Imagens de uma competição esportiva universitária no interior de São Paulo viralizaram na última semana, mostrando estudantes que ficaram nus e tocaram as partes íntimas durante um dos jogos. Relatos de outros estudantes que estavam no ginásio aponta que as humilhações a calouros são frequentes e até mais cruéis.
Durante um jogo de vôlei feminino, ao fundo da quadra, um grupo de homens exibe e toca as partes íntimas. Em outro vídeo, estudantes da Universidade Santo Amaro (Unisa) abaixam as calças e correm pela quadra.
Após os vídeos virem à público, estudantes e autoridades começaram a cobrar punições a estes alunos. Quinze alunos do curso de Medicina da Unisa foram expulsos. O caso também foi registrado pela Polícia Civil de São Carlos, onde ocorreram os jogos universitários. A Polícia irá ouvir os envolvidos nos próximos dias e investiga os crimes de ato obsceno e importunação sexual.
Os alunos que foram identificados pela Unisa no vídeo foram expulsos, além de outros que foram apontados por meio de denúncias.
O programa Fantástico, da TV Globo, exibiu neste domingo, 24, uma reportagem em que o advogado da universidade disse que a instituição de ensino não tem relação com os evento. "Esses eventos não têm nenhuma relação com a universidade, inclusive o próprio estatuto da atlética reconhece essa independência e essa autonomia. Não é exatamente uma surpresa para nenhum aluno esse tipo de punição", disse Marcos Aurélio Carvalho.
Especialistas afirmaram ao Fantástico que as punições individuais não teriam eficácia, e que medidas socioeducativas seriam uma forma melhor de lidar com o problema.
"É importante você ter medidas socioeducativas, por exemplo. Eles vão frequentar o hospital da mulher durante um mês, acompanhando o atendimento de estupro, de violência contra a mulher e contra as pessoas. Isso sim vai poder ensinar. Que muitas vezes eles não entendem aquilo como um ato violento", disse Sérgio Baldassin, professor no Departamento de Neurociências da Faculdade de Medicina do ABC ao Fantástico.
Humilhações
Após a repercussão do caso, outros vídeos de calouros passando por humilhações vieram a público. As situações constrangedoras fariam parte dos trotes de Medicina.
Entre as situações, os alunos precisaram se juntar em uma roda e pular sobre fogos de artifício soltando faíscas. Outro vídeo mostra dois calouros em luta corporal na lama, incentivados por veteranos. Mais imagens exibem calouros nus em uma corrida. As situações acontecem sob ameaças dos estudantes mais velhos.
De acordo com uma testemunha, são feitas ameaças, inclusive, ao futuro destes estudantes no mercado de trabalho.
Os ataques também envolvem cuspe, xingamentos e até arremesso de uma mistura de urina e fezes nos calouros.
Respostas
Cinco alunos expulsos se manifestaram por meio de seus advogados, conforme o Fantástico. A defesa de dois estudantes afirma que seus desligamentos foram sumários, sem direito ao devido processo legal e à ampla defesa.
Os advogados de outros três alunos dizem que "atos infelizes" foram "impostos aos calouros pelos veteranos da universidade". Que essa conduta inclui "agressões, ofensas e humilhações". E que "não se trataram de atos isolados, mas de algo que vem acontecendo já há muitos anos nessas universidades".
Em nota, a Atlética José Douglas Dallora, da Unisa, disse por meio de advogados que "eventuais episódios de trote, violência e atos obscenos são individualmente praticados por agentes autônomos, os quais não representam a instituição".