O processo de digitalização do ensino na rede estadual paulista, proposta pela gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), já começou. Os slides que norteiam as aulas estão sendo postos em uso para alunos dos anos finais do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano) e do Ensino Médio em escolas de São Paulo. Professores, no entanto, se queixam de ainda não terem recebido as apostilas que dão suporte às aulas e tecem críticas ainda maiores aos conteúdos apresentados.
O jornal Folha de S. Paulo teve acesso a slides usados para a aula de Geografia em escolas de uma importante cidade no interior paulista, pelas turmas de 7º e 9º ano. A reportagem optou por não citar as instituições nem os professores que questionaram o conteúdo por eles temerem represálias.
Em alguns dos slides, é trazido o conceito do que é o capitalismo financeiro. Para um professor da rede privada de ensino, ouvido pelo jornal, que analisou o conjunto dos slides que formam a explicação, houve um "reducionismo de conceitos, até cômico em alguns casos".
Vagner Augusto da Silva, que dá aulas de Geografia no Sistema Anglo na capital paulista, citou como exemplo para sua indignação o uso do termo "trust" que aparece de forma isolada - refere-se às associações formais ou informais de empresas visando concentrações econômicas. Para da Silva, a forma como o elemento é trazido "fica jogar por jogar".
Outro professor ouvido pelo jornal, Antônio Carlos de Carvalho, do Colégio Equipe, também localizado em São Paulo, apontou lacunas no material. "O maior problema do material é que o conteúdo e os objetivos que eles apresentam não são alcançados. Há muitas inconsistências, parece que os slides foram feitos por equipes diferentes", afirmou.
Dissonância com o currículo
Os profissionais das escolas que receberam o material digital consideraram também que há uma dissonância com o que está proposto na Base Nacional Curricular Comum (BNCC). Isso porque os slides oferecidos aos alunos de 7º ano estariam tratando de temas que só viriam a ser desenvolvidos nos dois anos seguintes.
Além disso, os slides não estão mais relacionados às obras oferecidas pelo MEC através do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), já que Tarcísio decidiu por abandonar tais obras de forma escalonada, a partir do ano que vem. Por enquanto, porém, os alunos ainda não receberam novos livros.
O que diz a Secretaria de Educação
Procurada pelo jornal, a Secretaria de Educação afirmou que os conteúdos foram pautados no Currículo Paulista - elaborado com base na BNCC.
"Cabe ao professor realizar ajustes nas atividades propostas, se julgar necessário, de acordo com o tempo previsto para cada aula, visto que os conteúdos podem ser editados pelo professor, conforme a realidade da escola e de suas turmas", diz trecho da nota.