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Com medo, pais resistem sobre mandar filhos para a escola

Governo de São Paulo afirmou que o planejamento de retorno às escolas em setembro está mantido se as condições de saúde permitirem

18 jul 2020 - 05h11
(atualizado às 08h25)

Em meio a incertezas sobre o plano de retomada das aulas presenciais no Estado de São Paulo e o risco de contaminação de crianças, parte dos pais de estudantes já decidiu: não vai mandar seus filhos de volta para a escola. Nesta sexta-feira, 17, a gestão João Doria (PSDB) afirmou que o planejamento de volta às aulas em setembro está mantido se as condições de saúde permitirem.

Vista de uma sala de aula em escola da cidade de Fortaleza, no Ceará
Vista de uma sala de aula em escola da cidade de Fortaleza, no Ceará
Foto: Daniel Galber / Estadão Conteúdo

O plano prevê que as aulas sejam retomadas em 8 de setembro, de forma gradual, caso o Estado esteja na fase amarela (em que há menor taxa de infecção e ocupação de leitos) por 28 dias consecutivos. Na quinta-feira, 16, o secretário executivo do Centro de Contingência, João Gabbardo, afirmou que o plano poderia ser reavaliado, após ser questionado sobre projeções feitas pelo professor Eduardo Massad, da Fundação Getulio Vargas (FGV). Massad indicou que a volta às aulas poderia provocar 17 mil mortes de crianças. Ao Estadão, mais tarde, afirmou que houve um mal-entendido sobre a projeção.

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"Primeiro, é importante falar que os protocolos da educação estão mantidos. Muito mais importante que a data, é termos as condições obrigatórias sendo cumpridas - ou seja, número de casos decrescentes, Estado por 28 dias no amarelo", disse o secretário da Educação, Rossieli Soares. "As datas nós vamos medindo. No dia 24 de julho teremos outro boletim, no dia 4 de agosto teremos outro, e, se não entrarmos dentro das condições, não será necessariamente naquela data. Tem muito estudo saindo neste momento, mundo afora, e nós estamos em constante debate - seja para os estudos mais duros, mais brandos."

Mariana Pazitto, de 29 anos, mãe de um menino de 2, acompanha as pesquisas sobre os riscos de volta às aulas e mantém o plano que já tinha de não mandar o filho para a escola neste ano. O menino estudava em uma escola pública de São Paulo, fechada após o decreto de quarentena. "Ele tem convulsão febril, não pode ter febre. O meu plano é que ele não vá esse ano. Como está nesse faixa dos dois anos, não tem a obrigação de estar no colégio e não vejo necessidade, é um risco desnecessário."

Estudante de Pedagogia, ela reconhece a importância da escola, principalmente para a socialização das crianças nessa faixa etária, mas teme pela saúde de parentes que tenham contato com o menino caso ele volte a frequentar o ambiente escolar. "Temo por ele e pela minha família, moro com minha mãe e ela é do grupo de risco (a mãe tem hipertensão). Como as crianças são assintomáticas, eu não quero arriscar."

O filho, Pietro, faz com a ajuda da mãe as atividades que as professoras mandam pelo WhatsApp. Como Mariana não está trabalhando - o estágio que fazia em uma escola particular foi suspenso - ela considera possível manter o plano de permanecer em casa com o filho.

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Mãe de dois meninos, João e Pedro, de 2 e 4 anos, respectivamente, a psicóloga Maria Cecília Cinque, de 33 anos, já decidiu: não vai mandar o mais novo para a escola neste ano. O pequeno tem diabete. "Ele vai voltar só no ano que vem ou assim que tiver a vacina. Ele não é do grupo de risco porque a criança diabética não faz parte, mas não vamos pagar para ver."

A dúvida agora é em relação ao mais velho. "Nossa decisão (de não mandar o mais novo) só se mantém coerente se a gente cuidar do retorno do Pedro porque, com ele voltando, há um risco de transmissão." A família está passando a quarentena no interior de São Paulo e, caso o mais velho volte a frequentar a escola, teria de repensar toda a logística e voltar para a capital. A mãe já negociou com o colégio para que o mais velho continue acompanhando as aulas remotas, pelo menos por um tempo, em um eventual retorno.

A desistência de frequentar as aulas é mais comum na educação infantil já que a escola não é obrigatória para crianças com menos de 4 anos de idade, mas pais de alunos do ensino fundamental também avaliam com cuidado a possibilidade de retorno. "A gente vê o platô se alongando por muito tempo, acho prematuro colocar uma data (para o retorno presencial). Se estiver como está hoje, não mandaria. É um risco desnecessário", diz o consultor John Wendell, de 47 anos, pai de um menino de 8.

O filho estuda em um colégio particular de São Paulo e se adaptou bem ao modelo de aulas online, segundo o pai. Wendell teme que, em um eventual retorno, seja difícil seguir todos os protocolos de higiene. "Na idade do meu filho, a criança não tem maturidade ainda para álcool em gel, máscara", diz o pai, que vê ainda risco de que os números de infectados estejam subestimados.

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Mesmo após a reabertura na capital, Wendell mantém o trabalho em home office - e reconhece que outros pais não têm essa chance. Escolas de educação infantil ouvidas pelo Estadão relatam que parte das famílias aguarda a retomada das aulas para que os filhos tenham onde ficar. Com a reabertura da economia em curso na cidade de São Paulo, muitos voltaram ao trabalho e acabaram contratando babás e cuidadoras - ou recorrendo aos avós - já que as escolas não estão abertas.

O advogado Jairas Rosa, de 36 anos, aguarda ansioso o retorno às atividades presenciais na escola onde o filho Arthur, de 4 anos, está matriculado. Na semana que vem, a mulher dele, que também é advogada, terá de voltar a trabalhar de modo presencial. O casal não tem com quem deixar o menino e já prevê contar com a ajuda dos avós, idosos, ou levar Arthur ao escritório onde Jairas trabalha. "Agora que ela (a mulher) vai ter de trabalhar, é necessário ter a escola, faz muita falta."

Diretor da Associação Brasileira de Escolas Particulares (Abepar), Arthur Fonseca Filho diz que pesquisas sobre impactos da volta às aulas na contaminação pela covid-19 têm de ser avaliadas com cuidado e que deve haver cautela também para que a população não fique atemorizada. "Temos de reconhecer que o mundo não pode ficar sem escola", diz. Em parceria com o Hospital Albert Einstein, a Abepar deve fazer um mapeamento da infraestrutura física das escolas e dos modelos de transportes utilizados pelos alunos e colaboradores. O acordo com o Einstein inclui também a criação de padrões médicos para o atendimento a casos suspeitos.

No fim de junho, a Academia Americana de Pediatria, apontou a importância de que os alunos estejam fisicamente presentes na escola. "A importância do aprendizado presencial está bem documentada e já há evidências dos impactos negativos nas crianças por causa do fechamento das escolas." O documento indica que o SARS-CoV-2 parece se comportar de maneira diferente em crianças e adolescentes do que outros vírus respiratórios comuns. Aponta que ainda há muitas dúvidas sobre a doença, mas que evidências indicam que crianças e adolescentes têm menos risco de um quadro grave decorrente da covid-19.

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