Falta de infraestrutura e acesso à tecnologia: especialistas destacam desigualdade racial em ambientes educacionais

Durante o Fórum Brasil Diverso, pesquisadores e professores refletiram sobre a importância de políticas públicas na área

31 out 2024 - 20h55
(atualizado às 20h57)
Durante um dos painéis oferecidos pelo Fórum Brasil Diverso, os especialistas na área destacaram a importância de exigir políticas públicas para educação
Durante um dos painéis oferecidos pelo Fórum Brasil Diverso, os especialistas na área destacaram a importância de exigir políticas públicas para educação
Foto: Gabriella Reis/Terra

Falta de infraestrutura e acesso à tecnologia estão entre os principais causadores da desigualdade racial em ambientes educacionais no Brasil. Durante um dos painéis oferecidos pelo Fórum Brasil Diverso, os especialistas na área destacaram a importância de exigir políticas públicas que englobem esse público, cujo a maioria é negro, no País. 

Segundo dados apresentados por Lia Glaz, diretora-presidente da telefônica Vivo, frutos do estudo “Tecnologia e Desigualdades Raciais no Brasil”, divulgados em junho deste ano, há desigualdade em relação ao acesso à infraestrutura tecnológicas entre escolas públicas e privadas, mas também quando se faz um recorte racial sobre quem tem acesso a esses lugares e equipamentos. 

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“Lugares com predominância de alunos negros, por exemplo, tem acesso a infraestrutura menor do que escolas com predominância de alunos brancos. Claro que tem uma questão geográfica, mas também é parte do nosso legado histórico, mas ele também tem impacto na aprendizagem”, destaca Glaz. 

Outro ponto abordado na discussão, é como essa desigualdade se comporta no ensino superior. De acordo com a pesquisa, há uma baixa representatividade nas carreiras, em especial, nas de área de exatas como Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM).

“Há uma desigualdade de acesso, mesmo com todo o esforço que vem sendo feito para que se possa dar as mesmas condições de entrada no ensino superior para alunos brancos e negros egressos do ensino médio. E o que isso quer dizer? Embora a gente tenha aumentado a base de alunos negros que vão para o ensino superior, eles vão majoritariamente para cursos que futuramente vão pagar menos e [que são] predominantemente a distância. A gente sabe que tem ali uma questão que é importante para o acesso, porém, não dá as mesmas condições do que os alunos brancos que saem vão para esses cursos mais de elite. Então, a gente continua perpetuando a desigualdade também no ensino superior”, explica. 

Ainda durante a conversa, Paulo Batista, CEO do Alicerce Educação, destacou que essa desigualdade é vista na educação básica e que reflete no ensino médio. Ele narrou que em uma de suas experiências, foi convidado para dar aula em um cursinho social e encontrou jovens com problemas para compreender questões simples. “Ali eu entendi o tamanho da profundidade do apagão de aprendizagem que existe na educação pública brasileira e, claro, por esse ‘apartheid racial’ que temos no Brasil, quase todos negros”, explicou. 

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Segundo ele, para que haja mudanças reais nos números, é necessário um maior posicionamento e cobrança em relação às políticas públicas. Já Verônica Vassalo, gerente de Diversidade e Inclusão do Pacto Global da ONU, apontou a importância de ter uma representatividade em sala de aula, a partir dos professores. 

“Tecnologia para eles se resume a estar com o celular na mão ou quando muito é não precisar pensar e ter uma máquina que pensa pra eles. [...] A gente precisa pensar educação pública no nosso país como um plano e esse plano é deseducar porque o público dessa escola é preto, qual é o valor de se olhar pra essa escola preta e falar vamos ensiná-los esse sinal e o que é essa tecnologia que eles têm na mão hoje”, explicou Vassalo. 

Partindo para as ações

Ao Terra, Lia Glaz contou que o desejo por mudança começou após a análise de dados de aprendizagem, como recortes do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) e do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), e perceber que existe uma curva de aprendizagem na média do Brasil. 

“Quando a gente isolava, tanto por questões de nível socioeconômico quanto raciais, havia uma diferença muito grande entre alunos negros e alunos brancos”, relembrou. “O que a gente percebeu? Que o Brasil tem, sim, melhorado, mas uma melhora desigual”.

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Ele pontua que para empresas como a Vivo, que trabalham com tecnologia, olhar para o futuro de estudantes e professores e a questão da equidade é um ingrediente imprescindível. Dentro da empresa, além das iniciativas dentro do campo da pesquisa, também há investimento em parcerias com secretarias municipais e estaduais de educação para a formação de professores. 

“Na prática, a gente apoia essas secretarias a formar os professores, a desenvolver conteúdos, planos de aula, a entender como que a gente consegue estimular formadores dessas secretarias de educação a levar adiante esses conteúdos também; e construir sempre numa lógica de que a gente precisa fortalecer a secretaria de educação parceira para que daqui a pouco a gente possa sair. O nosso grande DNA é pensar em como é que a gente ajuda essa figura do professor. Então, esse é o propósito mais central”, explicou. 

Fonte: Redação Terra
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