A emoção de uma mãe ao posar para a foto com a filha, que havia sido homenageada pelo bom desempenho na escola, comoveu milhares de pessoas neste fim de semana. A fotografia viralizou e foi compartilhada por diversas páginas de Facebook e perfis no Twitter e no Instagram.
Somente no Facebook, na publicação inicial, feita na página da escola pública em que a garota estuda, foram mais de 70 mil reações, sendo a mais comum delas o "amei". Em outra página, na mesma rede social, a imagem teve mais de 98 mil reações - o "amei" também foi o mais usado pelos internautas.
Nos comentários das publicações, muitas pessoas exaltaram mãe e filha e disseram ter se emocionado com a fotografia.
Nas redes sociais, as legendas das imagens apenas informavam o evento em que a fotografia foi feita e exaltavam o prêmio de destaque recebido pela adolescente Eloá. Mas, afinal, quem é aquela mãe que se emociona diante da condecoração da filha? Qual a história daquela família?
A BBC News Brasil conversou com mãe e filha, e descobriu uma família que tem buscado seguir em frente após a perda do pai.
A foto
Era manhã de sábado. Na Escola Estadual Doutor Fernando Amos Siriani, em Bragança Paulista (SP), acontecia um sarau literário com pais e alunos. Entre outras atividades, o evento entregou certificados aos estudantes considerados destaques pelo desempenho escolar, conforme as avaliações dos professores da unidade de ensino.
Um dos nomes chamados para receber o certificado foi o da estudante Eloá de Oliveira Rosa, de 13 anos, que está no sétimo ano do ensino fundamental. A garota ficou surpresa ao ver seu nome entre os destaques.
"Eu não esperava, porque no primeiro bimestre tive um desempenho mais ou menos na escola. Mas depois me dediquei mais aos estudos e melhorei", diz à BBC News Brasil.
Segundo professores da escola, Eloá sempre foi uma aluna dedicada.
"No ano passado, ela tinha bastante dificuldade em Língua Portuguesa, mas, com o tempo, foi se esforçando e melhorando. Ela se destaca não só pelas notas, mas pela educação, respeito, carinho, dedicação e pontualidade na entrega dos trabalhos", diz a professora de Língua Portuguesa Tatiana de Lima, uma das responsáveis por organizar o sarau. Ela deu aula para Eloá em 2017.
Desde o início do sarau, enquanto os alunos declamavam poemas, a dona de casa Maria das Graças de Oliveira Rosa, de 54 anos, estava emocionada. Logo que ouviu o nome da filha entre os destaques e viu a jovem receber o certificado das mãos de Tatiana, tentou segurar o choro, mas as lágrimas escorriam discretamente em seu rosto.
Maria foi chamada para posar para uma foto ao lado da filha. Neste momento, a mulher começou a chorar copiosamente, abraçada a Eloá.
"No início, ela tentou se esconder da foto, com vergonha por estar chorando, porque a emoção foi muito grande. Então, a acalmei e disse que era um momento importante, que elas estavam lindas e então ela deixou que eu a fotografasse", relata a coordenadora da escola, Cecília Fontaneta, responsável por registrar as imagens dos alunos no evento.
Maria explica que se emocionou ao ver a filha sendo elogiada e homenageada pelos professores. A dona de casa, que estudou até a sétima série do ensino fundamental e deixou a escola para trabalhar, afirma que sempre incentivou Eloá a ser uma boa aluna.
"Fiquei muito contente em ver como a minha filha é inteligente e o esforço dela na escola", diz à BBC News Brasil.
A dona de casa revela que a emoção aflorou ainda mais em razão das lembranças do marido, que morreu em 25 de agosto deste ano, após sofrer um infarto. O homem, de 54 anos, costumava incentivar e ajudar a filha mais nova nos estudos.
"O meu marido sempre dizia sobre a importância da escola e queria que todos os filhos terminassem os estudos, como ele", diz Maria, enquanto segura o choro.
"Eu sei que meu marido ficaria muito contente se estivesse ali e visse a filha ganhando aquela homenagem. Senti muito por ele não estar comigo naquele momento. Isso me emocionou muito", completa.
Eloá afirma que encarou a emoção da mãe como uma forma de Maria expressar o orgulho que estava sentindo.
"Fiquei feliz por ter sido motivo de emoção e orgulho para a minha mãe. Eu sei que ela chorou de alegria por mim e também de saudades do meu pai."
Depois da perda
O metalúrgico Gessy Roberto da Rosa é uma lembrança constante na família. Ele e Maria tiveram quatro filhos. Apenas o mais velho, até agora, concluiu o ensino médio.
"O meu marido sempre quis que os filhos entendessem a importância dos estudos, mas nem todos se formaram. Agora, acredito que com a Eloá será diferente."
Eloá sonha em se formar em Direito "para defender as pessoas boas", diz.
Para ela, vai ser uma das formas de honrar a memória do pai.
"Ele sempre me ajudava nas lições que eu não entendia, principalmente as de português. Era uma pessoa muito importante para mim."
Atualmente, a família vive com pouco mais de R$ 2 mil mensais - salários dos dois filhos mais velhos. Eles moram em uma casa de cinco cômodos em Bragança Paulista, que a família aluga há quatro anos.
Para o futuro, Eloá sonha que a sua vida - e a da família - melhore. Para isso, pretende continuar se dedicando aos estudos. Maria, em meio às dificuldades, mantém o apoio para que a filha seja uma boa aluna.
"Eu sei que se a pessoa não estudar, não vai ser nada, porque as coisas são difíceis."
Eles não têm internet em casa. Apenas o filho mais velho tem celular com acesso à rede. A fotografia viralizou no sábado, e mãe e filha só descobriram o fato na manhã seguinte.
"Foi legal saber que as pessoas gostaram da nossa foto", comenta a dona de casa.
A professora Tatiana de Lima se surpreendeu com a repercussão da imagem, mas confessa ter ficado contente em ver tantas reações na fotografia de Maria e Eloá.
"Acho que as pessoas estão carentes de imagens como aquela, que demonstra amor e carinho. Há muita gente manifestando e falando o mal. Então, essa foto delas alegrou os olhos das pessoas", diz.
Na manhã de domingo, pouco antes de conversar com a reportagem da BBC News Brasil, Eloá havia recebido cumprimentos dos colegas de escola pelos inúmeros compartilhamentos da foto.
"Eu nem sabia que tanta gente ia ver, mas foi uma surpresa boa para mim", diz a estudante.
A história serviu de inspiração para muitos:
"Meu povo negro que luta sempre! Orgulho quando vejo essas vitórias!", escreveu uma mulher.
"Como futuro professor essa foto me emociona demais, a emoção da mãe, a alegria nos olhos da menina, é por isso que escolhi a licenciatura", escreveu um professor no Facebook.
"É de arrepiar essa foto, uma das melhores imagens que pude ver esse ano! A educação é a principal arma contra o sistema que vivemos. Orgulho define, e essa mãe, gente, caiu um cisco aqui no meu olho", escreveu outra usuária no Facebook.