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Em Salvador, candidatos consideram Revalida fora da realidade

25 ago 2013 - 16h57
(atualizado às 17h12)
Em Salvador, candidatos reclamam da dificuldade da prova
Em Salvador, candidatos reclamam da dificuldade da prova
Foto: Ana Carolina Araújo / Especial para Terra

Dos 1772 inscritos no Revalida 2013, promovido pelos ministérios da Saúde e Educação, 136 escolheram fazer a prova em Salvador, capital baiana. O exame, realizado no campus de Ondina da Universidade Federal da Bahia, foi criado para revalidar o diploma de médicos formados em faculdades estrangeiras. Antes das 8h, horário previsto para o fechamento dos portões, todos os candidatos já estavam nas salas. Apesar de o regulamento autorizar a saída a partir das 9h15, os primeiros médicos só finalizaram a avaliação depois do meio-dia.

O Revalida é alvo de uma série de polêmicas. A mais antiga delas é a de ser um exame fora da realidade, de muito difícil aprovação, voltado para manter a reserva de mercado para médicos formados no Brasil. Coincidência ou não, a média de aprovação em 2012 foi de 10%. “Os maus resultados pioram ainda mais a reputação dos médicos formados fora, mas os professores do meu curso passaram provas do ano passado para médicos brasileiros com CRM que não conseguiram acertar nem a metade”, critica Daniel (os candidatos pediram para ter seus nomes alterados pela reportagem).

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A outra polêmica é que os médicos estrangeiros que estão chegando ao País para participar do programa Mais Médicos, que oferece salário de R$ 10 mil, mais ajuda de custo para profissionais que trabalharão em bairros periféricos e cidades do interior brasileiro, não precisarão se submeter ao desafio.

“Não há igualdade de tratamento. Minha esposa se formou em Cuba há dois anos e continua tentando revalidar o diploma, mas os médicos cubanos estão sendo recebidos com festa por aqui. Qual é a diferença entre a formação dela e a deles?”, questiona o comerciante Márcio, que só esse ano já acompanhou a mulher em três exames. Ela preferiu não falar com a reportagem.

A maioria dos médicos ouvidos pelo Terra não está tentando a revalidação pela primeira vez. É o caso de Tatiana, que com apenas oito meses de formada, já participou de quatro provas. Ela é de Mato Grosso, mas veio morar em Salvador com o marido impulsionada pela maior oferta de cursos preparatórios para a prova. Oriunda de uma turma de 20 brasileiros que foram buscar a formação médica na Bolívia, ela afirma que vários de seus amigos já passaram na prova. Entretanto, muitos que não passaram trabalham dando plantões em cidades do interior sem qualquer problema. “Eles querem trabalhar e as cidades precisam de médicos, mas sei que é arriscado.”

Na mesma situação está a paulistana Carina. Formada em biomedicina, há oito anos ela foi com um amigo para a Bolívia tentar a carreira dos sonhos, segundo ela, pagando mensalidades de US$ 100. Após algumas reviravoltas, o companheiro de aventura conseguiu uma transferência para uma escola carioca e hoje já tem seu CRM brasileiro, mas ela não teve a mesma sorte. Antes de terminar o curso, ainda precisou atuar na clínica rural, espécie de Mais Médicos boliviano. Casada com um baiano e vivendo em Lauro de Freitas, ela conta que já estava no processo de revalidação junto à UFBA, mas recebeu a notícia de que precisaria fazer a prova mesmo assim.

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“É muito cansativo e frustrante. Sofremos preconceitos lá por sermos brasileiros, e aqui por termos estudado fora. Já decidi que se não der certo desta vez, eu e meu marido vamos para a Espanha, onde colegas meus estão trabalhando sem qualquer problema”, revela.

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Carina é uma das que afirmam que a prova é irreal. Ela dá como exemplo a questão que abordou os casos de útero invertido. “Acontece um em dez mil. Não é a prioridade de um clínico geral, parece pegadinha mesmo”, acusa. Ela, como a maioria dos que passaram por ali, fez questão de não ser fotografada. O motivo em geral é o mesmo. Muitos estão sendo procurados pela Polícia Federal por exercício ilegal da profissão com diplomas inválidos no território nacional. “Se a PF bater aqui, a metade sai presa.”

Além de raiva, a situação às vezes é recheada de drama, como o do advogado boliviano Johnny Mérida, casado com uma médica brasileira formada na Bolívia e pai de três filhos. A esposa, que prefere não ter o nome revelado, tem 42 anos e se formou na Universidade San Francisco Xavier de Chuquisaca. Chegou a clinicar na Bolívia, mas precisou voltar ao Brasil para cuidar dos pais idosos. Atualmente, todos dividem uma casa em Coqueiral do Aracruz, Espírito Santo. Os filhos deixaram a vida confortável de Sucre e agora estudam numa escola municipal da cidade, enquanto o pai fica entre os dois países. “Não posso deixar meu escritório, pois ainda não posso advogar no Brasil e eu cubro as despesas de toda a família”, lamenta Mérida. E completa: “ela é uma brasileira querendo exercer sua profissão, mas ninguém quer saber disso. Ninguém sabe da história de cada uma dessas pessoas”.

Fonte: Especial para Terra
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