O figurinista Marcelo Pies, marido do poeta Antonio Cícero, que faleceu nesta quarta-feira, 23, explicou a decisão do artista de optar pela eutanásia e contou como foram os últimos momentos dele. De acordo com Pies, foi “uma decisão puramente racional”.
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A morte de Cícero ocorreu pouco mais de um ano após o diagnóstico de Alzheimer. Segundo Pies, o medo de que a doença piorasse e perdesse de repente a consciência foi o motivo da decisão. Apenas ele sabia da escolha.
“Ninguém foi consultado. Antonio não queria. Ele só avisou ontem [terça-feira, 22] a irmã, Marina, que ficou arrasada, mas entendeu e aceitou sua posição”, contou Pies ao jornal O Globo.
Ele irá retornar ao Brasil na quinta-feira, 24, já com as cinzas de Cícero. Ele explicou que o processo foi bastante burocrático e exigiu vários exames e atestados para que o método fosse aceito.
“Ele sempre, sempre defendeu a liberdade de se cometer eutanásia e suicídio assistido. Nisso, ele foi de uma coerência admirável. Por isso, não reagi com tanta surpresa [à decisão]. Com toda a certeza, foi uma morte digna. Ele morreu em paz, segurando a minha mão, muito tranquilo e sem nenhuma ansiedade. Depois do medicamento, ele dormiu e, em meia hora ou um pouco mais, morreu”, relembrou o figurinista.
Pies explicou que o futuro da doença é conhecido e ainda não há cura. Por isso, respeitou a decisão dele e o apoiou. “Admiro imensamente a coragem e a determinação. Ele sempre apoiou todas as formas de liberdade, e essa foi mais uma”, disse.
“Quanto ao preconceito em relação à eutanásia e/ou suicídio assistido, vejo isso ser cada vez mais aceito por diferentes tipos de pessoas. Ele vem diminuindo, me parece. Mas tem que ficar claro que esses recursos só são possíveis nos casos de doenças graves, com sofrimento atestado e sem cura. Tudo só foi feito depois de as autoridades suíças aceitarem o caso mediante os comprovantes. Se mesmo assim as pessoas tiverem preconceito, aí só pode ser por dogmas religiosos. Sobre isso, Cícero fala na declaração que deixou”, contou.
Cícero deixou uma carta para amigos e familiares, onde diz que a situação pela qual estava passando era "insuportável". Ele descreve que já não reconhecia algumas pessoas que encontrava na rua, não conseguia mais escrever os poemas e ensaios de filosofia, nem conseguia se concentrar mais para ler, que era algo que mais gostava no mundo.
Antes de falecer, ele e o marido passaram alguns dias em Paris, na França. Lá, visitaram museus e restaurantes, sem qualquer lamento.
Atenção! Em caso de pensamentos suicidas, procure ajuda especializada como o CVV (Centro de Valorização da Vida), que funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, por e-mail, chat ou pessoalmente. Confira um posto de atendimento mais próximo de você (https://www.cvv.org.br/postos-de-atendimento/)