“Negócios significam 'você morre – eu vivo?' Então se for assim 'trato é trato' é uma mentira.”
Sidney Lanier- Poems, 1875
Não importava a quantia de dinheiro que ele já houvesse amealhado. Sempre que John Davison Rockefeller se dirigia para inspecionar os campos petrolíferos de Ohio ou da Pensilvânia, sua roupa era a mesma. Um traje escuro, gasto e mal alinhavado, fazia a vez do seu uniforme de campanha. Ao chegar à idade de Cristo já o consideravam um dos homens mais ricos da América do Norte, o que não o impedia de divertir-se com sua própria sovinice. Certa vez, depois de ter convidado um casal para passar umas semanas de verão com ele na sua bela propriedade em Forest Hill, em Cleveland, Ohio, Rockefeller mandou-lhes uma conta de U$ 600 pelos gastos com a comida.
Vendo o efeito devastador que o excesso de dinheiro fazia com os filhos de seus conhecidos ricos, ele tratava sua gente a pão e água. Ron Chernow, o seu mais recente biógrafo (Titan: the life of J.D.Rockefeller, Sr.), conta que quando recentemente se reuniu com os descendentes de J.D., uns 60 mais ou menos, pareceu-lhe que se encontrava num clube de classe média.
Foi depois da grave crise de 1872 que Rockefeller, cansado dos sobressaltos do mercado, tomou a decisão de acabar com a anarquia do negócio do petróleo nos Estados Unidos. Seu instrumento, ou melhor, seu tacape, foi a Standard Oil Co, fundada por ele e mais quatro sócios em 1870. Com ela ele travou a Oil War, a Guerra do Petróleo. Na Zona Petrolífera daquela época, extraindo a tinta negra, existiam uns 16 mil produtores. Era um “campo de mineiros”, como ele disse. Cada um com seu preço, cada qual voltado para o seu próprio negócio. Na distribuição, centenas de refinarias espalhadas pelos quatro cantos da América, eram as ferrovias que ligavam uns com os outros. Rockefeller aproximou-se das ferrovias pagando-lhes os fretes com dinheiro antecipado, enquanto montava uma operação de cerco às refinarias rivais. Em cada lugar onde uma delas funcionava, de repente, vindo como se do nada, aparecia um sujeito com uma proposta de compra tentadora.
Mas ai do teimoso! Se não transferisse a propriedade num estalar de dedos, J.D. fazia baixar os preços a tal ponto que o pobre homem, impossibilitado de competir com um gigante, não demorava a aparecer na sua frente de chapéu na mão, humilde, dizendo sentir-se honrado em poder vender o que tinha e o que não tinha para Rockefeller. Este modo de operar ele apelidou de “extrair a gota gorda”.
O poder acumulado em apenas sete anos (de 1872 a 1879) fez com que concentrasse na Standard Oil Co. 84% do refino do petróleo americano. Uma das suas artimanhas mais espantosas foi quando convenceu as ferrovias a “recompensá-lo” em 0,25 em cada 1 dólar por transportar a carga dos concorrentes. Até no momento em que os seus rivais faziam uma entrega, J.D. levava o dele. Claro que nada disso o tornava popular. Desde então passou a ser considerado um dos homens mais odiados da América de então.
A lei antitruste favoreceu Rockefeller
Ida Tarbell, a grande jornalista investigativa, publicou em 1904 uma sensacional série de reportagens sobre a companhia (The History of the Standard Oil Co.) que indignou o país. Nos anos seguintes a Standard Oil não parou mais de sair dos tribunais até que, em 1911, a Suprema Corte confirmou a obrigação dela dividir-se em 39 outras empresas. Nada disso, porém, afetou financeiramente J.D. Recusando a sugestão de vender parte das suas ações, Rockefeller, que era dono de 24% delas, ainda ficou duas vezes mais rico. Se o invento de Édison, a lâmpada elétrica, ameaçava o futuro do querosene (o pão quente da Standard Oil, na época), um ex-funcionário desse mesmo Édison, um engenhoso mecânico chamado Henry Ford, garantiria, com a fabricação do automóvel Modelo T – um carro para as massas -, décadas e mais décadas de prosperidade ao clã dos Rockefeller.
É bem possível que o mesmo se repita com Bill Gates. Terminado o processo onde lhe aplicarão os rigores da Lei Sherman Antitruste, de 1890, o patrimônio de Bill Gates certamente irá alcançar as nuvens (como se já não estivesse nelas). E o motivo é bem simples. Da mesma maneira que a gasolina de John D. Rockefeller fazia o Ford andar, os programas da Microsoft de Bill Gates fazem um computador funcionar. E alguém ainda tem dúvida de qual será o veiculo do século XXI?
(*) Num estudo de comparação das fortunas concluiu-se que o patrimônio de Rockefeller seria superior a de Gates.