Confira histórias de brasileiros que mostram o poder de transformação da educação

Jovens estudantes têm obtido reconhecimento a partir de projetos desenvolvidos nas escolas

23 jun 2023 - 00h12
(atualizado às 07h42)
Pesquisa educação
Pesquisa educação
Foto: Foto:Istock

Quando ingressaram no ensino médio no Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS - Campus Osório), em 2019, Camily Pereira e Laura Nedel Drebes não faziam a menor ideia das conquistas que viriam pela frente. Há exatamente um ano, as estudantes de 19 e 20 anos, respectivamente, receberam a notícia de que o projeto de pesquisa de absorventes higiênicos de baixo custo e ambientalmente sustentáveis desenvolvido por elas na escola havia sido o único finalista do Brasil no Stockholm Junior Water Prize (Prêmio Jovem da Água de Estocolmo).

Elas viajaram para a capital sueca e foram as vencedoras da categoria de Excelência, representando o Brasil no evento. A iniciativa global busca reconhecer e apoiar jovens pesquisadores que se destacam na busca por soluções inovadoras e sustentáveis relacionadas aos recursos hídricos.

Publicidade

O projeto "SustainPads: Absorventes sustentáveis e acessíveis a partir de subprodutos industriais" rendeu diversas outras conquistas. Agora, Camily está se preparando para o início das aulas na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e Laura vai passar uma temporada pesquisando no Instituto Weizmann de Ciências, em Israel. "Sou muito grata por ter tido acesso a tantas oportunidades ainda no ensino médio. A pesquisa é uma paixão que começou na escola e quero levar isso para a universidade", conta Camily.

Quem acompanhou de perto a jornada de pesquisa das alunas no IFRS foi Flávia Twardowski, professora e diretora-geral do campus do município de Osório. Além de ter orientado o projeto dos absorventes sustentáveis, a pesquisadora multipremiada foi uma verdadeira inspiração para as jovens - e segue instigando outros estudantes na escola, principalmente as meninas, para que entrem no universo da pesquisa científica desde cedo.

"Quanto antes a gente começa a estimular os alunos a participar de projetos científicos e enxergarem a ciência na prática, e não só a teoria da sala de aula, mais rápidos e melhores serão os nossos resultados", diz a engenheira. Para ela, o papel do professor é mostrar aos estudantes as potencialidades e oportunidades que eles têm. "Não basta ter habilidades se você não acredita nelas", diz.

Em março, ela foi contemplada com o prêmio Mulheres Brasileiras que Fazem a Diferença de 2023, por conta desse trabalho. Nos últimos 13 anos, Flávia transformou a trajetória de várias meninas que tinham interesse pela ciência já na escola, mas não acreditavam no próprio potencial, ou nem mesmo sabiam por onde começar.

Publicidade

Foi assim com a Laura. Quando conheceu o trabalho de alunas da professora do IFRS, ela ficou surpresa, porque pensava que pesquisa científica só podia ser feita no ensino superior. Até que ela entrou na escola, já com vontade de trabalhar com a Flávia, e mergulhou de cabeça no mundo da ciência.

"Vamos levar para o resto da vida as portas que educação e a ciência nos abriram. Nos tornamos exemplos para que outras pessoas sigam seus sonhos, perseverantes, e para que acreditem no poder da educação básica", celebra Laura, que também pretende seguir na área quando ingressar na universidade. Camily já tem planos de cursar engenharia em Stanford - ela sempre gostou de exatas e participou várias vezes da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP).

Outro fã de matemática e medalhista da OBMEP é o Leonardo Baron Ziembowicz Alegransi. Com apenas 13 anos, o aluno do ensino fundamental já ganhou duas medalhas - bronze, em 2021, e prata, em 2022. Agora, o objetivo é levar o ouro.

"Estudo umas duas horas por dia, inclusive sábado, só descanso nas quartas-feiras", relata Leo, que está seguro de que passou para a segunda etapa do exame de 2023, que ocorre em outubro. Atualmente, ele está no 8º ano, na Escola Municipal de Ensino Fundamental Governador Leonel de Moura Brizola, em Canoas (RS).

Publicidade

O gaúcho concorreu em 2021 com quase 600 mil alunos dos 6º e 7º anos do ensino fundamental de escolas públicas e privadas de todo o País. Em 2022, foram quase 900 mil jovens na disputa, das mesmas séries. Ele foi um dos 144 estudantes do Rio Grande do Sul a levar medalha de prata. Agora que Leo está no nível 2, ele compete também com alunos do 9º ano, ou seja, crianças mais velhas, que aprenderam conteúdos que ele ainda não teve na escola. "Agora ficou um pouco mais difícil, mas decidi fazer", conta ele.

Para Léa Fabiana Baron Ziembowicz Alegransi, a mãe, independentemente do resultado, o Leo já é motivo de orgulho. "Ele sempre gostou de números, desde pequeno, é diversão para ele. Ele nunca foi ligado em games e celular. Para ver ele feliz, é só dar um desafio de matemática. Ele sempre teve carinho por isso", lembra.

Segundo Leo, esse é o grande segredo para se dar bem nos exames - praticar, praticar, praticar. "Para mim, só a teoria nunca funcionou. Você tem que pegar exercícios de provas anteriores para fazer e treinar", explica. Além do apoio da família, a escola também sempre esteve do lado do aluno, dando suporte e fornecendo materiais complementares para estudar.

Nem sempre os alunos têm toda essa facilidade com matemática. Para muitos, se sair bem na disciplina é um grande desafio. Por isso, é importante ter exemplos como o do Leo, de acordo com Mariana Braun Aguiar, professora de matemática dos anos finais do ensino fundamental no colégio de Canoas. "Temos feito um grande trabalho de divulgação e incentivo para que eles participem da OBMEP e vejam os resultados positivos dos colegas. E está dando certo, eles ficam mais motivados", afirma.

Publicidade

A professora conta que está se criando uma cultura entre os estudantes, que ficam na expectativa da competição. "A gente vê eles fazendo festa quando sai o nome classificados", brinca. A EMEF também está aplicando mais exercícios e questões voltadas para o raciocínio lógico, diferentemente do que normalmente é feito nas avaliações curriculares, de modo a prepará-los melhor para as provas da OBMEP. Leo quer ser programador, então, isso acaba sendo muito positivo para o seu aprendizado.

Linguagem de programação, algoritmos, lógica e pensamento computacional, entre outros, são tópicos que ainda estão sendo incorporados aos currículos dos colégios brasileiros. Em outubro do ano passado, o MEC aprovou um parecer que estabelece normas sobre o ensino de computação na educação básica.

Elaborada pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), a normatização atende ao artigo 22 da Resolução CNE nº 2, de 22 de dezembro de 2017, que instituiu e orientou a implantação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Ou seja, trata-se de um complemento à BNCC, instrumento fundamental para a construção dos currículos escolares da educação básica.

A medida foi considerada por muitos especialistas como um avanço. O documento descreve que, no cotidiano contemporâneo, os dispositivos de computação operam em praticamente todos os serviços essenciais, dos utensílios do lar às atividades laborais, na saúde, na agricultura, nos automóveis e na crescente automação, trazendo enormes desafios sociais e econômicos.

Publicidade

O documento divide o conteúdo a ser ensinado em três categorias, com tópicos estruturados para cada etapa de ensino: pensamento computacional, mundo digital e cultura digital. Diversas entidades importantes participaram do desenvolvimento do material, como a Sociedade Brasileira de Computação, o Fórum de Licenciatura em Computação (ForLic) e o Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB).

Também foram convidados representantes de instituições de ensino de todo o País. "Ter esse documento é essencial. Precisamos ter em mente que a BNCC não é um currículo pronto, é uma base. Antes, não tínhamos parâmetros para orientar o ensino de computação nas escolas", afirma Marcelo Milani, Coordenador de Tecnologias Educacionais do Colégio Humboldt, de São Paulo (SP).

Segundo o educador, que colaborou com a construção das novas normas, as escolas não precisam necessariamente instituir uma disciplina de computação. O ensino pode ser mais transversal, contemplando o conteúdo necessário em diversas matérias, e isso pode ser muito positivo. "No Humboldt, estamos revendo nosso currículo interno do ensino de tecnologias e mídias digitais, e todas as nossas práticas que envolvem tecnologia. Estamos cruzando essas informações com o documento e construindo um ensino mais adequado à BNCC", explica.

Fique por dentro de vestibulares, Enem e dicas para a sua carreira!
Ativar notificações