Eleva Educação: grupo tem 5 das 15 melhores escolas do País

"Ser professor é muito mais do que só saber o conteúdo. É você saber, saber passar, e saber passar de forma engajadora", diz Caio Lo Bianco

27 dez 2015 - 16h25

Não é de hoje que a preocupação com a educação brasileira ocupa lugar central nas demandas da sociedade por melhorias estruturais no país. Para conquistar avanços nesse campo, no entanto, é importante engajar todos os envolvidos no ecossistema da educação — principalmente os professores.

Foto: Arquivo Pessoal

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Nesse sentido, o cenário é ambíguo. Por um lado, percebe-se um aumento do desinteresse dos jovens em seguirem a carreira de professor (menos de 2% dos estudantes, segundo pesquisa de 2010 da Fundação Victor Civita). Por outro, surge no país uma nova leva de jovens talentosos e dispostos a desafiar esse problema de frente. De que lado você prefere estar?

Reunindo egressos dos mais variados backgrounds, o último grupo é formado por jovens inovadores e com foco em resultados que vêm revolucionando a educação no Brasil de dentro para fora. É o caso de Fernando Carnaúba, economista que contribui para a formação de professores nas escolas do Somos Educação, ou de Claudio Sassaki, o arquiteto que trabalhou no mercado financeiro e hoje toca a Geekie, uma das mais bem sucedidas startups brasileiras de inovação educacional. 

O carioca Caio Lo Bianco, bolsista da Fundação Estudar, também faz parte desse movimento. Formado em Economia pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-Rio), ele sempre foi um apaixonado por educação. Hoje, trabalha como trainee no Eleva Educação, empresa com investimentos do Gera, fundo venture capital de Jorge Paulo Lemann para a área de educação. A Eleva é responsável pelo aprendizado de mais de 50 mil alunos, por meio de escolas próprias e escolas parceiras espalhadas pelos Brasil inteiro. Em 2015, emplacou quatro de suas escolas entre as 15 melhores no Enem.

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Mas se engana quem imagina Caio, pela sua formação, focado em alguma função administrativa. Atualmente, ele divide seu tempo entre a sala de aula — ensinando Matemática para alunos do Ensino Fundamental — e outras atividades pedagógicas, como a elaboração de materiais didáticos. A seguir, ele fala sobre os desafios da profissão de professor e a decisão de abrir mão de uma carreira tradicional em economia para se dedicar a sua paixão.

Como você se envolveu com a temática de educação?

Foi muito por influência da minha avó, que era diretora de colégio e professora de línguas. Desde que eu era criança ela sempre discutiu muito comigo sobre educação, enviava cartas com recortes de jornais e reportagens sobre o tema. Então isso foi instigando em mim um interesse por educação. Essa história de crescer ouvindo e discutindo temas e propostas de educação… Eu fiquei apaixonado pelo setor e nunca pretendo mudar de área. Ao mesmo tempo, eu também queria ter um impacto na sociedade por meio da minha atuação profissional e, para mim, educação foi e sempre vai ser a forma mais palpável de atingir esse impacto. Na faculdade, dei aulas em um cursinho como voluntário. Até cheguei a fazer um estágio na indústria, durante um intercâmbio em Londres, para ver se eu gostava da experiência. Mas isso só reforçou a ideia de que não, que o que eu queria mesmo era o mercado de educação.

Como é o seu trabalho na Eleva Educação?

Eu entrei como estagiário para trabalhar na parte de gestão. Durante meu primeiro ano, ajudei a desenvolver a parte de metas de todas as áreas da empresa. Assim, era necessário entender o funcionamento de cada parte da empresa. Isso foi muito legal porque me deu uma visão bem ampla do negócio. Mas no final do estágio eu já estava percebendo que o que eu queria a partir de então era trabalhar na parte pedagógica mesmo, impactando a vida dos alunos na ponta. Foi quando virei trainee e migrei para a pedagógica. Comecei em uma área de contextualização, ajudando a tornar o nosso material mais contextualizado, mais alinhado com o dia a dia do aluno. E depois fui para outro projeto, de habilidades de vida, que tem o objetivo de desenvolver habilidades socioemocionais nos alunos. Ajudei a criar um currículo de habilidade de vida para ser usado em nossas escolas, e em cima disso trabalhamos projetos e dinâmicas que desenvolvam habilidades como curiosidade, colaboração, pensamento crítico, perseverança, proatividade, entre outras. Logo que entrei para a Eleva, paralelamente também comecei a ser professor de matemática no Pense, uma de nossas marcas, pro sexto e sétimo ano.

Conte um pouco sobre o seu dia a dia…

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A Eleva está no começo, é uma empresa em crescimento, então não tenho exatamente um dia típico. Eu resolvo desde coisas mais processuais, como a diagramação do material, a entrega do material, até coisas mais macros como definição de currículo, treinamento de professores, feedbacks e redação de material escolar. Então eu basicamente participo de tudo, desde criação até implementação e o aperfeiçoamento das nossas práticas. E ainda dou aula!

Ano passado, vocês emplacaram quatro escolas no “Top 15” do Enem. O que está por trás desse resultado?

Acho que é a criação de uma cultura de estudo. Nossas escolas têm essa cultura de que estudar é importante, leva você a algum lugar. Estudar transforma a sua vida. A gente tem caso de sucesso de alunos que vieram do Acre e hoje estão no MIT (Massachussets Institute of Technology), a melhor escola de engenharia do mundo. E isso a gente divulga para todo mundo. Então os alunos sabem que é possível você mudar a história da sua família e da sua vida por meio da educação. Outra coisa muito importante é a qualidade dos nossos professores. Para você se tornar um professor da rede da Eleva é muito difícil, você precisa fazer prova de aula, prova escrita, mostrar que consegue engajar os alunos, contextualizar a sua matéria. Ser professor é muito mais do que você só saber o conteúdo. É você saber, saber passar, e saber passar de uma forma engajadora. É por isso que estamos no “Top 15” do Enem. Ele é uma prova contextualizada, que precisa que o aluno interprete situações do dia a dia e aplique conhecimento nessas questões, e a gente faz isso muito bem.

E como tem sido a sua experiência em sala de aula, como professor?

Tem sido muito rica. O meu objetivo é dar atenção a todos os alunos, independente de como eles atuam. Alguns professores falam: ‘Ah, esse aluno aí é muito bagunceiro, não tem jeito’, ou ‘Esse aluno aí todo mundo sabe que ele tem problema’, e aí colocam o aluno dentro de uma caixinha e isolam ele. Eu acho que não, acho que é o papel do professor é saber trabalhar com todo tipo de aluno. E saber trabalhar com todas as situações dentro da sala de aula, com tudo o que acontece lá. Às vezes os professores querem se livrar desses alunos rotulados como problemáticos, mas eu tento cada vez mais estimular e engajar todos os alunos.   

Quais são as habilidades necessárias para ser um bom professor?

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É claro que o professor tem que ter o domínio do assunto que ele está lecionando. Mas eu não diria que só isso é importante. Para trabalhar com ensino fundamental, por exemplo, tem coisas mais importante do que saber aquele conteúdo com mestrados e doutorados. Um profissional que vai se dar bem na carreira de professor deve ter muita capacidade de comunicação. Um professor que não se comunica não existe. Ele precisa saber expor a sua mensagem de forma clara, coerente e motivadora. Precisa saber vender a sua mensagem, adequar a sua mensagem ao público alvo. E precisa saber ouvir o aluno também. Além da comunicação, outra capacidade muito importante é a empatia. O professor precisa saber se colocar no lugar do aluno, e não só do aluno comum, mas de todos os variados alunos da sua sala. Se ele não entender o lado do aluno, a posição do aluno, ele não consegue motivá-lo. Assim, um bom professor precisa muito de habilidades socioemocionais, e isso independe do curso que ele fez na faculdade. 

Então quem não fez Pedagogia pode seguir a carreira de professor?

Hoje, eu vejo que o curso de graduação e a experiência durante a faculdade são muito importantes para criar desafios para você, para estimular sua capacidade crítica, de entender pontos de vista diferentes, e também para te expor a problemas difíceis. Toda essa coisa que a faculdade estimula é muito importante, mas depois que você passa por isso é possível ir para várias áreas. Isso é muito comum em outros países, as pessoas mudam completamente de área. É algo super viável.

Como foi a decisão de não seguir uma carreira tradicional na sua formação e ir para outra área?

A minha decisão foi muito guiada pelo que eu gostava de saber e pelo que eu acreditava. Sentia que não queria ficar em um banco ou uma consultoria e não ver de perto onde a minha atuação estava impactando a sociedade. E sou realmente apaixonado por educação. Mesmo no curso de economia, meu trabalho de conclusão de curso foi sobre habilidades socioemocionais, que está bastante relacionado ao minha atuação hoje. 

Qual o seu conselho para quem está em dúvida sobre seguir a carreira de professor?

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Minha sugestão é: vá para a sala de aula. Quando você está na sala de aula, você sabe se você realmente é apaixonado por aquilo ou não. E se você sente que é apaixonado por aquilo, siga a carreira de professor. Mas faça isso em lugares que valorizam essa carreira. Você precisa buscar esses lugares para ser bem-sucedido.

Qual sua visão sobre carreira de professor no Brasil, de maneira geral?

O professor consegue impactar mais do que ninguém a vida de um aluno. Todo mundo teve um professor que mudou a sua história, que mudou sua forma de enxergar o mundo. O problema é que esses professores são desvalorizados e muitos professores não tem estímulo para se desenvolverem. Existe uma ideia de que o professor é uma pessoa que já chega pronta. Então em muitas escolas o professor permanece lá intacto, no canto dele, desenvolvendo o que ele acha melhor para a sala de aula. Eu acho que a gente tem que botar esse professores todos para conversarem entre eles, para que possam trocar e aprender as melhores praticas. E aprender também com os professores de fora. Eu sou professor e posso dizer que quero aprender todo dia, cada vez mais. Eu gostaria muito de aprender melhores práticas, e aprender com outros professores. O desafio trazer mais professores que queiram aprender cada vez mais, que queiram incentivar e motivar os alunos. A gente precisa de uma educação que motive mais, que seja mais alinhada com a realidade do século 21. A gente precisa inovar em sala de aula.

Por que tem diminuído o número de jovens interessados em seguir essa carreira?

Acho que esse desinteresse acontece exatamente porque esse profissional não é muito valorizado no mercado. E aqui na Eleva nós tentamos reverter isso. Aqui nós queremos que o professor dê aula, mas também queremos aprender com o professor. Queremos que suas melhores práticas sejam disseminadas por toda a Eleva. Chamamos os professores para trabalharem na parte pedagógica da empresa, para pensarem na escola de forma mais macro. Quando o professor é aquele que só está ali pra passar o conteúdo, aí o trabalho dele está sendo desvalorizado. Quando ele é visto como a pessoa que mais entende do que é educação, o que é o aluno e como ele pode ser incentivado, aí o papel dele fica grande. Porque o nosso cliente final é o aluno, e quem mais entende desse cliente é o professor. 

E hoje, qual é o seu grande sonho?

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O meu grande sonho é desenvolver currículos e aulas que desenvolvam habilidades socioemocionais nos alunos. Eu realmente acredito que faltam pessoas com mais pensamento crítico no mundo. Faltam pessoas que consigam se deparar com pensamentos diferentes e não fiquem só de um lado. Faltam pessoas que saibam lidar com perdas, com a diferença, que saibam ser empáticos e entender o ponto de vista do outro. Eu queria muito disseminar isso pelo Brasil e criar uma cultura de que ensinar habilidades socioemocionais dentro das escolas é tão importante quanto ensinar Matemática e Português.

Por uma carreira de alto impacto
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