O Ministério da Educação (MEC) solicitou na última quinta-feira, 27, à enciclopédia colaborativa Wikipédia que o verbete sobre o ministro da pasta, Abraham Weintraub, fosse excluído. Segundo apurou o Broadcast Político, o MEC alegou que a página conteria "informações não confirmadas" que poderiam levar a "interpretações dúbias".
A mensagem enviada pelo MEC, à qual a reportagem teve acesso, justifica o pedido de exclusão pela "impossibilidade de edição" do conteúdo por parte do ministério.
"A Assessoria de Comunicação Social do Ministério da Educação do Brasil, tomando conhecimento da criação desta página no dia 8 de abril de 2019 e a da impossibilidade de edição por este órgão governamental, solicita a exclusão da página do ministro Abraham Weintraub", afirma o texto enviado pelo MEC à Wikipédia. "A página contém informações não confirmadas com a pessoa pública ora em destaque, contribuindo para interpretações dúbias. Com a restrição, a pessoa física/jurídica fica incapacitada de declarar a ampla defesa e o contraditório."
Procurado, o MEC confirmou à reportagem que pediu a remoção do artigo e também reconheceu o conteúdo do email, mas não comentou a solicitação nem esclareceu quais trechos do artigo sobre Weintraub motivaram o contato. A solicitação do ministério foi feita por um mecanismo automático da plataforma, no qual é possível enviar um email ao usuário responsável pela última edição.
O verbete sobre Weintraub na Wikipédia foi criado no dia 8 de abril, pouco mais de três horas depois do presidente Jair Bolsonaro (PSL) anunciar pelo Twitter que ele sucederia Ricardo Vélez Rodriguez no comando do MEC.
Fórum. A solicitação do MEC para que o verbete fosse excluído mobilizou um fórum de editores da Wikipédia - que assinam com pseudônimos. O editor Chronus, que foi contatado pela assessoria do MEC, compartilhou a mensagem recebida e pediu aos colegas conselhos sobre como deveria proceder. "Caberia alguma resposta formal da comunidade quanto à solicitação do MEC?", escreveu no fórum do site na segunda-feira, 1º.
Os editores então sugeriram que ele pedisse mais clareza ao MEC sobre os pontos problemáticos e respondesse explicando ao ministério que é impossível que um editor sozinho consiga eliminar um artigo. O editor contatado pelo MEC, inclusive, não havia alterado conteúdo, mas sim restringido a possibilidade de que usuários sem boa reputação na plataforma pudessem editar o texto.
Apesar da restrição - que vale até 17 de julho de 2019 -, uma hora e meia depois do editor publicar o email do MEC no fórum, outro marcou a página do artigo como "para revisão". Desde então, até o fim da tarde de terça-feira, 2, haviam sido feitas 11 alterações no verbete, entre acréscimos de textos e links, exclusões e rearranjo de informações.
Na discussão do fórum, o editor Chronus disse que não pretendia responder ao email do ministério. Ele argumentou que a comunicação deveria ter sido feita à Fundação Wikimedia, cuja sede fica na Califórnia, nos Estados Unidos.