Tecnologia para o bem. Esse é o princípio que guia a SoulCode, uma startup de educação focada em capacitar pessoas com deficiência para oportunidades de emprego na área de tecnologia.
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O discurso inclusivo é visto na prática, segundo Alexandre Haddade, jovem apaixonado por tecnologia e aluno da escola. Em entrevista ao Terra, ele conta que se interessa por tecnologia e biologia desde criança, e o curso foi uma oportunidade de desenvolver uma forma de contribuir para a preservação do meio ambiente
"A gente aprendeu muito sobre nuvem, sobre inteligência artificial, sobre programação e até soft skills", conta. "Mesmo online a gente interagiu bastante lá com os grupos, depois que a gente se encontrou presencialmente foi muito legal mesmo".
Diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA), Alexandre considera como importantes as atividades práticas e coletivas, que ajudaram também no desenvolvimento de habilidades interpessoais.
"Foi complicado por eu ter o TEA. Mesmo sendo grau leve, eu tive dificuldades pra entrar na escola e socializar", relembra. "Eu me senti mais motivado, me senti mais capaz de fazer as coisas. O curso me mostrou que as pequenas ações trazem grandes mudanças, e, mesmo que devagar, elas vão acrescentar em algo. E isso prova que nossas lutas pelos nossos direitos estão valendo a pena".
Bruna Gago, uma mulher trans, autista e com múltiplas deficiências, também se reconhece na tecnologia, após a formação na startup de impacto social. Ela participou do bootcamp da SoulCode, onde foi introduzida à área de tecnologia, mercado de trabalho e habilidades que precisaria desenvolver.
"Sempre tive muita dificuldade na inserção no mercado de trabalho por conta da minha gagueira", relata a youtuber, cuja trajetória é marcada por desafios sociais e profissionais devido à sua condição.
Segundo conta ao Terra, o curso de tecnologia veio por acaso: através de um coletivo do qual faz parte, que luta pela inclusão de pessoas gagas. Ela se candidatou e foi aprovada.
"Nunca me senti oprimida de alguma forma em minha identidade de gênero, em minhas identidades marginalizadas, né, relacionadas à deficiência", conta. "Eu sou uma pessoa que estuda, eu sou uma pessoa inteligente, e o curso reforça que podemos estar em todos os espaços".
A experiência no Bootcamp foi transformadora para Bruna, que alcançou média de 9,5 no curso. Ela destaca a importância de iniciativas como essa para a inclusão de pessoas trans e travestis no mercado de trabalho, ressaltando a interseccionalidade presente. "Falando um pouco mais especificamente do recorte das pessoas trans e travestis, 90% de nós está trabalhando com a prostituição", comenta, evidenciando a urgência de programas inclusivos e acessíveis.
Sobre a SoulCode
Ao Terra, Carmela Borst, CEO da SoulCode, explica que a empresa se concentra em promover a inclusão digital e social, com cursos intensivos de dois a três meses, em formato de bootcamp. Estes cursos têm carga horária de até 400 horas, e são exclusivos para capacitar pessoas "não óbvias", ou seja, aquelas que historicamente têm sido excluídas do mercado de tecnologia, como pessoas com deficiências.
Ela fundou a empresa junto com Fabrício Cardoso e Silvio Genesini, todos com vasta experiência na área de tecnologia. Segundo Carmela, a edtech também trabalha em parceria com empresas, para garantir que as vagas oferecidas aos seus formandos sejam de qualidade e proporcionem oportunidades reais de crescimento.
Empresas como a Microsoft já se uniram à iniciativa, criando turmas fechadas para formação específica de profissionais com deficiência. Até agora, a edtech já capacitou 600 pessoas com deficiência.
"Nós precisamos de exemplos e a Microsoft tem sido pioneira em programas específicos para pessoas com deficiência", observa Carmela.
Além dos cursos técnicos, a SoulCode oferece mentorias sociais, onde executivos voluntários ajudam no desenvolvimento de soft skills, como autoestima e senso de pertencimento, essenciais para o sucesso no ambiente corporativo.
"Não existe inovação sem diversidade. As empresas só têm a ganhar trazendo pessoas não óbvias para dentro das equipes", afirma.