Quanto a fluência em Inglês pode melhorar seu salário?

Para obter mais relevância internacional, as instituições de ensino estimulam a busca pelo aprendizado; no mercado, o home office traz oportunidades em mais países

3 dez 2024 - 00h00
(atualizado às 19h16)

Em 2013, a socióloga e professora da Universidade Estadual de Londrina (UEL) Simone Wolff decidiu fazer um Estágio pós-doutoral na University of Hertfordshire, no Reino Unido, que duraria de setembro daquele ano a março de 2014. Segundo ela, o fato de já saber falar inglês foi fundamental desde o primeiro momento, quando ainda realizava as tratativas para o estágio.

"Esta etapa demanda habilidade, especialmente, na escrita, já que o processo começa com contatos por e-mail para o envio do projeto de pesquisa e o aceite do supervisor escolhido", diz Simone. "Considerando que o estágio foi no Reino Unido, o domínio da língua inglesa foi um requisito obrigatório."

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Ela conta que, em sua profissão, saber inglês é de extrema relevância para a garantia de uma inserção mais qualificada e produtiva. "O universo da ciência caracteriza-se pela sua natureza profundamente internacional, pois requer debates e intercâmbios entre acadêmicos de diversos países para situar as pesquisas dentro do estado da arte de cada campo de estudo. É esta troca de ideias que leva ao avanço do conhecimento."

Domínio da língua foi essencial na seleção para estágio de Simone Wolff.
Domínio da língua foi essencial na seleção para estágio de Simone Wolff.
Foto: Simone Wolff via Facebook / Estadão

De acordo com Vanessa Martins, professora da Faculdade ESEG, do Grupo Etapa, especialista em Internacionalização, os achados científicos, quando publicados em inglês, atingem um maior número de pessoas se comparados a estudos publicados em idiomas locais. "Pessoas interessadas em realizar mestrados ou doutorados precisam acessar estudos científicos anteriores e se comunicar com outros pesquisadores no mundo, apresentando seus trabalhos em congressos científicos internacionais", afirma.

Vanessa lembra que a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão ligado ao Ministério da Educação (MEC), avalia os programas de pós-graduação também em função de sua relevância internacional. "Assim, é requisito fundamental que os pesquisadores possam trabalhar utilizando o inglês como meio de comunicação, seja porque precisam ler outros trabalhos na fonte, ou porque precisam divulgar os seus estudos."

Já Christina Bicalho, vice-presidente do Student Travel Bureau (STB), ressalta a importância de um bom aprendizado de inglês para se sair bem nos testes internacionais de proficiência, como o Toefl e o Toeic, entre outros. "Na London School of Economics, até para programas curtos voltados a executivos - cursos de cinco a dez dias de duração -, é exigida a apresentação do documento oficial do teste", exemplifica.

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Christina cita o caso da própria filha, que tem passaporte italiano e pretendia realizar um curso gratuito oferecido por uma instituição francesa, mas se deparou com uma dificuldade. "Para fazer o curso, é exigido nível 5 de proficiência em francês."

Faculdades paulistas

Até no Brasil, surgem cada vez mais oportunidades para quem busca o conhecimento e a fluência em outros idiomas. Em uma iniciativa de reformulação de cursos inédita desde a década de 1960, a pós-graduação na Universidade de São Paulo (USP) e de mais cinco instituições públicas de ensino superior paulistas - estaduais e federais - vai ficar mais rápida, como adiantou o Estadão.

O estudante poderá mudar diretamente para o doutorado depois de um ano de mestrado, o que deve diminuir o tempo para se formar doutor de quase nove anos atualmente para cinco anos. Além da USP, o novo modelo será válido para a Universidade Estadual Paulista (Unesp), a Estadual de Campinas (Unicamp), a Federal de São Paulo (Unifesp), a Federal do ABC (UFABC) e a Federal de São Carlos (UFSCar).

Lembrando que nos programas de doutorado pode ser necessário apresentar certificações de dois idiomas. A intenção de encurtar o caminho até o doutorado é a de atrair mais estudantes para a pós-graduação, cujo número de matrículas vem caindo cerca de 5% nos últimos anos na USP. A instituição é responsável pela maior parcela de doutores formados no País.

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Média salarial

Um levantamento realizado pela plataforma gratuita de empregos Catho no segundo semestre deste ano identificou, na média salarial, o quanto um profissional com fluência em inglês pode ganhar a mais do que o que não é fluente, separando por nível hierárquico: técnico (49% a mais); analista (58%); operacional (133%); especialista (51%); supervisores/coordenadores (78%); e gerente/diretor (164%).

Segundo Luiz Gustavo Mariano, sócio da Flow Executive Finders, consultoria que atua na seleção de executivos para grandes empresas, um segundo idioma traz vantagem principalmente quando a posição do profissional terá exposição a outros países, seja no ambiente interno da empresa, seja nas relações com fornecedores e/ou clientes da organização. "Um segundo idioma pode ser um diferencial para o futuro da carreira, já que em algumas instâncias, nos cargos de liderança, ele será minimamente exigido mesmo em empresas 100% nacionais", diz ele.

Christina, do STB, lembra que, atualmente, "principalmente depois da adaptação ao home office na pandemia", muitos profissionais passaram a trabalhar remotamente para empresas estrangeiras. "Aconteceu com dois ex-funcionários aqui da nossa empresa. Eles foram procurados por caça-talentos e agora estão trabalhando sem sair de casa e ganhando em dólar. E tudo isso porque têm proficiência em inglês."

Mariano, da Flow, também cita a importância de saber o idioma do país de destino, caso a pessoa esteja interessada em viajar ao exterior para fazer um curso de pós-graduação. "Os materiais, conteúdos, bem como aulas (quando fora do Brasil) de mestrados e doutorados, são em sua maioria em inglês. Mesmo no Brasil, grande parte do conteúdo é desenvolvido em parceria com outras literaturas estrangeiras. Em um mundo globalizado, o ideal é usufruir do conteúdo no idioma nativo, em vez de tradução."

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