O clima predominante na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), unidade da Universidade de São Paulo (USP) situada em Piracicaba, nos últimos dias foi de repúdio, vergonha e revolta. O motivo: um cartaz que foi pendurado por um grupo de estudantes locais no Centro de Vivência do campus.
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A faixa, escrita à mão com uma caneta preta, era uma espécie de "ranking" formado por três colunas, cada uma com uma "característica sexual" atribuída a determinadas alunas. Ao lado de cada nome, a quantidade de pessoas conhecidas com as quais a garota em questão já manteve relações sexuais. Além de ofensivas, as palavras faziam referência a conteúdos racistas e homofóbicos.
"Houve muito repúdio a isso. As pessoas ficaram em estado de choque. É inaceitável. Nele havia vários preconceitos de gênero, raça e orientação sexual. Aquelas pessoas ali identificadas se tornaram motivo de chacota. Elas aparecem e recebem olhares, comentários, risos. Isso é tão baixo", disse, ao Terra, o professor Antonio Ribeiro de Almeida Junior, do departamento de Economia, Administração e Sociologia da universidade.
O docente pesquisa casos de abuso na Esalq e também em outras instituições há 14 anos e chegou a participar da CPI dos Trotes no início do ano. De acordo com ele, ainda não se sabe quem foi responsável pela ação, mas esse tipo de comportamento já é conhecido em algumas repúblicas de estudantes locais.
"Na CPI, levei cerca de 1,5 mil matérias jornalísticas que relatavam casos de abusos em trotes e em outras circunstâncias. Depois disso, as coisas mudaram um pouco. Aqui na Esalq foi criado um grupo de direitos humanos que envolve alunos e docentes, por exemplo. E a direção tem aberto sindicâncias. Antes, havia omissão não só da USP, mas de outras universidades também. Havia um comportamento de conivência. O diretor que assumiu neste ano já abriu umas 20 sindicâncias para investigar os casos. Esse instrumento ajuda, mas claro que não é suficiente. As universidades precisam ter políticas de educação que melhorem a convivência e coibam preconceitos", concluiu.
Procurada, a assessoria de imprensa da Esalq enviou nota à redação com um posicionamento oficial do professor e diretor Luiz Gustavo Nussio sobre o caso. Confira:
No início do mês de junho, a Diretoria da ESALQ tomou ciência da existência de material que foi exposto no mural do Centro de Vivência do Campus "Luiz de Queiroz" apresentando conteúdo inadequado ao ambiente universitário qualificado. Tendo em vista a ocorrência, a Diretoria da ESALQ informa que uma Comissão Sindicante já está atuando na apuração dos fatos.