Ensinamentos que muitos adultos ainda não aprenderam já fazem parte do dia a dia de crianças em escolinhas inovadoras. Bebês recebem massagem, fazem yoga, aprendem inglês e até a administrar suas futuras finanças. Para que não sejam simplesmente atividades de gente grande oferecidas para os pequenos, é preciso estar alerta.
A pedagoga especialista em educação infantil e psicopedagogia Denise Tinoco afirma que tais aulas devem sempre ter um componente lúdico e não podem sobrecarregar a criança. Uma atividade de educação financeira, por exemplo, pode ser positiva. “As crianças pequenas precisam saber que desenhos e brinquedos têm um tempo, uma hora e um preço”. A especialista ainda destaca a importância dos pequenos estarem em contato com a possibilidade de poupar, de ponderação e até de negação. “Crianças de três, quatro anos já têm uma linguagem bem desenvolvida, estão conscientes que podem lidar com o outro e com a negativa de ganhar algo. Os pais, além da escola, também precisam ter essa consciência de que a criança já pode aprender”, diz.
Atividades como yoga, segundo a especialista, devem ser oferecidas em forma de brincadeira. Assim podem ajudar a criança a criar consciência corporal. "Isso se traduz em saber coordenar todos os movimentos que ela vai precisar para andar e falar, por exemplo, além da tolerância consigo mesma. Existem posições de bichos específicos na yoga, como o gatinho agachado ou o cachorro olhando para o lado, falas que já são lúdicas por si só e podem ser ensinadas”, explica.
Já sobre o ensino bilíngue, Denise é mais cautelosa. “O bilíngue é mais uma resposta da escola a demanda capitalista em que vivemos, onde todos precisam abraçar o mundo. Sem querer, se vai imprimindo, na criança, pequenas responsabilidades para que ela possa alcançar o sucesso no futuro”. Ela recomenda que os pais estejam atentos. "Algumas crianças vão ser sobrecarregadas, outras não. Não é porque está em uma escola com o método bilíngue, que a criança vai se adaptar. É preciso analisar caso a caso”.
Conheça algumas dessas atividades:
Educação financeira e inteligência emocional
Se você tivesse aprendido o valor do dinheiro e como lidar com suas finanças desde cedo, acha que teria evitado aquela dívida depois de grande? Na Escola Infantil Sol da Vila, de São Paulo, acredita-se que sim. As crianças contam com aulas de educação financeira, além de inteligência emocional, desde os três anos de idade. A ideia, segundo o diretor, Celso Fernando Rimoli Ferro, é trabalhar na criança a noção correta de como adquirir seus sonhos. “Tudo o que fazemos do zero aos seis anos, em questão neuronal, vai refletir durante toda a nossa vida. Começamos diagnosticando o sonho dos alunos e depois, através de historinhas em um material especial, planejamos como a criança realizará o desejo”, explica.
O material utilizado é de acordo com a idade das crianças e ensina os pequenos a abrir mão de algumas coisas para conseguir outras, a ter planejamento e a não ser impulsivo. Os alunos trabalham com sonhos coletivos e individuais. No primeiro caso, por exemplo, a turma decidiu fazer um passeio no shopping e ir ao cinema. Desde o início do semestre, fizeram um planejamento, juntaram seu próprio dinheiro e cumpriram seu objetivo. “O mais legal é o resultado. As mães nos contam que eles ficam preocupados com as economias de maneira consciente”, conta Ferro.
No caso da inteligência emocional, é importante começar cedo, segundo o método utilizado pela Sol da Vila. Também é importante incluir os pais, para que os alunos recebam o mesmo conhecimento em casa. Por meio de histórias e figuras, mas principalmente por meio da ação e reação do dia a dia, a inteligência emocional tenta fazer a criança refletir. Ferro exemplifica. “Em uma escola tradicional, por exemplo, se a criança bater no amiguinho, alguém grita para ela parar, diz que é feio e que não pode. A criança começa a ter uma ação reativa quando leva bronca, não escuta o que você fala. Uma ação usando a inteligência emocional é sair do automatismo da bronca e chamar a criança para o raciocíonio, fazendo ela pensar no que fez. Perguntamos o motivo de ela ter feito aquilo, se ela sabe o que o amiguinho sentiu.”
Ferro admite que, muitas vezes, essas aulas dadas a crianças tão pequenas assustam um pouco os pais, por se tratarem de um assunto aparentemente pesado, mas garante que só trazem benefícios. “É a maneira de pensar. Aqui na escola essas matérias são tratadas como algo natural. No Brasil, não temos essa cultura. Da mesma forma que se aprende a comer saudavelmente, se aprende educação financeira. As pessoas crescem ouvindo que dinheiro é ruim, mas o problema está no uso que se dá para ele. Precisamos tirar esse peso do dinheiro desde pequenos”, conclui.
Yoga
Os bebês da Escola Pedra da Gávea, no Rio de Janeiro, começam a vida no estilo “zen”. Desde os oito meses de idade, todos os alunos participam das aulas de yoga, após as aulas regulares. Segundo a diretora da escola, Cristiane Edelman, com os bebês é praticada a Shantala, um tipo de massagem milenar originária da Índia. Lá, a prática faz parte da rotina das mamães também. Com os mais velhos, a partir de um ano, a diretora conta que já são feitos asanas (como são chamadas as diferentes posições utilizadas pela yoga) relacionadas à postura.
Entre os benefícios da yoga na infância estão o relaxamento, que resulta em um sono de melhor qualidade; a melhora na digestão e o alívio das dores de cólicas; a redução da inquietação, ajudando no desenvolvimento neuromuscular; a construção da consciência corporal e espacial; o aumento da autoconfiança e a ampliação da concentração do bebê. “Nosso objetivo é desenvolver o autoconhecimento desde a primeira infância. Assim, promovemos um ambiente equilibrado, tanto para os colaboradores quanto para os alunos”, afirma Cristiane.
Ensino bilíngue
Na Escola do Futuro, de São Paulo, as crianças têm contato com a língua inglesa desde antes da alfabetização. Os bebês têm o ensino bilíngue, por meio da imersão. A coordenadora da educação infantil da escola, Priscila de Moraes, explica que toda a rotina do ensino infantil acontece no segundo idioma - o inglês - desde a entrada na escola (o “good morning”), os comando diários de lavar as mãos, ir brincar, até a saída. “Em menos de um mês que as crianças se deparam com esse contexto diferente, a rotina se internaliza. Usamos o máximo de recursos possíveis sem precisarmos usar a tradução direta. A criança descobre e entende o que está sendo falado, não apenas traduz”, conta Priscila.
A escola entende que, como os bebês têm o estímulo da língua materna em casa, no caso, o português, é feito um equilíbrio com a segunda língua, ao imergir a criança nela. Quando se aprende ainda novinho, se aprende pelo fazer e sentir a experiência - na Escola do Futuro, os bebês aprendem por associação. “Eles ainda não aprendem gramática. Essa parte é feita apenas no primeiro ano do fundamental, quando são alfabetizados em português e inglês. A criança não fica tentando te decifrar, é muito mais aberta, por isso aprende mais rápido”, explica Priscila. Alguns pais podem achar que o ensino bilíngue pode sobrecarregar a criança. A coordenadora diz que não. “Ela só vai ter outros meios de falar a mesma coisa, aumentando suas conexões cerebrais. Ao invés de ter só um caminho para falar algo, ela sabe que pode falar de outras maneiras. E no ensino médio, já é considerada fluente.”
Ginástica
Fazer um exercício e se mexer é importante em qualquer época da vida, inclusive na infância. É no que se baseia a Escola Canarinho, de Brasília, ao oferecer ginástica para bebês. A prática é comum há muitos anos em países como os Estados Unidos e está crescendo no Brasil. Mas a escola já oferece a modalidade há 30 anos, segundo a diretora pedagógica Solange Cianni. Na prática, é utilizado um método que trabalha o fortalecimento da musculatura da criança, usando criatividade e alegria, com música e diversos materiais coloridos para que a criança explore seu corpo e o espaço que ocupa. “Os bebês (que começam a ginástica com quatro meses) sobem e descem escadas, são colocados em bolas, encontram desafios como instrumentos que os desafiam corporalmente. Além da musculatura, o exercício também estimula os hemisférios cerebrais da criança”, afirma Solange.
Denise explica que exercícios como esses são importantes porque estimulam a psicomotricidade, essencial porque amadurece os músculos e traz também a consciência corporal. Segundo ela, a criança não têm consciência do seu corpo. Essas atividades estimulam a criação dessa consciência. Mas a pedagoga alerta: é preciso cuidado na hora de escolher os profissionais que desenvolverão a técnica. “A pessoa precisa saber muito bem utilizar a técnica, ou pode até machucar o bebê, já que são imaturos corporalmente ainda.”
Massagem Shantala
Que adulto não gosta de relaxar com uma massagem depois de um pesado dia de trabalho? Com os bebês não é diferente. Também na Escola Canarinho, os bebês sortudos são massageados por meio do método indiano Shantala. “Essa massagem traz como principal benefício a construção do afeto do bebê. O toque, o afeto, o falar, estimular os pontos e a parte sensorial da criança”, aponta Solange. Ela ainda informa que a massagem pode ser feita em recém-nascidos. Entre os exercícios estão abrir e fechar os bracinhos dos pequenos, massagem na cabeça e peito, além dos pezinhos. “A criança fica completamente desestressada e relaxada. Eles até já conhecem o procedimento e começam a rir antes mesmo de ganhar a massagem”, conta a diretora. São atividades que ajudam o bebê a criar uma noção dele e do mundo que o rodeia, além de ajudar na transição de ficar em contato só com a mãe, para entrar em contato com o mundo.