Ao jovem Pico della Mirandola, filósofo neoplatônico, devemos a abertura para a individualidade, auxiliando ao nascente individualismo as condições éticas e psicológicas para que eles conseguissem libertar-se das amarras familiares, herança arcaica do feudalismo, que ainda represavam o homem do Renascimento. Para ele não temos uma natureza fixa determinada por Deus, assegurou na sua Oratio de Hominis Dignitate, o Discurso sobre a dignidade humana, de 1487.
Ao contrário, somos uma possibilidade aberta a várias alternativas, cabendo exclusivamente a nós como indivíduos, a nossa própria vontade, que norte dar a nós mesmo e ao nosso caminho. Deus não nos deu o destino, mas sim liberdade para forjar um. O texto de Pico foi uma antecipação do existencialismo de Sartre de cinco séculos.
“Eu não te dei” diz Deus a Adão, “ nem um lugar determinado, nem um aspecto próprio, nem qualquer prerrogativa só tua, para que obtenhas e conserve os aspectos e as prerrogativas que desejares, segundo a tua vontade e os teus motivos. A natureza dos astros está contida dentro das leis por mim escritas.
Mas tu determinarás a tua sem estar constrito a nenhuma barreira, segundo o teu arbítrio, a cujo o poder eu te entreguei, coloquei-te no meio do mundo.
Não te fiz celeste nem terreno, mortal nem imortal, para que, como livre e soberano artificie, tu mesmo te esculpiste, te plasmasse na forma que tiveres, escolhido.
Tu poderás degenerar nas coisas inferiores, que são brutas, e poderás, segundo o teu querer, regenerar-te nas coisas superiores, que são divinas”.
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