Adolescentes e jovens que participam da “Primavera Secundarista” no Paraná rejeitaram sair das instituições, mas disseram que “cada ocupação tem autonomia para fazer o que achar melhor” daqui por diante. A decisão foi tomada em uma assembleia nesta quarta-feira (26), no Colégio Estadual Loureiro Fernandes, em Curitiba.
Segundo o presidente da União Paranaense dos Estudantes Secundaristas (Upes), Matheus dos Santos, mais de 600 alunos, de diversos municípios, sendo um representante de cada escola, estiveram na reunião. Eles chegaram por volta das 11 horas e saíram já perto das 17h30. Membros do Ministério Público e da Defensoria Pública acompanharam as discussões. A imprensa, contudo, não foi autorizada a entrar.
O grupo resolveu redigir e encaminhar ao governador Beto Richa (PSDB) uma carta, contendo uma série de reivindicações. Entre elas estariam uma possível "anistia" aos alunos que lideram as ações, com a garantia de que não serão perseguidos pelas direções, e a criação de um comitê estadual de educação. Os jovens também devem pedir a Richa que ele protocole na Assembleia Legislativa (Alep) um projeto de lei proibindo a implementação no Estado da medida provisória 746/2016, que reforma o ensino médio, flexibilizando o currículo. Outra questão levantada, e que será levada à gestão tucana, é a ideia de organizar uma conferência relativa ao tema.
Sobre o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), os alunos sugeriram que o Ministério da Educação (MEC) utilize escolas municipais. O chefe da pasta, Mendonça Filho (DEM), já tinha informado a pretensão de adiar as provas em 181 escolas, sendo 145 no Paraná, caso o movimento persista até 31 de outubro. Pelo menos 95 mil dos 8,6 milhões de inscritos seriam prejudicados. O certame acontece nos dias 5 e 6 de novembro. Ainda segundo o MEC, se necessária a aplicação do exame em outra data, os custos extras serão de aproximadamente R$ 90 por prova.
“Construímos uma grande assembleia, democrática, plural e diversa, que refletiu as ocupações”, disse Santos. Embora ele seja o único a se pronunciar oficialmente, o “Ocupa Paraná” não possui uma liderança definida. Muitos dos jovens alegam que não concedem entrevistas porque “a mídia manipula”, por serem menores de idade e também por temerem perseguição por parte de organizações contrárias à “Primavera”. Na saída do colégio, os meninos e meninas entoaram gritos de guerra contrários ao governador e ao presidente Michel Temer (PMDB-SP). Na sequência, gravaram um vídeo dizendo que, “neste momento, todas as escolas do País devem se mobilizar”. “O estudante se uniu. Ou para essa reforma ou paramos o Brasil”.
A “Primavera Secundarista” começou no dia 3 de outubro, em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, de onde se estendeu para diversas cidades, de 21 Estados brasileiros e mais o Distrito Federal. De acordo com a União Brasileira dos Secundaristas (Ubes), mais de mil escolas seguem tomadas, sendo 90% delas no Paraná. A página da “Ocupa” no Estado fala em 850 colégios, 14 universidades e 11 núcleos de educação ocupados. A última atualização, entretanto, aconteceu na sexta-feira (21), antes do assassinato de um jovem de 16 anos em uma das instituições, ocorrido anteontem. Conforme a Secretaria de Educação (Seed), o episódio já motivou a desocupação de 159 colégios.