Há duas temporadas, a Aliança das Civilizações das Nações Unidas (UNAOC) e a EF Education First promovem em Tarrytown, Nova York, uma série de debates e seminários com jovens do mundo todo a respeito de questões globais consideradas críticas para a sociedade atual. Neste ano, após uma seleção com mais de 90 mil candidatos de diferentes nacionalidades e religiões, 75 foram escolhidos para trocarem experiências e, a partir de um "diálogo intercultural", apontarem caminhos que levem a um "entendimento comum", conforme destaca a presidente da EF, Eva Kockum.
Entre os participantes desta edição estará Mayra Tavares Gil de Souza, 32 anos, coordenadora de planejamento estratégico e membro do conselho do Instituto Inconformados. Médica veterinária por formação, a mineira colhe os resultados de uma caminhada que se iniciou em 2006, quando foi pela primeira vez para Moçambique, na África, sofrendo um "choque de realidade" que a levou a migrar a carreira para as áreas de responsabilidade social e sustentabilidade.
Por telefone, o Terra conversou com Mayra dias antes do embarque para os Estados Unidos. Confira os principais trechos.
Terra – Você é veterinária. Como foi parar na área social?
Mayra –Sou médica veterinária formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e com passagem por grandes empresas. Mas fiz uma viagem missionária em 2006, para Moçambique, em que sofri um choque e passei por uma verdadeira crise de identidade. Convivi lá com crianças órfãs, a maioria soropositiva para HIV, e com outras situações sociais muito críticas. Isso foi muito impactante. Voltei de lá com um desejo grande de usar o meu tempo para mudar as condições sociais do Brasil e, quem sabe, do mundo. Decidi focar meus estudos na área de responsabilidade social e fiz cursos de pós-graduação. Tive de estudar muito, mas consegui migrar para a área dentro da empresa em que trabalhava na época, a Sadia. Depois, fui para a área de Sustentabilidade do Grupo Boticário, onde adquiri o conhecimento que hoje aplico. Quando meu pai ficou doente, larguei meu emprego para cuidar dele, da minha família. Desse período, durante essa ruptura que tive, conheci, em julho de 2013, o Instituto Inconformados em Belo Horizonte.
Terra – Entre tantos candidatos, por que você foi escolhida para participar desse evento?
Mayra – Acho que pelo meu histórico de trabalho e amor pelas pessoas. Voltei à África duas vezes nas minhas férias para fazer trabalho social voluntário com cunho cristão. Além dessas viagens missionárias, acho que o nível de inglês contribuiu. E o projeto que sugeri, que envolve a criação de uma plataforma de trabalho integrado entre países, algo para troca de experiências em favelas do mundo todo, para intercâmbio de tecnologias sociais que nos ajudem a evoluir. Sugeri também que se estimule a criação e a circulação de trabalhos acadêmicos com foco na realidade das comunidades no Brasil e no mundo.
Terra – Como você pode contribuir estando lá?
Mayra –Quero fazer o máximo de contato com representantes de nações que tenham sinergia com os projetos sociais com que atuamos, como países da América Latina e África, para trocar experiências e saber exatamente como funciona o acesso de jovens das comunidades no mercado de trabalho. No Instituto Inconformados, oferecemos a capacitação profissional e acompanhamos o jovem até a empresa que ele vai trabalhar, damos todo o suporte. Penso até em uma possível parceria entre os países da América Latina para levar jovens daqui para o mercado de trabalho de lá e vice-versa.
Terra – Como atua o Instituto Inconformados?
Mayra – O Instituto nasceu há três anos, quando um empreendedor social de Belo Horizonte chamado Tiago Guedes desistiu da carreira de jogador de futebol para cuidar de necessitados. Ele não aceitou um contrato para jogar fora do Brasil, pois entendia que lá fora não poderia dar a mesma contribuição aos jovens que daria aqui. Somos uma instituição apartidária, formada por jovens cristãos, que acredita que por meio da geração de emprego e renda, da arte e esporte, do cuidado e amor, conseguiremos gerar dignidade e oportunidades para outros jovens, e assim formar outros líderes sociais.
Terra – Como é o trabalho?
Mayra – Acreditamos que a sociedade civil tem seu papel, tem que se responsabilizar também pelas questões sociais do nosso país. Nossa missão é promover o desenvolvimento do indivíduo (foco de 5 a 25 anos) através da educação, do esporte, da arte e da cultura. Para as crianças, nosso foco está nos esportes e nas artes e, para os jovens, concentramos nossos esforços na geração de emprego. Damos oportunidade para que eles façam cursos profissionalizantes e tenham novas oportunidades na vida. Focamos na conduta dos jovens, e sabemos que a transformação social não virá no curto prazo, por isso sempre nos preocupamos com a sustentabilidade dos nossos projetos. Queremos ser referência nacional e internacional na formação de indivíduos que promovem impacto social positivo.
Sobre o UNAOC-EF Summer School 2014
O UNAOC- EF Summer School 2014 ocorrerá entre os dias 16 e 23 de agosto na EF International Language Center. Os jovens selecionados têm entre 18 e 35 anos e são ligados a alguma instituição como, por exemplo, um conselho ou ONG da juventude, organização sem fins lucrativos ou comunitária etc. São pessoas cujo trabalho desenvolvido e liderança apresentada qualificam para colaborar de forma efetiva na busca por soluções.