IA pode ser utilizada com sucesso mesmo na educação básica

Existe um enorme temor pelo impacto da ferramenta na questão avaliativa dos alunos

26 jul 2023 - 09h24
(atualizado às 12h01)
Foto: Adobe Stock

Quando educamos uma pessoa, o objetivo é formar um indivíduo capaz de interpretar o mundo à sua volta para tomar decisões e fazer escolhas diante dessa realidade. No entanto, de tempos em tempos convivemos com transformações tão profundas que a maneira como o processo educacional é construído precisa passar por uma revisitação. 

E esse movimento está acontecendo neste exato momento. Impulsionado pela celeridade no desenvolvimento e difusão da inteligência artificial, temos observado claros gestos de readequação em vários setores.

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Na educação básica, por exemplo, temos visto um enorme temor principalmente pelo impacto da ferramenta na questão avaliativa dos alunos. Isso porque, o estágio atual da IA, popularizada sobretudo pelo ChatGPT, já permite que, em poucos comandos, o estudante tenha em suas mãos uma ferramenta capaz de resolver problemas ou exercícios escolares de forma imediata. 

No entanto, a verdade é que isso é o menor dos problemas pensando no processo de aprendizagem. Mesmo porque, condutas controversas voltadas à driblar os mecanismos de avaliação já existem desde que era uma criancinha. O que deve acontecer, assim como já ocorreu anteriormente, tal como na época da popularização do Google, é uma readaptação.

Um novo método de estudos e pesquisas

O grande cerne passa realmente pelo desenvolvimento de um novo método de estudos e pesquisas. Até porque, toda a forma de relacionamento do estudante com o conteúdo já está sendo totalmente transformada perante o avanço da IA. 

Atraídos pela facilidade e o alto nível de assertividade das respostas disponibilizadas pela tecnologia, os alunos tendem a deixar o seu crivo crítico de lado para utilizá-las praticamente de forma automática. Isso porque as narrativas construídas pelas ferramentas são expostas de tal forma que será, ou melhor, já está sendo difícil criar qualquer tipo de resistência. 

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Já existe até mesmo uma definição teórica que dá nome ao fenômeno. Trata-se do “dadoísmo”. Mencionado pela primeira vez em 2013, pelo jornalista David Brooks, o conceito descreve como os insumos gerados pelas ferramentas tecnológicas geram padrões comportamentais na sociedade, e como ela acaba se utilizando dessas informações para guiar a sua vida, ainda que de forma involuntária.

Como preparar os alunos

O grande desafio do momento na educação passa pela preparação dos alunos em relação à interpretação e análise de todas as narrativas expostas pelo ecossistema à sua volta. Quando digo isso, vale ressaltar, não falo somente relacionado a qualidade dos conteúdos, o que já é uma dificuldade e tanto, mas sobre a veracidade dos mesmos.

Afinal, não podemos esquecer que a IA apresenta uma capacidade de produção em massa de conteúdo, alavancando tanto a criação de concepções positivas, como também para a elaboração de conteúdos falsos – as chamadas deepfake. 

Além disso, vale reforçar que a atual capacidade técnica das IAs, especialmente o Chat GPT, ainda apresenta algumas ‘alucinações’, fenômeno em que ela não identifica uma resposta adequada para a solicitação do usuário e acaba entregando dados e informações aleatórias para solucionar a dúvida.

Nesse sentido, o combo entre a absorção praticamente sem qualquer crivo por parte dos alunos e os perigos existentes dentro dos conteúdos reproduzidos pelas plataformas, sobretudo na questão da genuinidade, traz uma ameaça pela formação de uma geração pouco autônoma em suas decisões. Sem uma regulamentação sobre o conteúdo reproduzido, ou uma discussão maior sobre o uso das IAs na formação educacional, corremos o risco de impulsionar a narrativa gerada artificialmente como uma verdade absoluta a ser seguida.

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O potencial benéfico para a educação

Por outro lado, há de se ressaltar também o potencial benéfico, se bem utilizada, que acompanha a tecnologia, sobretudo na própria educação. Um exemplo prático é a construção de narrativas antagônicas entre si e a criação de discussões para que os estudantes possam exercitar o seu pensamento crítico perante diferentes pontos de vista.

Prós e contras a parte, o surgimento de uma nova ferramenta de tamanho potencial, como é o caso da IA, traz consigo uma possibilidade de alavancar ainda mais os métodos de ensino e de formação de toda uma geração. Nesse caso, é preciso que o ecossistema escolar deixe o saudosismo de lado e utilize tudo aquilo que já aprendemos, mesmo que por meio de metodologias mais arcaicas, para decidir qual o melhor caminho a ser seguido neste novo mundo. 

Até porque a educação segue e continuará sendo a base mais importante para uma sociedade emocionalmente saudável.

(*) Jaime Ribeiro é CEO e cofundador da Educa. É autor de diversos livros que abordam competências socioemocionais.

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