Observando que os estudantes estavam com dificuldade para assimilar o conteúdo nas aulas de História, a professora Cíntia Beñák, da rede estadual do Rio de Janeiro, encontrou uma forma de engajar seus alunos do Ensino Médio. Os memes da internet se tornaram aliados para reter a atenção dos estudantes nas atividades em sala de aula.
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Lecionando História no Colégio Estadual Raymundo Correia, Cíntia percebeu que precisava competir com o apelo das redes sociais e da tecnologia, que dominam o cotidiano dos estudantes. A ideia de incorporar memes em suas aulas começou durante um curso de especialização na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde Cíntia notou que seus métodos tradicionais de ensino, com quadros e slides, não estavam sendo suficientes.
"A disciplina de História é muito narrativa, e os alunos acabavam ficando muito entediados. O telefone sempre parece mais atrativo do que a fala do professor", diz a docente, que também dá aula em uma escola particular do município.
Com o 'problema' definido, ela então decidiu experimentar a nova abordagem, trazendo os memes da internet para as atividades em sala. E, ao contrário do que muitos poderiam imaginar, a solução não enfrentou qualquer resistência por parte dos adolescentes.
Cíntia relata que a recepção foi positiva, pois os estudantes já estavam familiarizados com esse tipo de conteúdo fora da sala de aula.
"O meme, mesmo que a gente não queira, já chega à sala de aula por meio de brincadeiras, um vídeo, uma fala que eles usam… não necessariamente está só na rede. Ele circula, pode estar em uma caneca, uma blusa. Eles aceitam bem e se identificam com essa linguagem", afirma a professora.
Memes nas atividades
Cíntia utiliza os memes de diferentes formas em suas aulas. Eles aparecem em questões de prova e slides, e também são usados como ponto de partida para debates ou revisões de conteúdos.
No entanto, a escolha dos memes é cuidadosa. A professora seleciona aqueles que têm relevância histórica e podem contribuir para o desenvolvimento crítico dos alunos. Memes preconceituosos, por exemplo, são trabalhados apenas para incentivar a reflexão crítica.
"Por exemplo, memes preconceituosos, machistas, xenofóbicos, a gente não coloca. Quando faz uso, a gente faz para que esse aluno tenha ali uma criticidade em relação ao que não pode acontecer", pontua.
Uma das habilidades previstas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é justamente a capacidade de os alunos interpretarem essa nova forma de linguagem intertextual, que combina texto e imagem de maneira simbólica e rica em significados, segundo a professora.
Impacto na aprendizagem
Cíntia acredita que o uso dos memes tem ajudado os alunos a fixarem melhor o conteúdo. Em sua avaliação, isso só é possível por que eles são forçados a escrever e a pensar criticamente.
"A gente fala que não precisa da internet para fazer uso do digital. A linguagem digital também pode ser usada em um formato tradicional, que é pegar o papel e escrever. A partir do momento que o aluno consegue decodificar aquele meme, ele pode fazer uma análise e se identifica com aquilo. Eles acabam interagindo muito melhor do que a gente, até", acrescenta.
Técnica virou livro
Devido ao sucesso da abordagem, Cíntia transformou sua dissertação de mestrado em um livro, que funciona como um guia para outros professores. O objetivo é compartilhar suas experiências e inspirar outros educadores a adotarem a linguagem dos memes como uma ferramenta pedagógica.
"Não é um manual, mas é para partilhar a experiência que eu tive e para que outros professores também possam fazer uso dessa linguagem. A gente, inclusive, agora tem mais trabalhos acadêmicos surgindo em torno do meme", conta.
Para Cíntia, o uso de memes em sala de aula é uma técnica que deveria ser disseminada. Ela acredita que, em uma era onde a distração com a internet é constante, trazer o digital para a sala de aula pode ser uma maneira eficaz de engajar os alunos.
"A gente está com uma geração que o nosso maior problema hoje é o telefone, é a internet; eles se distraem com os vídeos. Então, eu acho que, de repente, a gente fazendo uso disso, por exemplo, eu peço para eles criarem memes ou eu peço para eles pesquisarem algum que tenha a ver com a Revolução Francesa. Aí, eles catam ali na internet. Na mesma hora, a gente já joga no quadro interativo e já dialoga sobre", conclui.