Fundações oferecem bolsas para pós-graduação no exterior

1 mai 2014 - 12h35

Cursos de mestrado e especializações no exterior têm um alto custo para o estudante brasileiro. Segundo a Fundação Estudar, o preço de um mestrado nas melhores universidades norte-americanas, de acordo com rankings internacionais e com aulas pela manhã e à tarde, vai de US$ 20 mil a US$ 70 mil por ano. Além do valor do curso, é preciso considerar os gastos com estadia, alimentação e transporte, entre outros, durante o tempo da pós-graduação – tudo isso na moeda estrangeira.

Em universidades do Brasil, os alunos podem contar com bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do programa Ciência Sem Fronteiras, todos ligados ao governo federal. Por meio desses programas, também é possível se candidatar para vagas no exterior. Mas existem ainda alternativas, como as bolsas da Fundação Estudar ou do Instituto Ling, além da iniciativa privada: não é incomum empresas pagarem bolsas parciais ou integrais para que seus funcionários aprimorem seus estudos.

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Quem deseja uma experiência fora do Brasil pode tentar primeiro o programa de bolsas da própria instituição onde vai fazer a pós. A gerente da Fundação Estudar, Renata Moraes, recomenda ainda, em casos de bolsas parciais, que o aluno busque benefícios complementares em outras instituições relacionadas à sua especialidade. Muitas universidades no exterior têm parcerias com instituições bancárias e, às vezes, o próprio vínculo com o curso pode ser usado para facilitar o financiamento do estudante junto a esses bancos.

As bolsas que a Fundação Estudar oferece são parciais, e os alunos são selecionados de acordo com o seu perfil e potencial intelectual. Em 2014, foram 30 alunos selecionados entre 60 mil inscritos de diferentes áreas, segundo Renata. A fundação determina o valor da bolsa de acordo com a renda de cada aluno e recomenda ao estudante manter uma poupança, além de considerar trabalhar para se manter lá fora durante um período de até dois anos. Na Europa e nos Estados Unidos, é comum que os alunos realizem estágios de férias em que as empresas pagam por dois ou três meses de trabalho.

O Instituto Ling oferece bolsas parciais para alunos que já tenham sido aceitos em cursos de mestrado no exterior nas áreas de administração, jornalismo e direito. Segundo a coordenadora do instituto, Sandra Mofcovich, têm preferência alunos matriculados em instituições de excelência. Ela explica que o critério existe porque, como há boas instituições aqui no País, para ir para o exterior o curso precisa ser melhor dos que as opções no Brasil. O custo médio dos cursos no exterior nas áreas atendidas pelo instituto é de US$ 150 mil. De acordo com Sandra, para a seleção dos bolsistas também é feita uma análise da renda do aluno.

O mestrando com bolsa do Instituto Ling começa a receber o dinheiro após cumprir a metade do curso, e é permitido que o aluno acumule bolsas de outras instituições. A entidade já ofereceu 196 bolsas de mestrado em seus 18 anos de atuação, um investimento de US$ 3,8 milhões, segundo Sandra.

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"Venda" seu projeto para uma empresa

Os projetos desenvolvidos por alunos com bolsas de instituições ou de empresas privadas podem ser direcionados para que a pesquisa seja aproveitada futuramente na empresa apoiadora. Segundo a Capes, não existe nenhuma regra sobre a propriedade intelectual dos trabalhos realizados pelos alunos de mestrado e pós-graduação. Para a Capes, que avalia e recomenda os cursos de mestrado e doutorado no País, o aluno é livre para definir o que fazer com a pesquisa de sua autoria, e o único caso em que se deve ter mais cautela na análise é com pesquisas que geram patentes, quando o aluno precisa verificar se houve acordos com empresas ou mesmo com setores das universidades.

A presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), Luana Bonone, diz que a entidade não vê problemas nos casos em que empresas financiam a especialização de seus funcionários. Mesmo que esse aluno tenha que produzir uma pesquisa voltada para a empresa, essa é uma iniciativa que complementa as bolsas oferecidas pelo governo e proporciona a mais alunos o acesso à especialização. A ANPG não tem registro de nenhum relato ou denúncia de problemas com relação à liberdade de pesquisa.

A principal reivindicação da entidade é que o Estado aumente a capacidade de bolsas oferecidas, já que hoje o número de bolsistas na pós-graduação não chega a 50% do total de estudantes (somando todas as bolsas oferecidas pelo governo federal e pelos Estados). Essas bolsas que não resultam de investimento do setor privado garantem ao aluno a escolha do tema de sua pesquisa. A democratização do acesso é importante para o desenvolvimento do País, segundo Luana.

O professor do departamento de Política Científica e Tecnológica Renato Pedrosa, que participou do Grupo de Estudos em Ensino Superior do Centro de Estudos Avançados da Universidade de Campinas (Unicamp), diz que não existe nenhuma regra quanto a alunos que realizem projetos voltados para a empresa em que trabalham. “Isso é bastante comum nas áreas da tecnologia, economia e química”, diz. Segundo o professor, os mecanismos de controle que a universidade têm sobre a pesquisa dos seus alunos se restringem às avaliações do tema do projeto no momento da admissão, na qualificação e na aprovação final.

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Segundo o professor, apesar de não haver restrições, as bolsas mais comuns entre os estudantes da Unicamp são as da Capes, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do CNPq, mas também existem alunos que recebem incentivo do empregador e desenvolvem projetos voltados para a empresa.

A coordenadora geral de Pós-Graduação Stricto Sensu da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Angélica Benatti Alvim, destaca a diferença entre o mestrado acadêmico e o mestrado profissionalizante. Na área acadêmica, a maioria dos alunos estão interessados em pesquisa e ensino, enquanto na profissional, que não é atendida pelas bolsas da Capes, há muita integração com as empresas privadas. A forma do aluno receber uma bolsa nessa modalidade de mestrado é por meio da empresa em que trabalha; esta investe na qualificação do seu funcionário com a expectativa de ter a contrapartida do pesquisador desenvolver um projeto útil para ela.

Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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