Uma vez que nos envolvemos na leitura de um bom livro, logo fazemos parte da história. Aprendemos palavras novas, conhecemos novos sentimentos e, em múltiplos casos, até perdemos a noção do tempo. O amor pela leitura é algo compartilhado por pessoas de todas as idades. O mesmo vale para os pequenos.
Receba as principais notícias direto no WhatsApp! Inscreva-se no canal do Terra
Não é novidade que crianças que possuem o hábito de ler têm um melhor desempenho na escola, são espertas e possuem um vocabulário rico. No entanto, muitos pais e responsáveis ficam na dúvida de quando é o momento de introduzir o primeiro livrinho ou como motivar mais a atividade, especialmente na primeira infância (do nascimento aos 6 anos de idade).
Usando como base a Sociologia da Infância, Anete Abramowicz, professora e doutora em Educação na Universidade de São Paulo (USP), defende que a leitura é algo que deve ser trabalhado desde cedo com as crianças.
“A primeira infância é o momento em que ocorrem as primeiras iniciações sociais: a primeira ida a um espaço público, se o bebê e a criança vão às creches. A primeira amizade, as primeiras percepções, a produção do paladar, os primeiros processos de socialização, na qual há uma relação de dupla mão, elas são socializadas e socializam o mundo ao redor. Nestas primeiras iniciações sociais, a leitura é um dispositivo social que pode ser acionado desde cedo”, explica em entrevista ao Terra.
Ela detalha que ver as imagens do livro, ouvir o adulto contar a história, mudar as páginas, a sonorização das palavras, todas essas múltiplas percepções podem vir a ser potentes e afetivas tanto para o adulto quanto para o bebê ou criança.
“O livro introduz um terceiro elemento na relação adulto criança cujo objeto é lotado de palavras imagens representações sentidos e histórias que podem colocar ambos em outro espaço e tempo por meio do que se lê e se conta. Ou seja, há uma iniciação social que ocorre nessa relação entre adulto-livro-criança que abre o mundo em múltiplas possibilidades”, ressalta.
Pensando nisso, ao Terra, a especialista destacou três dicas para ajudar os pais e responsáveis a integrarem cada vez mais os livros na rotina da criança. Confira:
Dicas para incentivar a leitura na primeira infância
1.Utilizar atividades junto com a leitura
Adicione atividades e brincadeiras para ler junto com as crianças. “Falar, conversar e escutar histórias, gesticular, desenhar, rabiscar e pintar, brincar, escrever e ler, atribuir sentidos são sistemas simbólicos instituídos pela sociedade para a comunicação e expressão e aprendidos pelas crianças nas suas diversas interações sociais. Por essas vias criam-se leitores e escritores com várias possibilidades de expressão”, explica a professora.
2. Leia também fora de casa
Abramowicz separou um exemplo super divertido voltado para crianças que estão um pouco maiores, de 3 a 5 anos. A ideia é aproveitar um passeio ou um caminho de ida ou volta da escola para colocar a leitura em prática.
“Uma criança inicia seu passeio pelo quarteirão. Logo de saída, encontra muita sujeira pelo chão. Tampinhas de refrigerante, latinhas de cerveja, muitos papéis jogados: de embalagens, de embrulho, figurinhas, jornal, anúncios e propaganda. Durante o trajeto pode tentar adivinhar, a partir do material recolhido, que produtos e de que marcas são consumidos no lugar onde mora.
Também encontra pelo caminho insetos de todo tipo, gravetos, folhas e flores caídas. Olhando para cima ou para os lados vê nomes de rua, placas de trânsito, pichação nos muros, números nas casas, placas que anunciam a presença de cães bravos, ônibus passando que indicam pela cor, número e palavras seu destino. Encontra bancas de jornal, barracas de frutas e muito mais.
Dependendo de onde se mora, um simples passeio pelo quarteirão pode ser rico em marcas da natureza e culturais. Atividade: Recolher este material e conversar sobre o que estará escrito.”
3. Convidar adultos para contarem histórias a partir de livros que gostem
Esta dica já é mais voltada para bebês. De acordo com a especialista, você pode colocar a criança no colo, cantar, ler expressivamente, fazer movimentos com o corpo enquanto lê e muda as páginas.
“É importante ir experimentando os livros que mais agradam os bebês. Há livros que têm sons, há livros de várias texturas. Vale a pena experimentar”, destacou.
Sugestão de leitura
Segundo Abramowicz, há alguns livros que são imprescindíveis para esta etapa e que podem ajudar a construir atividades. Veja:
- A paixão de conhecer o mundo de Madalena Freire. 22ª edição. Rio de Janeiro: Paz&Terra.
- Diretrizes curriculares nacionais para a educação infantil / Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação - 2010.
- Leitura e Escrita na Educação Infantil