A estudante Luana Pizzolato faz parte do restrito grupo de 60 candidatos que conquistaram a tão sonhada nota mil na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023. A jovem de 20 anos é de São Bernardo do Campo (SP), mas, atualmente, mora em São José do Rio Preto, no interior paulista, onde cursa Medicina em uma faculdade pública.
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Em conversa com o Terra, Luana conta como foi o seu processo de preparação para a redação, os segredos que a levaram a atingir a nota máxima e dá outras dicas que podem ajudar os estudantes que vão encarar as provas do Enem 2024, que serão aplicadas nos próximos dois domingos, dias 3 e 10 de novembro. Confira a seguir as estratégias da estudante e, no fim, leia a íntegra da redação nota mil dela.
Preparação para a redação
Desde os 15 anos, quando estava no 1º ano do Ensino Médio de uma escola particular em Santo André (SP), a jovem já começou a prestar o Enem. Ela fez o exame por cinco anos seguidos -- dois como treineira e três valendo --até atingir a nota mil e também conseguir uma vaga no curso desejado.
No Ensino Médio, ela teve aulas de redação e, após concluir essa etapa, fez mais dois anos de cursinho, onde também praticava os textos. No entanto, ela afirma que só levou mais a sério a redação do Enem no ano passado. "Percebi o quanto era importante para a nota final."
A partir daí, Luana começou a escrever os textos com mais frequência e a querer entender todos os detalhes da redação e das correções para se aperfeiçoar. "A minha correção ficou muito mais exigente. E eu me obrigava a escrever. Mesmo cansada, eu fazia, mesmo que eu não gostasse do tema, eu fazia, então eu passei a olhar isso como uma obrigação", diz.
No primeiro semestre de 2023, a estudante escrevia uma redação por semana. No segundo semestre, ela aumentou para duas e tentava trabalhar a agilidade na hora de escrever os textos, uma vez que já tinha aprendido como estruturá-lo ao longo do ano. Ela ainda contou com o apoio de aulas particulares práticas de redação.
Os segredos e dicas para a nota máxima
O tema da redação do Enem 2023, em que a estudante tirou nota mil, foi "Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil". Luana acredita que foi um conjunto de fatores que fizeram com que ela conseguisse a nota máxima. Entre os "segredos", a estudante destaca:
- Praticar a escrita de redações regularmente.
- Valorizar as aulas de gramática, que é cobrada na competência 1 do Enem, que exige o domínio da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa. Luana estudava a teoria, assistia a videoaulas sobre o assunto e resolvia várias questões de vestibulares para entender o tema na prática. Confira aqui todas as competências avaliadas na redação do Enem.
- Enxergar a redação como uma estrutura que parte de um ponto e precisa chegar em outro ponto, mas já sabendo por onde vai passar. "Antes de escrever a redação, já ter definido em um rascunho qual vai ser o seu trajeto de escrita para conseguir fazer o texto de forma lógica. É bem difícil e foi, realmente, a prática que me fez conseguir acertar esse ponto que é esse trecho, a argumentação", explica a jovem.
- Entender bem a estrutura da redação do Enem -- introdução, desenvolvimento e conclusão; Veja aqui como fazer uma redação passo a passo.
- Saber que tudo pode ser usado como repertório para o texto. "Sua aula de história é um repertório, a música que você ouviu ontem pode ser um repertório, a sua série também [...] e eu sempre gostei de usar repertórios que, para mim, são mais fáceis e que eu tinha na cabeça pelos meus conhecimentos de mundo. Não gostava de usar o que eu não conheço."
- Não enxergar a redação como um "monstro". "Meu texto é bem simples, não tem palavras específicas, não tem conectivos muito sofisticados. É fazer o básico bem feito, com argumentação consistente, sem usar repertórios muito cabulosos, dá certo. Acho que vale mais você escolher uma argumentação que você se sinta confiante em usá-la do que escolher algo para impressionar o corretor."
Leia a redação de Luana na íntegra
As décadas finais do século 20, no Brasil, foram marcadas pela presença de movimentos sociais diversos, como o de ruptura das condições de gênero que prejudicavam as mulheres no meio social. Embora as manifestações tenham conquistado direitos, ainda há problemas que assolam o cotidiano feminino das brasileiras, como a invisibilidade do trabalho de cuidado. De fato, essa questão é influenciada pelo sistema capitalista e pela manutenção da visão patriarcal. Logo, é urgente sanar os desafios e enfrentar a problemática.
Diante desse cenário, cabe analisar a relação entre o modelo econômico e a invisibilidade referida. Consoante a tese do sociólogo Karl Marx, os donos de produção, no capitalismo, possuem como fim o maior lucro possível. Nessa perspectiva do autor, nota-se que essa mentalidade econômica ainda rege as relações atuais, incluindo as do Brasil. Desse modo, em um contexto que o trabalho de cuidado não reproduz o capital desejado pelas empresas, esse é invisibilizado e mal remunerado. Portanto, é visível que o sistema capitalista é um entrave na questão sofrida pelas mulheres.
Ademais, a permanência da visão patriarcal acentua o problema dessa invisibilidade. Tal situação é explicada pois, desde o período colonial do Brasil, as mulheres foram designadas a cumprir funções domésticas e de cuidado, já que não eram vistas como capazes de exercer outro ofício. Nesse cenário, ao relacionar com a atualidade, é nítido que essa convenção social do papel da mulher foi mantido como modo de continuar o privilégio dos homens, detentores do poder. Assim, ao passo que esses se consideram superiores, não há uma luta para valorizar o trabalho de cuidado, já que é visto como função intrínseca e obrigatória do gênero feminino.
Em suma, constata-se que mudanças devem ocorrer para enfrentar os desafios da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher. Para isso, cabe ao poder legislativo, na condição de detentor dos meios legais de transformação, criar leis que tornem obrigatória a remuneração digna desse ofício com inclusão no mercado, além de regulamentar sua valorização. Essa proposta deve ser aprovada por meio de um debate na Câmara dos Deputados e tem como fim acabar com a invisibilidade desse trabalho. Feito isso, a questão deixará de ser um problema do corpo social brasileiro.
Enem 2024
As provas do Enem 2024 serão aplicadas em dois domingos seguidos, nos dias 3 e 10 de novembro deste ano. No total, o exame tem 180 questões objetivas e uma redação, e é dividido da seguinte forma:
- Primeiro dia do Enem - 3/11: prova conta com 45 questões de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias; 45 questões de Ciências Humanas e suas Tecnologias; e a redação (texto dissertativo-argumentativo). O exame começa às 13h30 e termina às 19h.
- Segundo dia do Enem - 10/11: prova traz 45 questões de Ciências da Natureza e suas Tecnologias; e 45 questões de Matemática e suas Tecnologias. O exame inicia às 13h30 e vai até as 18h30.
Nos dois dias, os portões dos locais de prova abrem às 12h e são fechados às 13h (horário de Brasília).