O Censo Escolar 2024 apontou avanços na educação, como o aumento de matrículas no ensino médio integral e profissional, mas destacou disparidades na aprendizagem e infraestrutura entre regiões do Brasil.
Houve avanços na educação no Brasil, mas ainda há desafios, como a disparidade de aprendizagem entre os Estados. Essa é a avaliação da administradora pública Lia Glaz, diretora-presidente da Fundação Telefônica Vivo e colunista de Terra Educar, que analisou os dados do Censo Escolar 2024.
Os dados, divulgados nesta quarta-feira, 9, pelo Ministério da Educação (MEC), mostraram que houve um aumento de 12% nas matrículas do ensino médio integral nas escolas públicas em comparação com 2023 — um crescimento de 163 mil novos estudantes nessa modalidade, que oferece uma jornada ampliada de até nove horas e meia por dia. Apesar da tendência positiva, os Estados apresentam resultados distintos.
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São Paulo — o mais populoso do País — apresentou recuo de 2%. O mesmo movimento de queda foi observado em Estados como Mato Grosso do Sul (1%), Rondônia (10%) e Roraima (15%). Na contramão, os Estados do Nordeste continuam liderando a expansão do ensino integral. O Ceará, por exemplo, registrou um dos maiores aumentos de matrículas na modalidade.
O ensino profissional e tecnológico no ensino médio também registrou aumento em 2024. Ao todo, foram efetuadas 2,57 milhões de matrículas, um crescimento de 2,4 vezes em relação ao registrado em 2023.
O destaque é o Piauí, com a proporção de 52,4% da matrícula no ensino médio regular nos chamados programas vocacionais. Na contramão, Estados do Sul, como Santa Catarina e Rio Grande do Sul marcaram 14,3% e 14,2%, respectivamente. No Sudeste, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro aparecem com 14,8%, 11,8% e 10,4%, respectivamente.
"É positivo que o Brasil tenha um avanço no aumento de matrículas do ensino médio integral, bem como nas matrículas em EPT [Educação Profissional e Tecnológica]. Apesar disso, há ressalvas”, afirma Lia. “Quando olhamos para a disponibilidade de internet para ensino e aprendizagem, ainda há uma diferença enorme entre Estados do Norte e Nordeste com relação à Sul e Sudeste."
Segundo Lia, os aumentos observados de maneira geral são reflexo de uma política voltada para a ampliação da oferta de vagas nas escolas, que vem sendo aplicada já há muitos anos, sobretudo nos Estados do Nordeste. Ela ressalta, no entanto, que ainda há uma preocupação grande com a aprendizagem dos alunos.
Em 2023, no Brasil, 56% das crianças no 2º ano do ensino fundamental estavam alfabetizadas, de acordo com o Indicador Criança Alfabetizada, que revela o percentual de estudantes matriculados no 2º ano do ensino fundamental com o padrão nacional de alfabetização. As disparidades entre Estados também são evidentes nesse quesito.
Enquanto, no Ceará, o percentual de crianças alfabetizadas nessa etapa de ensino era de 85% em 2023, alguns Estados registraram menos da metade dos alunos alfabetizados nesse mesmo ano. Amapá (42%), Tocantins (44%) e Alagoas (44%) são alguns exemplos. Já São Paulo aparece com 52%, o que corresponde um pouco mais da metade.
"É preciso olhar para a composição de matrículas e analisar se estamos realmente conseguindo garantir uma educação de qualidade e boa infraestrutura para todos os alunos", diz Lia. "Talvez esse seja o maior desafio da educação no Brasil atualmente."
