Enem: candidato com discalculia terá direito a calculadora

Desde 2012, Inep oferece atendimento especializado a pessoas com dislexia

21 jul 2014 - 13h10
(atualizado às 13h12)

Para a maioria dos estudantes, a maratona dos dois dias de prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é cansativa e difícil. Para quem tem algum tipo de distúrbio de aprendizagem, concluir a prova se torna um desafio ainda maior. Nesta próxima edição da prova, candidatos que atestaram discalculia terão, pela primeira vez, auxílio para a prova, como já ocorre com quem convive com a dislexia. 

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A discalculia é um transtorno que afeta a aprendizagem da matemática. A doutora em psicologia escolar e professora na faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Beatriz Vargas Dorneles explica que, a partir dos 5 e 6 anos, começam a se observar sintomas da discalculia, como a dificuldade em reconhecer e lidar com tudo que envolve números. O aluno apresenta problemas para decorar tabuada e fórmulas, para realizar sequências numéricas e contagem e pode cometer trocas de números e de sinais. Isso acaba atingindo o aprendizado não só da matemática, mas de outras disciplinas que lidam com números como física, química e até mesmo história.

 Segundo Beatriz, o distúrbio ainda é pouco estudado e, provavelmente, menos frequente que a dislexia. O diagnóstico é feito por meio de avaliações com psicólogo, neurologista e psicopedagogo. “Para ser avaliado adequadamente numa prova, o discalcúlico necessita de apoio com as fórmulas matemáticas por escrito, auxílio da tabuada e da calculadora e tempo adicional”, explica Beatriz. 

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A ajuda oferecida durante a prova para os discalcúlicos são o acesso a uma calculadora e uma hora a mais para concluir a prova, de acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). O órgão também informa que, assim como para os participantes com dislexia, os discalcúlicos deveriam ter informado no ato da inscrição a necessidade de atendimento especializado e apresentado um laudo médico como documento comprobatório. 

Ajuda aos disléxicos

Assim como a discalculia, a dislexia é uma disfunção neurológica que não tem cura. Segundo a Associação Nacional de Dislexia, falar tardiamente, demorar a incorporar palavras novas ao seu vocabulário e dificuldade de aprender cores, formas, números e escrita são sinais comuns de dislexia que podem ser observados na educação básica. Já no ensino médio, alguns indícios são a leitura vagarosa e com muitos erros, a permanência da dificuldade em soletrar palavras mais complexas e a dificuldade em planejar e fazer redações. Para o disléxico, também é difícil aprender outra língua. A fonoaudióloga e psicopedagoga especialista em dislexia Sônia Moojen explica que o diagnóstico é feito por meio de uma avaliação multidisciplinar, que envolve escrita, leitura, consciência fonológica e intelectual.

Maria Aparecida Gonçalves de Almeida tem dislexia e fez a prova de 2012 com ajuda
Maria Aparecida Gonçalves de Almeida tem dislexia e fez a prova de 2012 com ajuda
Foto: Arquivo Pessoal

Para um disléxico, quanto mais objetiva for a prova, melhor, pois questões longas dificultam o entendimento do que é solicitado. “O ideal é que eles tenham mais tempo para fazer a prova, em sala separada, e que os erros ortográficos sejam desconsiderados. Na hora de corrigir a redação, deve-se analisar o contexto da palavra usada, mesmo se ela estiver sido escrita de forma errada”, explica Sônia.

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Desde 2012, quem tem dislexia pode solicitar atendimento especializado para realizar as provas do Enem. De acordo com o Inep, a redação é avaliada a partir de uma matriz de correção específica para os participantes disléxicos e por uma banca especializada no assunto. O mecanismo de correção obedece à dupla avaliação do textos, com possibilidade de até uma quarta avaliação. Nas questões objetivas, não há avaliação diferenciada, apenas o auxílio recebido durante a prova em que ledores ou transcritor ajudam na interpretação dos enunciados, como explicar algo em outras palavras. 

Disléxica, Maria Aparecida considerou auxílio bom

Maria Aparecida Gonçalves de Almeida realizou a sua primeira prova do Enem em 2011 e achou muito difícil. Ela ainda não sabia que tinha dislexia nem que o Enem oferecia auxílio para os disléxicos. Em 2012, a situação já era outra. Maria havia sido diagnosticada e pode realizar a prova em sala separada, com o tempo adicional de uma hora, onde quatro pessoas puderam auxiliá-la. Segundo ela, os profissionais eram de diferentes disciplinas e a ajudaram na interpretação e leitura das questões. Depois de escrever a redação, um dos auxiliares a transcreveu corrigindo a pontuação e a conjugação de verbos, mas mantendo o conteúdo. Um fiscal acompanhou a prova durante todo o tempo. “Eu passei mal durante a prova, fiquei muito cansada e eles me ajudaram. Me senti acolhida”, conta.

Mesmo com a ajuda, Maria Aparecida não conseguiu seu objetivo, que era uma bolsa do Programa Universidade para Todos (Prouni) por meio do Enem. Mas celebra a oportunidade de ter testado o atendimento especializado para disléxicos, que avalia como bom. Hoje, aos 35 anos, ela sonha em concluir o curso de Enfermagem que iniciou em 2007, na Faculdade de Itaúna: “Hoje faço tratamento com fonoaudióloga e psicopedagoga e estou melhorando. Meu organismo está se habituando com a leitura”.

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