O Dia da Terra é hoje, 22 de abril, uma data destinada à conscientização da importância da sustentabilidade. É hora de refletir sobre quais impactos as ações humanas do passado e do presente terão no futuro do planeta e, consequentemente, da humanidade.
Para compreender melhor o risco que corremos e o que ainda pode ser feito em relação à manutenção da vida na Terra, conversamos com Luiz Borges, doutor em Ecologia e coordenador de projeto na SOS Amazônia, ONG voltada para a conservação da biodiversidade e proteção ambiental da Amazônia.
Nesta entrevista do Dia do Terra, buscamos entender o avanço da degradação da floresta amazônica, qual a sua importância para a vida no planeta e o que pode ser feito para melhorar a situação. Veja o que descobrimos!
Dia da Terra: a importância da Amazônia
Começamos a conversa perguntando qual a importância da Amazônia para a vida na terra. Luiz nos explica a relevância da maior floresta tropical do mundo sob várias perspectivas.
Ele diz:
Floresta Amazônica, um gigante verde que se estende por nove países da América do Sul, e representa um dos ecossistemas mais ricos e biodiversos do planeta.
Em seguida, o ecologista explica que a Amazônia funciona como um sumidouro de carbono, regulando o efeito estufa na Terra. A floresta também faz uma regulação climática, abriga milhões de espécies e conta com recursos naturais preciosos que podem sustentar cadeias produtivas sustentáveis, que contribuem para a consolidação da bioeconomia e, principalmente, para a segurança alimentar de povos originários e tradicionais.
Além disso tudo, ela ainda tem funções ecológicas como o ciclo da água, a polinização e o controle da erosão, essenciais para a vida. Também possui uma relevância cultural e patrimonial, pois, abriga povos indígenas e oferece potencial para o turismo ecológico e pesquisa científica.
Idade da amazônia
Com a exposição de tantos fatos sobre a importância da floresta, é natural que queiramos saber qual a idade da Floresta Amazônica. Luiz nos explica que este é um enigma que ainda põe uma pulga atrás da orelha dos cientistas.
Ele respondeu que a estimativa da idade da Floresta Amazônica está entre 23 e 56 milhões de anos, tendo se transformado inúmeras vezes ao longo de sua história.
Dia da Terra e a Biodiversidade Amazônica
Procuramos entender qual a real extensão da biodiversidade da Floresta Amazônica e Luiz nos forneceu números impressionantes em relação à vida neste bioma. Veja os dados passados pelo doutor:
Luiz destaca que estes números são estimados, e que a cada ano pelo menos 20 novas espécies são descritas para ciência, com ocorrência na amazônia, e geralmente estas espécies já se encontram ameaçadas de extinção ou perderam mais de 50% do seu habitat original para o desmatamento.
Ele ainda explica que a Amazônia abriga 10% das espécies na Terra. Além de tudo citado no quadro acima, a amazônia ainda conta com fungos e microrganismos essenciais para a manutenção da floresta.
Vida curiosa
Também, pedimos ao Luiz que ele nos contasse qual espécie ele achava mais curiosa na Amazônia. Como bom amante da floresta que é, ele respondeu:
Diante da imensa variedade de espécies na Amazônia, escolher a mais curiosa é um desafio, por sua extensão/abrangência, suas peculiaridades relacionadas ao solo, água, relevo, vegetação, faz com que existam muitas amazônias dentro de uma mesma Amazônia.
Mas, ele também comentou de alguns animais e plantas intrigantes, como o Gavião-Real (Harpia), a maior ave de rapina das Américas, com até 2 metros.
A samaúma, a rainha da floresta, árvore que pode chegar a 60 metros e reter centenas de litros de água.
O boto cor-de-rosa, animal inteligente que, inclusive, usa ferramentas para capturar presas e possui inteligência social.
Dia da Terra: a Amazônia pode ser salva? Como?
Perguntamos ao coordenador de projeto da SOS Amazônia o que fazer para reverter o avanço do desmatamento e do garimpo ilegal na Amazônia. Luiz diz que são necessárias ações abrangentes e eficazes que passem pelo fortalecimento da fiscalização, o estímulo ao desenvolvimento sustentável e a conscientização ambiental.
Ele também ressalta a importância de defender e demarcar os territórios dos povos indígenas, pois, eles também protegem e habitam a floresta. Luiz ainda fala sobre cooperação internacional:
A cooperação internacional desempenha um papel crucial, envolvendo o combate ao comércio ilegal de produtos florestais, a mobilização de recursos financeiros e a transferência de tecnologia.
O ecologista também afirma que é uma responsabilidade que recai sobre toda a sociedade, que deve procurar apoiar instituições de proteção ambiental e cobrar governos e empresas por medidas eficientes na defesa da floresta.
Ponto de não retorno
Luiz faz um alerta importante:
O desmatamento desenfreado e as atividades predatórias colocam a Amazônia em um ponto crítico, onde a regeneração natural pode se tornar impossível. Essa situação é representada metaforicamente pelo "ponto de não retorno", onde a floresta perderá sua capacidade de recuperação, levando a impactos irreversíveis.
Mas, o ecologista explica que ainda há esperança. Estudos indicam que medidas urgentes podem evitar o ponto de não retorno e o colapso da Amazônia. É preciso reduzir o desmatamento para menos de 10.000 km² por ano até 2030, de acordo com um levantamento da Revista Nature. Ainda será preciso a restauração de áreas degradadas e práticas agrícolas sustentáveis, conforme apontado por outro estudo na Revista Science, em 2023
O que nós podemos fazer?
Por fim, Luiz nos fornece uma lista com atitudes e iniciativas que contribuem para a preservação da Amazônia, confira:
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Combater o desmatamento ilegal: exigir dos governos medidas rigorosas contra o desmatamento ilegal e o tráfico de madeira, pressionando por políticas de fiscalização mais eficazes.
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Apoiar o desenvolvimento sustentável: incentivar práticas econômicas que conservem a floresta, como a agricultura familiar, o manejo florestal sustentável e o turismo ecológico, contribuindo para uma economia mais sustentável na região.
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Conscientizar a sociedade: educar a população sobre a importância vital da Amazônia e os impactos devastadores do desmatamento, promovendo uma cultura de respeito e cuidado com o meio ambiente.
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Consumir de forma consciente: optar por produtos de origem sustentável e evitar aqueles que contribuam para o desmatamento, incentivando cadeias de produção responsáveis e éticas.
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Apoiar organizações ambientais: contribuir através de doações ou trabalho voluntário em organizações dedicadas à preservação da Amazônia, fortalecendo seu trabalho na proteção desse ecossistema único.
Por Tiago Vechi
Jornalista