Atitudes que para muitos adultos podem parecer banais, como o brincar, podem ser pilares na formação da criança e fundamentais para o seu desenvolvimento. Por isso, para Maya Eigenmann, a autora do best seller A Raiva Não Educa, A Calma Educa, é preciso ir além de instintos e estudar sobre a parentalidade.
“O nosso instinto é defasado. Nós somos o que vivemos e se não recebemos uma educação respeitosa, não tem de onde tirarmos esses conhecimentos. É preciso se conscientizar dos processos e tomar decisões a respeito”, ressalta.
O que é educação respeitosa?
Segundo a especialista, educação respeitosa é um termo guarda-chuva que engloba várias vertentes que reconhecem a criança como um ser de igual valor aos adultos, sendo merecedoras de respeito.
Já a educação positiva é a linha seguida por Maya, baseada em quatro pilares: inteligência emocional, desenvolvimento infantil, biografia humana [respeito ao 'desenho original' do ser humano, que não nasce com vergonha de chorar, por exemplo] e apego seguro [vínculo da criança com seus cuidadores].
Para ajudar quem quer trilhar esse caminho de respeito, Maya elenca ao Terra cinco pontos sobre o que fazer ao educar um filho, trazendo analogias e se aprofundando nos assuntos.
1. Brincar
A vida adulta é cansativa. Ter filhos é super cansativo. Mas quando entendermos que o brincar para a criança é tão importante quanto o comer e o beber, talvez nossa visão de mundo mude e comecemos a priorizar mais isso.
A maior parte dos comportamentos ‘desafiadores’ seriam menores ou até inexistentes se a gente brincasse mais com nossos filhos. E não estou falando de horas sem fim, mas de conseguir estar com seus filhos sem uma distração e deixar que eles conduzam essa brincadeira.
A verdade é que a gente, às vezes, não consegue ficar cinco minutos no chão com eles. Vemos o brincar como um luxo, um bônus. Mas brincar para as crianças é vital, fundamental para o desenvolvimento delas é algo que torna a parentalidade muito mais fluida.
O que representa no mundo adulto?
O brincar para a criança é similar a programas de casal entre adultos. Você sai para jantar com seu companheiro, se arruma, se diverte, volta para casa preenchido e com a relação fortalecida. O que gera esse senso de pertencimento para as crianças é o brincar com intenção.
Nada de interesses
A finalidade do brincar é o próprio brincar. Quando a brincadeira tem uma segunda intenção, já não é mais do interesse da criança. É a gente dando foco na necessidade do adulto e não a da criança. É o ‘adultismo’ priorizando o que acha importante, sendo que brincar é o trabalho principal da criança. Nós que precisamos entrar no universo dela, e não o contrário.
2. Acolher
O acolhimento não é, necessariamente, resolver os problemas - embora, claro, as crianças precisem da nossa ajuda enquanto não tem capacidade para fazerem coisas sozinhas. Mas a intenção é ouvir, acolher, sentir a dor com a pessoa que amamos.
Se a criança diz estar assustada, chateada ou brava por algo, o adulto não deve chegar dando seus argumentos e dizendo que a criança não deveria estar triste. Isso invalida o que a criança está sentindo e nós não temos o direito de fazer isso com nenhum ser humano.
Se um amigo meu está de luto eu não vou falar “Esquece, já passou. Vamos fazer uma festa porque estamos vivos e quem morreu já foi”. Seria um desrespeito. Mas quando nossos filhos estão tristes, chorando, com raiva, eles também estão com o luto do que não deu certo para eles. É muito importante respeitarmos esses momentos.
Acolher gera intimidade, conexão. É importante porque faz a criança saber que ela pode contar com você.
3. Nomear
Nomear é esclarecer para a criança o que está acontecendo. Por exemplo, se você está triste e não explica para a criança o motivo, ela vai se sentir responsável pelo seu sentimento. A criança é egocêntrica, ela entende que tudo que acontece ao redor dela é responsabilidade dela.
Recebendo explicações, nomes para a algo que está sentindo, a criança começa a entender os movimentos naturais da vida. Ela consegue se reorganizar emocionalmente e pode se aliviar mais facilmente.
4. Pedir desculpas
Se nosso pai ou a nossa mãe ligasse hoje e falasse: “Peço desculpas por todas as vezes que encostei no seu corpo te machucando, por todas as vezes que eu não deixei você falar a sua opinião, que eu te silenciei e que não ouvi suas dores, mandando você engolir seu choro. Peço perdão por tudo isso”, a gente se sentiria mais aliviado ou mais arrogante?
Muitas pessoas falam que não pedem desculpas para os filhos porque eles vão ‘ficar se achando’, mas os nossos filhos jamais vão se sentir mais arrogantes. Vão se sentir mais conectados, assim como a gente se sentiria se os nossos pais reconhecessem seus erros. É normal errar.
Se tem um caminho para reconstruir rupturas na relação é através do pedido de desculpas. É muito potente a gente conseguir reconhecer os nossos erros. Isso nos torna mais humanos na relação com os nossos filhos.
E se a criança não aceitar?
É preciso dar tempo para a criança. Adultos quando brigam às vezes também não tem vontade de perdoar. Na hora que a pessoa está alterada, ela não está aberta para a conversa. É preciso relaxar para abrir espaço para a conexão. Então se a criança não aceitar suas desculpas, dá um tempo para ela e reconheça que ela tem o direito de reagir assim.
5. Explicar
Há vários caminhos para desenvolver a habilidade de responsabilidade nas crianças, um deles é explicando, conversando com o seu filho o porquê dele poder ou não fazer alguma coisa. Parece bobo, mas quando você começa a explicar as questões, se aprofundar nas conversas, as crianças vão sempre entender os motivos por trás das situações.
Isso desenvolve um pensamento crítico. Desde coisas pequenas a grandes mudanças na vida da família. Investir tempo na explicação é muito potente para as crianças, mesmo que seja muito cansativo para o adulto.
Além do teórico
O ato de explicar é muito cativante para a criança, faz ela se sentir digna por um adulto se importar em conversar com ela a respeito de determinado assunto. É a intenção de estar ali, mesmo que seja uma explicação com poucas palavras para uma criança pequena.
É preciso entender que o mundo é um lugar completamente desconhecido para as crianças. O cérebro dela é feito para explorar o máximo possível. Sei que é cansativo e que às vezes não temos as respostas, mas precisamos ver essas situações sabendo que não se trata de uma criança enchendo o saco. Ela está cumprindo o que ela foi programada para fazer biologicamente.