Com apenas 2,7 mil habitantes, Águas de São Pedro é o município brasileiro com o melhor indicador de educação, segundo dados do Índice de Desenvolvimento Humano dos Municípios (IDHM) divulgado nesta segunda-feira pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Enquanto a média do Brasil em educação é de 0,637, a cidade do interior paulista alcançou um patamar considerado "muito alto", com 0,825.
Para a diretora da única escola municipal da cidade, que atende cerca de 800 alunos do ensino fundamental, a receita para o sucesso é simples: não deixar que nenhum aluno fique fora da escola. Quando alguém começa a faltar repetidas vezes as aulas, a escola liga para a família e vai até a casa saber o que está acontecendo.
"A evasão é zero porque temos uma relação bem próxima com as famílias. Se um aluno falta, vamos saber o que aconteceu. Vamos na casa, se for necessário, pedimos apoio do Conselho Tutelar, mas ninguém fica fora da aula", disse a entusiasmada diretora da Escola Maria Luiza Fornasier Franzin, Dalva Aparecida da Silva, que leciona na rede pública há 33 anos.
Na cidade, que ainda conta com uma escola estadual de ensino médio, os alunos do primeiro ciclo (até o quinto ano) têm oficinas de música, artes, ginástica e informática no contraturno. As crianças cujos pais ou responsáveis trabalham o dia inteiro, podem permanecem na escola no turno oposto, recebendo alimentação e reforço escolar. O turno integral ainda não foi implantado para todos os estudantes porque o espaço físico precisa ser ampliado.
"Estamos na dependência de obras de ampliação da escola. Mas a nossa meta é garantir turno integral para todos os estudantes", afirma o secretário municipal da Educação, Silvio Corrente. Segundo ele, não há milagre em fazer educação de qualidade: basta capacitar os professores e envolver a comunidade. Em Águas de São Pedro todos os docentes possuem cursos superior. O salário é pouco acima do piso nacional: R$ 1.227,00 inicial para uma jornada de 30 horas semanais.
Para a diretora, o salário não é "uma maravilha", mas ela diz que as condições de trabalho para os professores na cidade compensam. "Os pais são muito presentes na escola e isso ajuda muito o nosso trabalho", reforça, ao afirmar que a participação da comunidade ajuda a evitar a indisciplina. "No ano passado fizemos até uma oficina de culinária, com a ajuda dos pais. Eles ensinavam as crianças a cozinhar, foi bem legal".
Robótica em sala de aula
A partir da próxima semana, os alunos do 6º ao 9º ano da rede municipal vão contar com aulas de robótica no contraturno. O projeto da prefeitura, segundo a diretora, é aguardado por ansiedade pelos alunos. Na educação infantil e no primeiro ciclo do fundamental, os alunos já utilizam ferramentas do projeto com brinquedos Lego de maneira lúdica nas aulas. Agora, os demais estudantes vão aprender a criar robôs como forma de complementar o aprendizado.
"O município adquiriu o material e os professores foram capacitados. É uma iniciativa que ajuda muito a incentivar o interesse pela escola", afirma Silvio Corrente. O secretário ainda diz que na cidade, os alunos são acompanhados por duas psicólogas, duas fonoaudiólogas e uma psicopedagoga. Quem está com dificuldades de aprendizagem, passa por avaliações em separado para superar as carências e garantir que ninguém seja reprovado.
Educação em Águas de São Pedro, segundo o IDHM
- 100% dos alunos de 5 e 6 frequentam a escola;
- 96,67% dos estudantes entre 11 e 13 estão nas séries finais do ensino fundamental;
- 74,17% dos jovens entre 15 e 17 anos possuem o ensino fundamental completo;
- 74,64% dos jovens entre 18 e 20 anos têm o ensino médio completo;
- 75,07% dos jovens com 18 anos ou mais com fundamental completo.
Cinco melhores cidades em educação
Posição | Município | IDHM |
1º | Águas de São Pedro (SP) | 0,825 |
2º | São Caetano do Sul (SP) | 0,811 |
3º | Santos (SP) | 0,807 |
4º | Vitória (ES) | 0,805 |
5º | Florianópolis (SC) | 0,800 |
Evolução da educação no Brasil
Apesar das dificuldades, o indicador de educação do IDHM foi o que mais avançou neste últimos vinte anos. Segundo o Pnud, isso se deve, principalmente, ao aumento do fluxo escolar de crianças e jovens - que cresceu 156% nesse período. De 1991 a 2010 a população adulta com ensino fundamental concluído passou de 30,1% para 54,9%. Crianças de 5 a 6 anos frequentando a escola passou de 37,3% para 91,1%. Jovens de 11 a 13 anos nos anos finais do fundamental passou de 36,8% para 84,9%. Jovens de 15 a 17 anos com fundamental completo passou de 20% para 57,2%.
No entanto, 40% dos jovens nesta faixa ainda não têm fundamental completo no Brasil. O percentual de jovens de 18 a 20 anos com ensino médio completo passou de 13 para 41%, um grande avanço, mas que evidencia que mais de metade deles ainda não concluíram a educação básica ou estão fora da escola.
O IDHM é o resultado da análise de mais de 180 indicadores socioeconômicos dos censos do IBGE de 1991, 2000 e 2010. O estudo é dividido em três dimensões do desenvolvimento humano: a oportunidade de viver uma vida longa e saudável (longevidade), ter acesso a conhecimento (educação) e ter um padrão de vida que garanta as necessidades básicas (renda). O índice varia de 0 a 1, sendo que quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento humano.