O pesquisador brasileiro Guilherme Malafaia Pinto, mestre em Biologia e professor do Instituto Federal Goiano, virou alvo de denúncia internacional nesta última semana. Malafaia teve mais de 30 artigos cancelados pela revista científica Science of Total Environment (Stoten), da editora Elsevier, após suspeita de ter fraudado as revisões das pesquisas.
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A Elsevier retirou de sua plataforma cerca de 22 artigos desde o dia 22 de novembro. Outros 13 estudos pautados por Malafaia estão em investigação. A justificativa é de que a equipe de Integridade de Pesquisa e Ética de Publicação da Elsevier determinou que um ou mais das revisões de cada artigo do brasileiro eram "fictícias", ou seja, escritas com nome de cientistas consolidados, mas sem o conhecimento deles.
"Embora o artigo tenha sido revisado por revisores adicionais escolhidos pelo editor, essa violação comprometeu o processo editorial", disse o comunicado da Elsevier.
A denúncia foi veiculada pela Science, e traz uma entrevista com Michael Bertram, ecologista comportamento e ecotoxicologista, que descobriu em maio que seu nome estava sendo utilizado para produzir revisões falsas em artigos submetidos à plataforma de ciências.
"Como acadêmicos, somos mantidos em um alto padrão ético e a ciência pode ser extremamente competitiva. E de repente, um dos meus colegas, que eu não conheço, está supostamente falsificando revisões para artigos, e olhando para o histórico deles, eles são extremamente prolíficos. Honestamente, me senti enganado e senti que era importante compartilhar minha história para, esperançosamente, reduzir a chance de isso acontecer novamente", afirmou Bertram.
Segundo a Science, revisões falsas feitas por pares estão se tornando cada vez mais comum no meio acadêmico. Como os periódicos convidam autores para enviar nomes de possíveis revisores junto com seus manuscritos, os cientistas podem acabar "abusando" desse sistema, por meio da sugestão de cientistas reais com experiência relevante.
Há uma brecha para que sejam fornecidos e-mail falsos na verificação. Se os editores aceitarem as sugestões sem verificar o e-mail, os autores podem escrever e enviar revisões favoráveis para seus próprios artigos e, desta forma, aumenta as chances de publicação do estudo.
A defesa do cientista
Em uma carta aberta, de 28 páginas, divulgada à comunidade científica, Malafaia negou ter escrito as revisões falsas. “É inconcebível pensar que quaisquer conquistas que eu tenha alcançado foram construídas com base na falsificação de e-mails ou na emissão de opiniões inautênticas”, disse.
Ele alega que hackers podem ter tido acesso aos seus dados profissionais e pessoais, embora não esteja claro quem possa ter sido. “Eu considerei muitas possibilidades, e essas perguntas me assombram: Alguém poderia estar deliberadamente tentando prejudicar minha reputação e sabotar minha carreira científica. (...) Isso poderia ser uma tentativa de desestabilizar o próprio sistema editorial explorando vulnerabilidades para minar o processo de revisão por pares?”
A carta completa foi divulgada no site do cientista brasileiro. Você pode conferir aqui.