O reitor da USP, Carlos Carlotti Junior, afirmou que a universidade irá "debater para corrigir e aprimorar" o processo de análise de estudantes que se autodeclaram pretos e pardos para ingressar na instituição por meio do sistema de cotas raciais. Uma das medidas propostas é realizar as entrevistas presencialmente com todos os candidatos, substituindo o formato virtual. A declaração foi dada à jornalista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S.Paulo, nesta terça-feira, 5.
Atualmente, os candidatos realizam uma autodeclaração no momento da inscrição no processo seletivo. Em seguida, com o objetivo de evitar fraudes, comissões da USP avaliam a veracidade dessa informação.
Carlotti afirmou que uma das mudanças deve prever que os candidatos se encontrem pessoalmente com os integrantes da comissão de heteroidentificação, em vez de virtualmente, mesmo que isso resulte em um custo financeiro para a instituição.
"A ideia era facilitar a conversa com estudantes que moram longe de São Paulo", explica ele.
A USP, por sua vez, arcaria com as passagens dos estudantes. "São cerca de 200 candidatos por ano nessa situação. É mais barato arcar com o custo das viagens do que deixar qualquer dúvida no ar e expor a instituição", completou
O posicionamento do reitor surge em meio ao caso do estudante aprovado por cotas raciais na Faculdade de Medicina da USP, que entrou com uma ação judicial contra a universidade após perder a vaga por não ter sido considerado pardo. Ele obteve uma liminar para reverter a decisão. Esse caso gerou um intenso debate tanto dentro como fora da universidade.
Na ocasião, o estudante Alisson dos Santos Rodrigues, de 18 anos, autodeclarou-se pardo, porém três comissões da USP encarregadas de verificar a veracidade das informações discordaram.
As duas primeiras avaliaram fotografias do candidato, enquanto uma terceira, a comissão de heteroidentificação, realizou uma entrevista virtual com ele. "O candidato tem pele clara, boca e lábios afilados, cabelos lisos, não apresentando o conjunto de características fenotípicas de pessoa negra", diz o parecer da comissão.