Falta de infraestrutura e acesso à tecnologia estão entre os principais causadores da desigualdade racial em ambientes educacionais no Brasil. Durante um dos painéis oferecidos pelo Fórum Brasil Diverso, os especialistas na área destacaram a importância de exigir políticas públicas que englobem esse público, cujo a maioria é negro, no País.
Receba as principais notícias direto no WhatsApp! Inscreva-se no canal do Terra
Segundo dados apresentados por Lia Glaz, diretora-presidente da telefônica Vivo, frutos do estudo “Tecnologia e Desigualdades Raciais no Brasil”, divulgados em junho deste ano, há desigualdade em relação ao acesso à infraestrutura tecnológicas entre escolas públicas e privadas, mas também quando se faz um recorte racial sobre quem tem acesso a esses lugares e equipamentos.
“Lugares com predominância de alunos negros, por exemplo, tem acesso a infraestrutura menor do que escolas com predominância de alunos brancos. Claro que tem uma questão geográfica, mas também é parte do nosso legado histórico, mas ele também tem impacto na aprendizagem”, destaca Glaz.
Outro ponto abordado na discussão, é como essa desigualdade se comporta no ensino superior. De acordo com a pesquisa, há uma baixa representatividade nas carreiras, em especial, nas de área de exatas como Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM).
“Há uma desigualdade de acesso, mesmo com todo o esforço que vem sendo feito para que se possa dar as mesmas condições de entrada no ensino superior para alunos brancos e negros egressos do ensino médio. E o que isso quer dizer? Embora a gente tenha aumentado a base de alunos negros que vão para o ensino superior, eles vão majoritariamente para cursos que futuramente vão pagar menos e [que são] predominantemente a distância. A gente sabe que tem ali uma questão que é importante para o acesso, porém, não dá as mesmas condições do que os alunos brancos que saem vão para esses cursos mais de elite. Então, a gente continua perpetuando a desigualdade também no ensino superior”, explica.
Ainda durante a conversa, Paulo Batista, CEO do Alicerce Educação, destacou que essa desigualdade é vista na educação básica e que reflete no ensino médio. Ele narrou que em uma de suas experiências, foi convidado para dar aula em um cursinho social e encontrou jovens com problemas para compreender questões simples. “Ali eu entendi o tamanho da profundidade do apagão de aprendizagem que existe na educação pública brasileira e, claro, por esse ‘apartheid racial’ que temos no Brasil, quase todos negros”, explicou.
Segundo ele, para que haja mudanças reais nos números, é necessário um maior posicionamento e cobrança em relação às políticas públicas. Já Verônica Vassalo, gerente de Diversidade e Inclusão do Pacto Global da ONU, apontou a importância de ter uma representatividade em sala de aula, a partir dos professores.
“Tecnologia para eles se resume a estar com o celular na mão ou quando muito é não precisar pensar e ter uma máquina que pensa pra eles. [...] A gente precisa pensar educação pública no nosso país como um plano e esse plano é deseducar porque o público dessa escola é preto, qual é o valor de se olhar pra essa escola preta e falar vamos ensiná-los esse sinal e o que é essa tecnologia que eles têm na mão hoje”, explicou Vassalo.
Partindo para as ações
Ao Terra, Lia Glaz contou que o desejo por mudança começou após a análise de dados de aprendizagem, como recortes do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) e do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), e perceber que existe uma curva de aprendizagem na média do Brasil.
“Quando a gente isolava, tanto por questões de nível socioeconômico quanto raciais, havia uma diferença muito grande entre alunos negros e alunos brancos”, relembrou. “O que a gente percebeu? Que o Brasil tem, sim, melhorado, mas uma melhora desigual”.
Ele pontua que para empresas como a Vivo, que trabalham com tecnologia, olhar para o futuro de estudantes e professores e a questão da equidade é um ingrediente imprescindível. Dentro da empresa, além das iniciativas dentro do campo da pesquisa, também há investimento em parcerias com secretarias municipais e estaduais de educação para a formação de professores.
“Na prática, a gente apoia essas secretarias a formar os professores, a desenvolver conteúdos, planos de aula, a entender como que a gente consegue estimular formadores dessas secretarias de educação a levar adiante esses conteúdos também; e construir sempre numa lógica de que a gente precisa fortalecer a secretaria de educação parceira para que daqui a pouco a gente possa sair. O nosso grande DNA é pensar em como é que a gente ajuda essa figura do professor. Então, esse é o propósito mais central”, explicou.