A greve da Universidade de São Paulo (USP), que ultrapassou os 100 dias, começou motivada pelo anúncio de que professores e servidores não receberiam reajuste salarial. A paralisação, porém, foi seguida por estudantes segundo o projeto Censo Universitário, organizado por alunos da Escola Politécnica da USP, que divulgou recentemente que 77% dos alunos concordam com a greve de pelo menos um dos três segmentos.
A paralisação dos funcionários foi a que recebeu o maior índice de aprovação, 68%, seguida pela greve dos professores, aprovada por 57% dos 869 participantes da pesquisa. Já a paralisação dos alunos conta com o apoio de apenas 24% dos entrevistados.
Mesmo com apoio de grande parte dos estudantes, a greve não deixa de registrar histórias de prejuízo a alunos. O estudante de Direito Daniel Costa conta que teve problemas por causa da paralisação e acabou não conseguindo se matricular em uma disciplina, ainda assim, ele é favorável ao movimento e acredita que os funcionários não podem arcar com o ônus da crise orçamentária. “Funcionários e estudantes são o grupo com menor poder de decisão. Eles não podem pagar pelos erros administrativos da USP.” Na mesma linha, Felipe Alex, estudante de Veterinária, reconhece que a greve traz transtornos, mas acredita que é necessária. “Não existem canais de diálogo. Então, essa é a única forma de pressionar a reitoria.”
Reivindicações dos alunos
Bruno Carvalho é estudante de Geografia e diretor do Diretório Central dos Estudantes (DCE). Ele explica que o movimento discente não ocorre apenas em apoio aos outros setores, mas também apresenta uma pauta própria. Por outro lado, Costa acredita que a pauta é justa, mas discorda da condução. “Acho que piquete é ineficaz, principalmente de estudante. Acaba afastando as pessoas.”
Entre as exigências estudantis estão políticas de permanência na universidade, ampliação do acesso às vagas com cotas raciais e sociais e maior investimento do governo de São Paulo nas instituições de ensino superior. “A USP aumentou o número de vagas, criou cursos novos, mas o repasse do governo continua sendo o mesmo. Queremos que o investimento aumente para 11,67% da arrecadação do ICMS do Estado”, explicou Carvalho.
Segundo a pesquisa, 53% dos universitários concordam com o aumento do repasse, 23% discordam e 24% não têm opinião formada. Para o estudante de Veterinária Felipe Alex, o aumento de verba precisa ser exigido por toda a comunidade acadêmica, mas acredita que falta apoio da reitoria. “O reitor não está do lado da USP, ele defende o governo do Estado.”
Além do aumento do repasse, outras soluções foram discutidas na pesquisa. A cobrança de mensalidades é rejeitada por 87% dos alunos, 60% dos estudantes também são contra a redução do número de vagas em cursos de menor procura. A proposta mais polêmica é a da terceirização dos funcionários: 36% dos alunos são contrários, 35% não têm opinião formada e outros 28% são favoráveis. Para Carvalho, a proposta, somada ao plano de demissões voluntárias, pode resultar na precarização dos serviços da universidade.
Outra reivindicação dos grevistas é a maior participação nas estruturas administrativas da USP. Carvalho critica o que chama de “estrutura de poder conservadora”, em que os rumos da universidade são decididos pelo reitor e um pequeno grupo de pró-reitores. Costa concorda, mas critica a falta de participação do DCE nos espaços de decisão. “Mais de uma vez, o DCE foi chamado para reuniões do conselho e não mandou um representante discente. Aí a reivindicação perde a razão.”
A pesquisa do Censo Universitário também aponta que 75% dos estudantes acredita que o governo estadual deveria aumentar a fiscalização sobre a administração da instituição. Para Alex, as contas precisam ser mais transparentes, mas ele discorda que o controle deva ser realizado pelo governo estadual. “Não dá para confiar, o reitor é escolhido pelo governador.” A escolha do reitor e vice-reitor da USP é feita pelo governador de São Paulo, que recebe uma lista com três nomes apontados por consulta à comunidade acadêmica.