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Reitora da UFRJ vai comandar secretaria de ensino superior no MEC

Kátia Schweickardt, ex-secretária de Manaus, ficará na educação básica, e Manoel Palácios será o presidente do Inep.

6 jan 2023 - 11h04
(atualizado às 19h41)

O ministro da Educação, Camilo Santana, anunciou toda a sua equipe nesta sexta-feira, 6, com oito mulheres e três homens. Todos os nomes, com exceção da escolhida para a Fundação Joaquim Nabuco, foram adiantados pelo Estadão. A reitora da Universidade Federal do Rio (UFRJ), Denise Pires de Carvalho, será a secretária de Educação Superior do Ministério da Educação (MEC) e a ex-secretária de Educação de Manaus Kátia Schweickardt vai comandar a Educação Básica.

A reitora da UFRJ, Denise Pires de Carvalho, participou nesta segunda do 3º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação, organizado pela Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca), em São Paulo
A reitora da UFRJ, Denise Pires de Carvalho, participou nesta segunda do 3º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação, organizado pela Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca), em São Paulo
Foto: Jeduca (@JeducaEduca)/Twitter / Estadão

"Fomos buscar professores de federais, com experiência, o que há de melhor nesse País", disse o ministro, que enfatizou algumas vezes o fato de a maioria das escolhidas serem mulheres. Duas delas são negras. A já anunciada secretária executiva Izolda Cela era cotada para ser a ministra, mas a vaga acabou ficando com Camilo.

Apesar de nomes de deputados do PT terem sido cotados para os cargos, os anunciados são em geral acadêmicos e ex secretários. Ao ser questionado sobre o ensino integral nas escolas, o ministro confirmou que pretende intensificar o número de escolas com mais tempo de aula, política que foi paralisada no governo de Jair Bolsonaro. "É a maior política de proteção é ter as crianças os dia todo na escola", disse o ministro.

Manoel Palácios, ex-secretário da Educação Básica do MEC e coordenador geral do Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (Caed/UFJF), vai assumir a presidência do Instituto Nacional de Pesquisas e Estudos Educacionais (Inep). Palácios foi um dos formuladores da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), aprovada em 2017, que são as diretrizes sobre o que as escolas devem ensinar hoje no País.

Graduado em Engenharia de Telecomunicações e com mestrado e doutorado em Ciências Sociais e Políticas, é um especialista em avaliações e comandava até então a entidade que é responsável por provas feitas por Estados e municípios pelo País. O nome era aguardado com ansiedade entre os servidores, cuja associação divulgou nota parabenizando o ministro pela escolha.

Há urgência para decisões sobre o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2024, que precisa se adequar ao novo ensino médio, com provas gerais e específicas. O órgão viveu intensa crise na gestão Bolsonaro, com mais de 30 servidores que pediram demissão após denunciarem interferências e assédio da presidência no ano passado.

Denise Carvalho, de 56 anos, foi a primeira reitora da UFRJ, uma das mais antigas universidades federais do País. A instituição fluminense também está entre as dez melhores instituições de ensino superior em rankings da América Latina. Ela é médica, mestre em Ciências Biológicas, doutora em Ciências e com pós-doutorado no Hôpital de Bicêtre, Unité Tiroïde, em Paris, e na Universitá Degli Studi di Napoli, na Itália. Atualmente é também professora da graduação e da pós de Medicina da UFRJ. É ainda membro titular da Academia de Medicina do Rio e autora de cerca de 170 artigos indexados.

Denise foi uma das reitoras nomeadas por Jair Bolsonaro (PL), após vencer as eleições na comunidade universitária e tinha mandato até 2023. Mas fez forte oposição à política de cortes orçamentários do MEC durante a gestão passada.

Em 2022, ela classificou a situação como "dramática". E chegou a afirmar que as aulas na UFRJ poderiam ser suspensas e unidades de saúde seriam paralisadas após cortes que a impediam de pagar até contas de água e luz. Segundo o Estadão apurou, outros ex-reitores foram cotados para o cargo e o nome dela foi bem recebido entre a comunidade universitária.

Kátia Schweickardt é professora da Universidade Federal do Amazonas e estava à frente do projeto Plantar Educação, do Instituto Gesto, com o apoio da Fundação Lemann, que faz parcerias com escolas da Amazônia para melhorar a qualidade do ensino e a gestão. É doutora em Sociologia e Antropologia e mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia.

É uma das educadoras mais respeitadas do País atualmente. Ela acredita em uma educação mais significativa e que se identifique com a realidade dos alunos de cada região e era nessa perspectiva que vinha trabalhando na Amazônia. Sob seu comando estará a alfabetização de crianças, que registrou retrocesso nos últimos anos de governo Bolsonaro e pandemia, além da educação infantil, de toda a educação fundamental e do ensino médio.

Para a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Camilo anunciou a professora da Universidade de Brasília (UNB) Mercedes Bustamante. Graduada em Ciências Biológicas, com mestrado em Ciências Agrárias e doutorado em Geobotânica, é uma das grandes pesquisadoras de cerrado do País. Mercedes assume com o desafio de reajustar os valores defasados há mais de dez anos das bolsas de mestrado e doutorado do País. Durante do governo Bolsonaro, houve sucessivos cortes, em áreas como humanidades, e os pesquisadores chegaram a ficar sem receber o auxílio em dezembro.

O ex-secretário de Educação do Rio Grande do Norte Getulio Marques Ferreira será o titular da secretaria de Educação Profissional e Tecnológica. Engenheiro, foi diretor do Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte. Coordenou no próprio MEC o processo de concepção, criação e expansão dos institutos federais.

E o ex-secretário de Educação do Ceará e de Sobral, Maurício Holanda, foi anunciado para a Secretaria de Articulação com os Sistemas de Ensino do MEC, responsável por dialogar com Estados e municípios. Pedagogo, com mestrado e doutorado em Educação, ele é o quarto cearense no MEC atual.

Além de Camilo e Izolda, a outra cearense é Fernanda Pacobahyba, que comandará o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Ele é responsável por gerenciar os recursos das políticas do ministério, como merenda, obras e livros didáticos. Fernanda é advogada, doutora em Direito Tributário e foi secretária de Fazenda no Ceará por oito anos.

A secretaria de Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão (Secadi) ficará sob o comando professora de Educação da Federal de Ouro Preto (Ufop) Zara Figueiredo. Coordenava também o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Política Pública de Educação da Ufop e pesquisa áreas como gestão, governança e desigualdades raciais.

A secretaria de regulação e supervisão do ensino superior (Seres), que cuida de autorização e credenciamento de cursos de graduação, ficará com a professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Helena Sampaio. É atualmente professora da pós-graduação em Educação e tem pesquisas sobre ensino superior, antropologia e educação.

Para a Fundação Joaquim Nabuco, ligada ao MEC e que tem o objetivo de preservar o legado histórico-cultural de Joaquim Nabuco, com ênfase nas regiões Norte e Nordeste, foi anunciada doutora em Educação Marcia Angela Aguiar, que já foi conselheira do Conselho Nacional da Educação (CNE). Leonardo Barchini, que é analista da Capes e já esteve em vários cargos no MEC durante a gestão de Fernando Haddad, será o secretário executivo adjunto.

Repercussão

"A equipe anunciada pelo ministro Camilo Santana é toda vinculada à formulação e gestão educacional, uma ótima composição, um contraste enorme com a gestão anterior", disse a presidente executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz. Segundo ela, a experiência em gestão educacional fará diferença nesse início de governo "que demanda rápidas respostas e estruturação de políticas".

A ex-presidente do Inep e ex-secretária executiva do MEC nos governos de Fernando Henrique Cardoso e Michel Temer, Maria Helena Guimarães de Castro, disse que a equipe "é experiente e retrata a diversidade da educação brasileira". Ela elogiou o fato de serem oito mulheres na gestão direta, "todas com um histórico de atuação relevante nas respectivas áreas". "A reitora da UFRJ é muito competente e tem uma visão aguçada do papel do ensino superior para a formação de professores", afirmou. Também classificou como excelente a escolha de Palacios para o Inep.

"Getulio trará a experiência e a boa prática do Rio Grande do Norte para uma área que precisa exatamente disso", disse Ana Inoe, superintendente do Itaú Educação e Trabalho, fundação voltada para o ensino profissional. "Equipe com excelência técnica, presença maciça de mulheres, duas mulheres negras, diversidade regional. A isso eu chamo de esperança", completou.

O presidente do conselho de secretários estaduais de Educação (Consed), Vitor de Angelo, também elogiou as escolhas que, segundo ele, tem "nomes representativos e todas as condições para fazer um trabalho qualificado sobre a liderança do ministro Camilo Santana".

A associação de reitores das federais (Andifes) disse que "a presença da reitora Denise é garantia de que teremos alguém que conhece de perto as universidades federais, sobretudo o cenário vivenciado mais recentemente, se dedicando a uma pauta tão relevante para a educação e para o Brasil".

Nesta tarde, às 15 horas, Camilo deve ainda anunciar os titulares das secretarias de Educação Básica, de Diversidade e Inclusão e de Regulação do Ensino superior. Maurício Holanda, ex-secretário de Educação do Ceará e de Sobral, deve ir para a Secretaria de Articulação com os Sistemas de Ensino, a Sase, responsável por dialogar com Estados e municípios.

O nome de quem vai para a presidência do Instituto Nacional de Pesquisas e Estudos Educacionais (Inep) é aguardado com ansiedade entre os servidores, segundo o Estadão apurou. Há urgência para decisões sobre o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2024, que precisa se adequar ao novo ensino médio, com provas gerais e específicas. O órgão viveu intensa crise na gestão Bolsonaro, com mais de 30 servidores que pediram demissão após denunciarem interferências e assédio da presidência no ano passado.

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Kátia Schweickardt é uma das educadoras mais respeitadas do País atualmente.
Foto: Tiago Queiroz/Estadão / Estadão
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