A bagunça era grande na turma da quinta série da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Érico Veríssimo, em São Paulo. Então, o professor de história Caio Cândido Ferraro puxou o cubo mágico da mochila e começou a resolvê-lo. Em pouco tempo, as crianças estavam paradas, observando a brincadeira. Ele viu no instrumento uma possibilidade de auxiliar no desenvolvimento dos alunos. Hoje, na E.M.E.F Morro Alto, na Freguesia do Ó, também em São Paulo, desenvolve um projeto com 25 estudantes.
Popularmente associado com a matemática, o brinquedo é útil em outras disciplinas, diz Ferraro. Para ele, as principais vantagens da adoção do cubo são o desenvolvimento cognitivo e o aumento da autoestima das crianças. “Muitos alunos que tinham dificuldades de aprendizado melhoraram seus resultados na escola depois do projeto”.
Com o sucesso do trabalho, a escola começou a participar de campeonatos. Em alguns deles, os estudantes sentiram preconceito por serem os únicos participantes da rede pública. A solução foi unir o grupo com camisetas padronizadas - os competidores ficaram mais felizes e confiantes.
Em um torneiro realizado no Colégio Joana D’Arc, em São Paulo, em 9 de novembro, Ferraro levou 13 alunos. Muitos deles tiveram um desempenho melhor que o próprio professor, como Flávio, de oito anos. Após ver os resultados finais, o aluno foi correndo contar vantagem sobre Ferraro, que também comemorou. “É o sonho de todo o educador, ser superado pelo aluno.”
Professor de matemática, Rafael Cinoto é representante da Associação Mundial de Cubo Mágico no Brasil. No Joana D’Arc, porém, ele está encarregado de outra disciplina: cubo mágico. Lá, o primeiro conteúdo abordado com o brinquedo é a geometria, uso mais comum nas escolas que visita para dar palestras. “Para atrair a atenção do aluno, o professor leva o cubo para ilustrar a aula”, diz. Explicar o que é um cubo, por exemplo, fica muito mais fácil. Mas outros conceitos podem ser incluídos nessas aulas, como o significado de uma aresta, uma face ou um vértice.
O maior objetivo da aula de cubo, no entanto, é aumentar a concentração, a disciplina e a sociabilidade. Como montar o brinquedo envolve uma série de passos, o estudante precisa prestar atenção às dicas e aplicar esse conhecimento na prática. O aumento de disciplina aparece, por outro lado, pelo fato de os alunos precisarem manter uma rotina de estudos e de treino, para se superarem a cada tentativa.
Você pode estar se perguntando: mas se a criança brinca com o cubo sozinha, como isso pode ajudar na socialização? Cinoto explica que elas se juntam para brincar cada uma com seu cubo. Ou seja, a partir da brincadeira, têm um assunto em comum para discutirem com seus colegas e familiares. “Notei que o cubo é um brinquedo do qual quem mais gosta são as crianças mais introspectivas”, acrescenta. Os campeonatos também pesam na capacidade comunicativa.
O aumento da autoestima também é exaltado pelo professor Gilson Sousada Silva, que ensina cubo mágico na Escola Municipal de Ensino Infantil e Ensino Fundamental Adão de Lima, em Pinhalzinho (SP). “A criança vê uma coisa que ela consegue e que muitos adultos não”. Para o professor, o brinquedo é semelhante ao xadrez, pois exige envolvimento e concentração, que as crianças acabam levando para outras disciplinas.
Depois do primeiro ano dando aulas de cubo mágico no Joana D’arc, Cinoto relata que recebeu apenas uma reclamação por parte dos pais: uma mãe que questionou a direção quanto à ausência de aulas tradicionais. “A maioria dos pais agradece. Dizem: ‘finalmente ele largou o computador, o videogame’”, conta o professor.
Campeão de 15 anos monta cubo com os pés
O torneio do Joana D’Arc foi disputado em várias categorias conforme o tipo de cubo, além da modalidade com os pés. O campeão não foi surpresa. Gabriel Campanha, de 15 anos, venceu o campeonato resolvendo um cubo mágico com os pés em 38 segundos. Rápido? Não para o próprio, que é recordista mundial, com o tempo de 25,14 segundos.
Estudante do primeiro ano do ensino médio, Campanha começou a resolver cubos mágicos por influência de um colega, na quinta série. Então, buscou tutoriais na internet com as técnicas de resolução. Na procura pelas dicas, o garoto descobriu os campeonatos e, nos últimos dois anos e meio, acumulou vitórias. Em dezembro de 2013, participando de um campeonato em São José dos Campos (SP), estabeleceu o recorde mundial. Gabriel explicou que a motivação para usar os pés veio da busca por desafios. “Com as mãos é muito fácil.”