O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (PSDB) classificou como “razoável” a aposentadoria de R$ 22.150 que recebe mensalmente do orçamento da Universidade de São Paulo (USP). Professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFCLH) da instituição, FHC figura entre os cerca de 29 mil professores e técnicos-administrativos, ativos e aposentados, que, desde o último dia 17, têm os vencimentos divulgados no site da universidade, no Portal da Transparência.
O salário do ex-presidente é um dos 1.972 que ganham acima do teto no Estado de São Paulo –ou seja, que ganham mais que o governador, Geraldo Alckmin (PSDB), cujo vencimento mensal é de R$ 20.662. O Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a redução desses rendimentos a fim de que se adequem ao teto estadual.
O ex-presidente participou hoje do encerramento do ciclo de debates “A USP e a Sociedade”, promovido no auditório do Conselho Universitário, no último mês, pelos 80 anos da USP, comemorados em janeiro de 2014. Ao lado do reitor, Marco Antonio Zago, do ex-reitor (1975-1979) José Goldemberg, do presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Celso Lafer e seu vice, o professor Eduardo Krieger, FHC foi um dos palestrantes do tema “A USP como geradora de conhecimento em padrão de excelência”, sobre a produção acadêmica da instituição.
Em entrevista após o evento, FHC afirmou que a disparidade entre o teto e o que alguns docentes e técnicos recebem “existe e é muito grande em função do passado, (em função de) de decisões judiciais”. “Mas foram as pessoas que ganharam na Justiça. Todo mundo reclama de salário, acha o seu é baixo”, comentou. E o dele, de aposentado, de mais de R$ 22 mil? “O meu da USP é razoável. Sou professor catedrático, não tenho salário de presidente, aposentadoria, acho razoável. Comparado com o que se ganha no setor privado, aí significa muito, porque a aposentadoria do INSS é muito baixa. Não é a USP que é alta, o outro [o do INSS] que é baixo", definiu.
O ex-presidente se aposentou em 1968, à época com 37 anos, nos primeiros anos da ditadura militar. Além da USP, lecionou também em universidades de Stanford e Berkeley, nos Estados Unidos, de Santiago, no Chile, e de Cambridge, na Inglaterra, além da École des Hautes Études en Sciences Sociales, na França.
USP não teve acesso à decisão do STF, diz reitor
Questionado sobre a determinação do STF para redução dos quase 2 mil vencimentos, o reitor da USP afirmou não ter tido acesso ao acórdão da decisão.
Ano passado, a universidade recebeu do governo do Estado pouco mais de R$ 4 bilhões –valor que corresponde a praticamente 5% de todo o orçamento paulista. Atualmente, mais de 100% dos gastos mensais são direcionados a folha de pagamento de funcionários.