Os relatórios de desempenho do Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes (PISA 2022) foram divulgados, os exames teóricos avaliaram a capacidade dos alunos de 15 anos de resolverem problemas relacionados a leitura, matemática e ciências. Também foram averiguadas as situações de bem-estar dos estudantes dentro dos colégios.
Os resultados do Brasil ficaram abaixo da média nas três áreas do conhecimento. Mas, ao mesmo tempo, a educação brasileira manteve os níveis estáveis ainda depois da pandemia de Covid-19.
Para compreender melhor o funcionamento do teste e os resultados brasileiros, fomos conversar com Ivan Gontijo, gerente de políticas educacionais do Todos pela Educação. Confira o que descobrimos!
Como funciona o teste do PISA
A primeira dúvida é sobre o funcionamento da elaboração e da aplicação de um teste que avalia jovens no mundo inteiro. Ivan nos explica que o PISA é feito por estudantes de 15 anos a cada 4 anos, é uma comparação entre 81 países, que avalia 3 componentes curriculares:
- matemática,
- leitura e
- ciências.
O PISA não avalia a capacidade de escrita. Por isso, não é uma prova de língua portuguesa, e sim de leitura. A cada edição, o PISA foca em um dos componentes. Esta última focou em matemática.
Diferente das pesquisas feitas no Brasil, como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), o PISA é feito a partir de uma amostra. No Brasil, são escolhidos 40 mil jovens para realizar o PISA, esse grupo deve ser representativo da sociedade brasileira no que tange à realidade econômica e escolar dos alunos desta faixa etária.
As provas são na língua nativa, e adaptadas para cada país. Mas, são construídas a partir de uma mesma escala. Dessa forma, é possível comparar quem fez uma prova de português com quem fez uma prova de norueguês.
Em relação as diferentes realidades brasileiras, Ivan nos conta que o PISA, por ser amostral, não permite saber o nível de detalhamento que o SAEB, por exemplo, fornece. Não é possível comparar municípios ou escolas a partir do PISA, entretanto, é possível comparar regiões e classes econômicas.
Conclusões do PISA 2022
A comparação dos resultados de 2018 e 2022, demonstrou que os efeitos da pandemia foram menos piores que o esperado. As notas caíram pouquíssimos pontos em relação aos exames teóricos. Alguns índices até melhoraram em relação ao bem-estar escolar, mesmo os aspectos que registraram queda, foram números pequenos.
Ivan nos apresenta duas hipóteses que podem explicar esta situação. Ele começa dizendo que é uma situação paradoxal, pois, no quadro internacional, as quedas foram significantes, entre 10 e 15 pontos.
Os países com as maiores quedas foram os europeus, mas no caso do Brasil, as quedas foram quase insignificantes, a maior foi em matemática e foram 5 pontos.
Segundo Ivan, é um número surpreendente, já que a pandemia deixou as escolas fechadas por muito tempo e houve pouca reação do governo federal neste aspecto, durante a pandemia de Covid-19. A primeira das hipóteses é que a educação brasileira já estava muito ruim antes da pandemia e não havia como piorar mais, pois, os alunos já não atingiam as notas mínimas antes da pandemia.
A outra hipótese é que os alunos que fizeram o PISA em 2022 vieram de uma geração que teve o ensino básico mais consolidado no Brasil. A época da infância destes alunos (nascidos em 2007) houve um fortalecimento da educação básica brasileira. Ou seja, se não fosse a pandemia, o Brasil poderia até ter avançado.
Ivan diz que ainda é cedo para concluir se alguma desas hipótese é, de fato, a resposta
Soluções a partir do PISA 2022
Questionamos ao Ivan se o Brasil pode se espelhar nas nações com boas notas, pois há países que historicamente tem bons resultados no PISA, ou se as realidades culturais e econômicas são diferentes demais para pensar soluções desta forma.
Ele diz que, realmente, as realidades são muito distintas, mas, não é por isso que não devemos olhar e aprender soluções que podem funcionar aqui. Ele dá como exemplo a formação de professores em Singapura, com carreira estruturada e estimulante. Ele também cita a autonomia das escolas na Finlândia.
Em seguida, ele diz que já temos, no Brasil, casos de sucesso da educação. Neste momento, Ivan recomenda a série "Educação que dá certo" do Todos Pela Educação e cita alguns dos exemplos de sucesso nacionais: a cidade de sobral, no Ceará e a capital do Piauí, Teresina.
Ao tratar deste tema, Ivan diz uma frase famosa dentro do Todos Pela educação que é:
O Brasil tem muito a aprender com o Brasil.
Ivan também diz que além de olhar as experiências que já deram certo, é essencial investir na formação de professores e nos cuidados com a Primeira Infância, fase dos 0 aos 6 anos. Todavia, Ivan ressalta que no Brasil são dezenas de milhões de estudantes e que a solução deve ser sistêmica, afinal, é um problema histórico e muito complexo.
Por Tiago Vechi
Jornalista