Diferentemente das instituições de ensino tradicionais ou dos cursos de treinamento, as universidades corporativas oferecem formações que vão desenvolver competências entre os colaboradores que atendem aos planos estratégicos das companhias. Empresas de vários portes e segmentos têm investido nesse modelo de lifelong learning para fortalecer a cultura organizacional e reter talentos.
A 6.ª edição de um evento realizado pela FIA Business School neste ano, sobre práticas e resultados da educação corporativa, coordenado pela professora Marisa Eboli, apontou que 71% dos entrevistados acreditam que os CEOs têm apresentado grande comprometimento com esse modelo de aprendizagem. Foram ouvidos 118 entrevistados, a maioria de organizações privadas e nacionais.
A educação corporativa é composta por soluções de aprendizagem, como define Marisa, que podem ser cursos estruturados com diferentes cargas horárias e modalidades ou ainda visitas técnicas e até participação em comunidades práticas. As iniciativas podem ser direcionadas tanto para os colaboradores em todos os níveis hierárquicos quanto para públicos externos, como fornecedores e clientes que integram a cadeia do negócio.
Ao longo dos anos, essa ferramenta de aprendizagem, ligada à gestão de pessoas, tem cada vez mais integrado o plano estratégico da corporação, deixando de estar relacionada somente às necessidades individuais dos profissionais. O levantamento da FIA mostrou que 81% dos entrevistados concordam que o modelo da educação corporativa foi baseado no mapeamento geral das competências estratégicas da organização, sugerindo essa conexão. Na pesquisa de 2021, esse índice era de 71%.
"Antigamente, a companhia comparava o resultado da avaliação de desempenho do colaborador com a descrição do cargo e identificava o que precisava ser desenvolvido, como a negociação, por exemplo. Depois promovia um curso de negociação", explica a docente, que coordena o programa de gestão da educação corporativa da FIA. Agora a trajetória tende a ser outra. "Primeiro se discute competência estratégica, depois se identificam áreas, processos e públicos e na sequência há o desenho das soluções."
A necessidade de responder rapidamente às mudanças do mercado também tem feito as empresas implementarem universidades corporativas. "O modelo de escolas corporativas é um reflexo das transformações no mercado, que exige colaboradores altamente capacitados e atualizados. Além disso, essas instituições desempenham um papel crucial na adaptação às novas tecnologias, à digitalização dos negócios e à valorização do capital humano como diferencial estratégico", diz Josiane Serrano, gerente do atendimento corporativo do Senac São Paulo, que também tem seu programa interno de formação continuada.
Em 2020, nasceu a versão remodelada da Universidade Ambev chamada Ambev On, que oferece conteúdos focados no desenvolvimento de habilidades funcionais, de liderança, de negócio e do futuro para todos os 25 mil colaboradores. "Temos como missão a formação de times de alta performance, mais capacitados para o futuro e engajados para entregar com excelência a nossa estratégia. Vivemos uma transformação no nosso negócio e, hoje, o aprendizado contínuo faz parte da nossa cultura", diz Camilla Tabet, diretora de Gente da Ambev.
Camilla conta que a empresa investe na curadoria dos conteúdos, buscando desenhar experiências de aprendizagem conectadas aos desafios reais dos colaboradores. "Para impulsionar a cultura de aprendizado, reforçamos que o desenvolvimento também aconteça por meio da conexão com pessoas, líderes e mentores e, principalmente, no dia a dia do trabalho."
A flexibilidade também tende a ser um chamariz desses cursos, que geralmente ocorrem na modalidade a distância e podem ter duração mínima de algumas horas. Algumas corporações optam, ainda, por plataformas digitais que permitem ensino personalizado e gamificado, além de simuladores e laboratórios virtuais.
Outra abordagem comum é a chamada PBL (problem based learning), bastante utilizada nos espaços formais de aprendizagem, que prevê focar no desenvolvimento de habilidades a partir de problemas e soluções reais do ambiente de trabalho, dando mais dinamismo aos conteúdos. Segundo o levantamento da FIA, a maioria dos entrevistados (81%) afirmou que se sente mais engajada em participar de atividades que utilizam essa metodologia. Conectar a aprendizagem aos desafios reais dos colaboradores é uma das estratégias para fazer com que os funcionários acessem os conteúdos da Ambev On.
Retenção de talentos e inovação
O compromisso de colaborar com a aprendizagem contínua do profissional tem efeito tanto para o sucesso individual quanto para o ambiente organizacional, segundo Josiane. "Esse conceito garante que os profissionais se mantenham relevantes, fortalecendo habilidades como adaptabilidade, criatividade e resolução de problemas, essenciais para o sucesso individual e organizacional." O relato corrobora com outro dado da pesquisa da FIA que apontou que 73% dos entrevistados concordam que os programas educacionais funcionam como uma ferramenta de autodesenvolvimento e para a promoção da saúde.
As escolas corporativas também têm efeito sobre o aumento da produtividade e diminuição da rotatividade do quadro de funcionários nas empresas. A Ambev On, segundo Camilla Tabet, "trouxe inúmeros benefícios, refletindo diretamente na retenção de talentos, na performance dos times e na aceleração do desenvolvimento de carreira dos colaboradores".
"Quando os programas de capacitação estão bem alinhados às demandas específicas das empresas contribuem para uma maior eficiência operacional, além de melhorar a qualidade do trabalho realizado", afirma Josiane. Por fim, segundo ela, as escolas corporativas desempenham um papel crucial no âmbito da inovação ao fomentar o aprendizado contínuo e a troca de ideias, elementos que estimulam a criatividade e possibilitam a implementação de soluções inovadoras dentro das organizações.