Números, fórmulas e muitos cálculos foram os responsáveis por rechear o quadro de medalhas de Hana Albuquerque, uma jovem amazonense de 19 anos que está se preparando para estudar química no Massachusetts Institute of Technology (MIT), uma das mais renomadas universidades dos Estados Unidos e do mundo.
Neta de avós ribeirinha indígena, Hana não contou apenas com os estudos de química e matemática, mas também coisas do dia a dia para conseguir a vaga na faculdade no exterior. Diferente do modelo de ensino brasileiro que avalia os alunos apenas com o vestibular, as instituições internacionais levam em consideração toda a jornada do candidato.
A pandemia fez com que o tempo de estudos fosse dividido com outras simples atividades, como ouvir música, cozinhar e pular corda. Porém, a paixão pela química já era um amor antigo e que falava mais alto.
O relacionamento com as fórmulas começou com a matemática ainda no Ensino Fundamental. Na época, Hana conheceu a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), inscreveu na competição e acabo com a medalha de prata. “Lembro até hoje quando estava me preparando para a minha primeira participação na OBMEP. Eu ainda não tinha conhecimento em química, mas decidi me dedicar e acabei estudando todos os conteúdos de química do 1º ano do Ensino Médio”, recordou em entrevista ao Terra.
Se ainda faltava um empurrãozinho para aprofundar os conhecimentos químicos, ele chegou após uma reportagem na TV exaltando o desempenho da equipe brasileira na Olimpíada Internacional de Química, em 2018. A cearense Ivna Gomes e o paulista Vinicius Armelin se tornaram os primeiros brasileiros a conquistar a medalha de ouro na competição disputada na República Tcheca e na Eslováquia. A equipe também tinha João Victor Pimentel e Orisvaldo Salviano, que conquistaram prata e bronze. Ivna, por sinal, chegou a ser professora de química da jovem amazonense, e Orisvaldo também estudou no Massachusetts Institute of Technology.
A dedicação nos estudos levou Hana a ganhar diversos prêmios. Além de possuir um ótimo desempenho escolar, ela também se destacava por ser proativa e envolvida em atividades extracurriculares.
Desde o ensino fundamental, a estudante é envolvida em projetos de pesquisa e grupos de estudos. Já deu aulas de reforço em química e matemática e foi voluntária em escrita de materiais preparatórios para Olimpíada de Química.
Segundo Hana, o objetivo é retribuir todo o carinho e ajuda que recebeu em sua jornada: "É muito tenso parar para pensar em tudo o que estou vivendo. Eu venho de uma origem simples, e ainda não caiu a ficha de que terei essa oportunidade de sair do meu País, do meu estado para estudar em uma universidade tão prestigiada.”
Avaliação MIT e dicas de estudo
Para se preparar para o application [nome dado a todo o processo de seleção de novos alunos para as universidades dos EUA], a amazonense apostou nas séries e filmes. O seriado infantil Violetta, da Disney e produzido na Argentina, foi um dos grandes aliados no processo.
“A série é toda em espanhol, mas o espanhol argentino é muito rápido. Geralmente os diálogos da série não são complexos. Então optei por assisti-la com tradução para o inglês e isso me ajudou muito", relembrou.
Hana também destacou que o processo seletivo foi muito diferente do que ela esperava. Antes de conquistar a bolsa de estudos para o MIT, ela foi aprovada em química na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
“Para o vestibular de Campinas, eu me preparei, estudei química, matérias e revi assuntos de ciências humanas, do Ensino Fundamental e Médio. Já para o MIT, precisei preencher muitos documentos e mostrar uma espécie de portfólio que construí no decorrer da minha vida. Essa foi a forma de avaliação”, explicou.
Após a aprovação, Hana precisou enviar um exame de proficiência, o que ela escolheu para utilizar foi o Duolingo [que já é aceito em muitas instituições estrangeiras]. O passo seguinte foi a entrevista em inglês e o ajuste da papelada para encaminhar para a instituição.
Nos próximos anos, além de química, Hana vai aprender e participar de projetos acadêmicos de outras áreas. O sonho é cursar engenharia química e voltar para o Brasil com soluções ambientais e de saneamento básico para o Amazonas.
O ano letivo começa em agosto. Por enquanto, ela tenta segurar a ansiedade e está aproveitando o momento para se conectar com suas origens e aprender coisas novas para distrair a mente. "Quero aprender a fazer muitos pratos típicos amazônicos e brasileiros para me sentir mais perto de casa quando estiver fora do Brasil”, brincou.