Termina hoje a consulta pública para aprimorar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Ainda não se sabe qual será o resultado desse esforço, mas o Terra perguntou a professores e estudiosos de avaliações em larga escola o que eles mudariam no Enem. Confira, a seguir, os principais pontos abordados.
Foco nas competências e no raciocínio
Simon Schwartzman, sociólogo e presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, acredita que o tamanho e o teor da prova devem ser alterados. “A avaliação poderia ser menos carregada de conteúdo e avaliar a capacidade de pensar, o raciocínio matemático, a linguagem e os conceitos científicos utilizados”, afirma.
Para ele, a forma como o exame é aplicado, com questões acumuladas em apenas dois dias, é cansativa e faz com que os alunos fiquem estressados. “Nos Estados Unidos, o SAT [prova que mede o desempenho dos alunos de ensino médio] se faz quando quiser. Há várias datas ao longo do ano, e os alunos podem fazer pelo computador em diversos locais. Existe um esquema de segurança para variar as questões e garantir o sigilo.”
Schwartzman afirma, ainda, que a mudança de caráter da prova prejudicou o exame. “Originalmente, o Enem era uma avaliação do ensino médio, e não o ingresso na universidade. Ao mudar o teste, ele virou um monstro”, argumenta, apontando que são muitas pessoas concorrendo a poucas vagas.
Prova regional e computadorizada
Ex-coordenador da Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp (Comvest) e professor de física da universidade, Maurício Kleinke defende a regionalização do Enem. “Não há um currículo nacional tão bem estabelecido que permita uma avaliação consistente”, critica. Especialista em avaliações de larga escala, ele aponta que as disparidades podem favorecer determinadas regiões. “Há diferenças culturais muito importantes para serem desprezadas. Você apresenta uma imagem de pinheiro em geografia ou biologia e é claro que as pessoas do sul vão levar vantagem nessa questão, assim como perguntar sobre o cerrado para quem mora no cerrado”, aponta.
Para o professor, ter provas diferentes também reduziria a probabilidade de vazamento de questões. “Poderia ter uma aplicação simultânea, mas as provas seriam diferentes. Para melhorar a logística, o ideal é a implementação de centros estaduais do Enem, locais onde as pessoas realizariam a prova em computadores”, avalia.
Mais tempo, menos questões e regionalização do ingresso
Para o professor Paulo Jubilut, um dos autores do Guia Enem, o exame deve ser alterado na estrutura de aplicação e formulação das provas. No lado mais prático, ele acredita no aumento de uma hora no tempo de prova em cada um dos dias e na redução de conteúdos na prova, mudando de 180 para 140 questões.
A prova online, com banco de questões sorteadas aleatoriamente, é vista pelo professor com desconfiança, apesar de ele acreditar que isso reduziria o problema logístico. “O problema é saber se realmente o nível das questões de um aluno será o mesmo que do outro aluno. Se não for feito um bom sistema de classificação da dificuldade dessas questões, podem ocorrer injustiças”, lembra.
O especialista também menciona a regionalização, mas por um viés distinto, voltado para o ingresso universitário. “Acho que é possível limitar a escolha do curso por região. Hoje, os alunos das regiões norte e nordeste perdem vagas nas suas universidades para alunos do sul e do sudeste. Estes, por sua vez, depois que terminam o curso, voltam para suas regiões. A mão de obra qualificada não fica onde mais se necessita dela, e as pessoas que são dessa região não conseguem se qualificar. O Enem não é uma prova democrática”, defende.
Para o professor Jubilut, a redação também precisa ser revista - ou até mesmo retirada do exame. “Existem estudos que mostram a relação entre número de acertos e nota da redação. Quanto mais questões o aluno acerta, melhor ele escreve. Se já sabemos isso, para que manter a redação?”, questiona.