixar a timidez de lado no trabalho?

Muitas vezes, o profissional sabe que precisa se posicionar, mesmo sentindo uma ansiedade que extrovertidos talvez não sentiriam na hora de uma reunião, por exemplo. Porém, não parece justo que o tímido precise travar uma "luta interna" toda vez que for levantar a mão para se manifestar no ambiente de trabalho. 

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Para amenizar esse sentimento é importante se perceber. É comum que até mesmo o colaborador mais tímido se sinta à vontade para falar de um assunto dominado por ele. É justamente nessas brechas que ele deve se aproveitar para se destacar. 

Também é importante optar sempre por usar o meio de comunicação em que se sinta confortável, ainda que o posicionamento verbal seja importante.

"Utilizar ferramentas de comunicação escrita, como e-mails ou mensagens, pode ser uma alternativa para expressar pensamentos de forma clara e organizada, reduzindo a pressão da interação face a face", observa Gatto. 

Pedir ajuda de um colega ou até procurar cursos de comunicação e desenvolvimento pessoal também são uma alternativa. O importante é não se sobrecarrega, nem se cobrar demais no processo.

O gestor de RH observa: "Encontrar um mentor ou colega de confiança para praticar e receber feedback pode tornar o processo de aprimoramento da comunicação mais leve e encorajador".

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Mas o segredo mesmo, segundo Gatto, é o autoconhecimento. É preciso entender por que a vergonha é tão presente.  

Vergonha pode ofuscar boas habilidades no trabalho
Foto: Freepik

"Quando a vergonha atua como um mecanismo de proteção pessoal, ela ajuda a evitar situações desconfortáveis ou de conflito. No entanto, se essa vergonha impede a comunicação eficaz, a troca de ideias e a visibilidade do profissional, torna-se um obstáculo ao crescimento", alerta Gatto. 

Vendo por essa perspectiva, o acompanhamento psicológico profissional é mais que necessário para que o colaborador se conscientize de cada sentimento e saiba o que fazer com a 'faca e o queijo' nas mãos.  

"Funcionários que gerenciam bem suas emoções tendem a ser mais resilientes, promovem um ambiente inclusivo e têm maior moral. Além disso, [o desenvolvimento pessoal] ajuda a prevenir e resolver conflitos e fortalece as relações de trabalho", destaca. 

Como não deixar a vergonha atrapalhar no trabalho?

O gestor de RH Gabriel Gatto reuniu algumas dicas para que os profissionais introvertidos deixem a timidez de lado no dia a dia do trabalho sem sofrer. 

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  • Prepare-se antecipadamente: planeje o que você quer dizer antes de reuniões ou interações importantes. Isso pode aumentar sua confiança e reduzir a ansiedade;
  • Pratique a comunicação gradualmente: comece com pequenas interações e aumente gradualmente o nível de complexidade à medida que se sentir mais confortável;
  • Encontre um aliado: identifique colegas de confiança com quem você possa praticar e discutir suas preocupações. Eles podem oferecer suporte e feedback construtivo;
  • Defina metas realistas: estabeleça objetivos pequenos e alcançáveis para melhorar suas habilidades de comunicação e celebre os progressos;
  • Busque feedback positivo: Solicite feedback sobre suas contribuições e reconheça suas conquistas. Isso pode ajudar a reforçar sua confiança;
  • Use técnicas de relaxamento: Pratique técnicas de respiração ou mindfulness para ajudar a controlar a ansiedade e a vergonha;
  • Envolva-se em atividades de grupo: Participe de eventos ou atividades de equipe para melhorar suas habilidades de interação social em um ambiente mais descontraído.
Gestores devem estar atentos às particularidades dos colaboradores
Foto: Freepik

Como o gestor deve lidar com um funcionário tímido? 

A história do "lobo solitário" não funciona a longo prazo no ambiente de trabalho. O especialista em RH faz questão de destacar que, no dia a dia do escritório, as demandas só fluem em equipe. Por sua vez, cabe ao gestor observar e resolver qualquer coisa que ouse "atravancar o caminho", como diria o famoso poema de Mário Quintana. 

Segundo Gatto, os chefes devem se manter atentos às particularidades dos funcionários e precisam estimular a comunicação aberta, oferecendo suporte e recursos para que eles se sintam à vontade. "É importante criar um ambiente de trabalho que valorize e incentive a participação ativa de todos os colaboradores", argumenta.

Para o especialista, a fórmula do bom gestor inclui acompanhamentos regulares, feedbacks construtivos e celebração de pequenas conquistas. Para ser um chefe impulsionador, tambémm é crucial estabelecer a confiança e a empatia dos colaboradores. Esse comportamento faz até os mais tímidos se sentirem à vontade para compartilhar suas opiniões e se posicionar diante das demandas.

Fonte: Redação Terra
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