De ensino de inglês a partir dos seis meses de idade a aulas de ioga com acompanhamento dos pais via webcam, não faltam estímulos para o desenvolvimento de bebês e crianças desde seus primeiros passos. Mas tudo isso ainda é exclusividade de famílias que podem gastar até R$ 6 mil por mês nessas "escolinhas de luxo".
Apesar da primeira infância (até os seis anos) ser o período em que o ser humano está mais propenso a desenvolver diferentes habilidades, especialistas são cautelosos na hora de incentivar atividades tão intensas. A doutora em Psicologia da Educação Neide Barbosa Saisi compreende a vontade dos pais de investir nesse tipo de ensino, mas chama a atenção para se manter o tom lúdico das tarefas voltadas a crianças. "Com a sociedade competitiva que vivemos, muitos pais querem acelerar o desenvolvimento. É importante ter cuidado para não estressar o bebê", explica.
Ela acredita no ensino da língua na primeira infância – até seis anos –, porém, incorporada em brincadeiras, em atividades, nunca em estrutura de sala de aula. "Tem que ser natural". Neidi destaca que é possível fazer muito com materiais simples. "Fazer barulho com duas tampas de panela, cantar, dançar, bater palmas são atividades que ensinam diferentes linguagens e ajudam a descobrir movimentos", exemplifica. Ou seja, alguns "luxos" servem mais para atrair os pais do que propriamente a criança.
Já o vice-presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo (Sieeesp), José Augusto Mattos Lourenço, não vê exagero. Ele acredita que, se os pais podem pagar, é natural que busquem o melhor serviço disponível. "É importante visitar a escola, conversar com coordenadores, diretores e outros pais. O mais essencial é que a criança goste do ambiente, se sinta bem", aconselha.
Segundo Lourenço, apesar dos altos preços de mensalidade, muitas vezes matricular os filhos num berçário sai mais barato do que contratar uma babá, levando em conta que as escolas também cuidam da alimentação e qualquer outro material necessário. O pedagogo visitou escolas em diferentes países e percebeu que existe uma tendência de ensino e treinamento em atividades diversas. Esse tipo de ensino está chegando ao Brasil, diz. "Os pais querem as crianças preparadas para a vida, em todos os sentidos. Seja nos estudos em geral, mas também em questões específicas como a culinária", explica.
Na cidade de São Paulo, existem 3.500 escolas de educação infantil, passando de um milhão de alunos. O vice-presidente do Sieeesp observa um crescimento de instituições desse tipo e atribui o fenômeno ao aumento do número de pais no mercado de trabalho. Não há uma estimativa do número de escolas de ensino infantil e berçários que estimulam diferentes habilidades desde muito cedo. Mas entre elas, é possível citar as que apostam em ensino bilíngue entre outras atividades diferenciadas. É o caso da escola fundada pela médica Christiane Sales há nove anos na capital paulista, que oferece a introdução da língua inglesa a partir dos seis meses, com músicas, DVDs e professores, a partir dos dois anos, toda a comunicação e alfabetização é em inglês. "Especialmente com incentivo de casa, percebemos uma compreensão e verbalização muito rápida", afirma a diretora pedagógica Maria Rita Kannebly.
Christiane fundou a escola após ter vivido cerca de uma década no exterior. Mãe de crianças bilíngues, ela decidiu criar uma escola que atendesse a essa demanda. Assim, sua instituição também oferece aulas de ioga, música, artes, teatro, jardinagem, educação física, xadrez, inclusas no currículo. Na equipe de especialistas, que conta com nutricionistas entre outros profissionais, todos têm formação superior. Para um turno de seis horas no berçário, a mensalidade é de R$ 1.747,80; o turno integral (12 horas) sai por R$ 2.447,40. A escola tem fila de espera para 2014 desde outubro.
"Berçário ideal"
A coordenadora do setor de Estudos de Educação Infantil da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Telma Vitória, afirma que a qualificação dos profissionais que lidam com as crianças é essencial. Ela acredita que, muitas vezes, o senso comum não está de acordo com o melhor para os bebês. "Sempre se diz que não se pode dar colo para bebê que chora, porque ele fica manhoso. Pelo contrário, é importante ajudar, dar atenção para entender o que se passa".
Além da qualificação dos profissionais, a doutora em Educação aponta algumas características que formariam um berçário ideal. Para ela, o ambiente deve ser seguro, arejado, com iluminação natural e brinquedos de diferentes formatos e tamanho – nunca menores que a mão de um adulto. A escola deve oferecer uma sala de repouso, de higienização, de refeição e um solário. Deve haver no máximo cinco bebês para cada professor; e sempre permitir e encorajar o envolvimento dos pais. "Já fui diretora de creche e sei que, quando planejamos atividades, a participação dos pais é muito maior. Eles gostam de se envolver", relata.