No segundo semestre de 2015, o país viu jovens estudantes se posicionarem contra a reorganização escolar proposta pelo governo de Geraldo Alckmin. Os secundaristas confrontaram o plano de reforma e mostraram seu descontentamento ao ocupar escolas e promover manifestações pela cidade.
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Para o cientista político Leandro Machado, sócio-fundador da CAUSE (agência de defesa de causas e interesses públicos do Brasil), o posicionamento dos jovens mostra o início de uma "revolução", e evidencia o interesse por assuntos políticos por aqueles que tem acesso à internet e vivem hiperconectados.
"De acordo com a pesquisa 'Tempos Voláteis', 49% dos jovens que não tem acesso à internet declararam que a política não lhes interessava, contra somente 33% dos jovens conetados à internet", escreve Leandro no artigo Conflito de Gerações. "Os números provam que quanto mais jovem e conectado, maior é o interesse por temas políticos", conclui o cientista.
Para ele, a internet trouxe um novo modo de pensar e tomar decisões que deve ser levado em conta pelos governos.
Confira o artigo de Leandro Machado na íntegra:
Conflito de gerações
Na recente onda de protestos de estudantes motivados pela reorganização escolar, o governo de Geraldo Alckmin parece ignorar o contexto em que vivemos. Na questão da reorganização com os acontecimentos, ficou claro que a administração estadual reincidiu no erro de tomar decisões monocráticas, dentro dos gabinetes do Bandeirantes, e somente conversar com as partes interessadas depois que surgiram problemas. Parecem não ter percebido ainda que diálogo prévio não é uma questão de ideologia política, esquerda e direita, ou de situação versus oposição, mas sim uma exigência da nossa era, do mundo digital no qual vivemos.
A nova geração, justamente essa que está sendo “reorganizada” pela Polícia Militar, é filha de um novo mundo hiperconectado. Essa meninada gasta a maior parte de suas horas dando opinião sobre tudo e sobre todos nas redes sociais. Com isso, os educatecas no governo acreditavam mesmo que eles não gostariam de ser ouvidos sobre o que seria feito com suas escolas antes de qualquer decisão ser tomada? Sem entrar no mérito da reorganização ser necessária ou não, a falta de conectividade do Governo é preocupante. Custa a crer que quem está no poder não percebeu ainda que a comunicação, principal arma da política, está sendo drasticamente reformulada e, obviamente, está se atendo a antigas práticas, moldadas em um mundo analógico.
E também não se deram conta de que esse jovem conectado está se interessando mais por política. De acordo com a pesquisa “Tempos Voláteis”, realizada pela CAUSE, 49% dos jovens que não têm acesso à internet declararam que a política não lhes interessava em nada, contra somente 33% dos jovens conectados à internet. Os números provam que quanto mais jovem e conectado, maior é o interesse por temas políticos.
Há uma revolução acontecendo. E ela traz consigo um modo de pensar e, principalmente de tomar decisões, bastante diferente de como acontecia há uma década. O mundo se tornou mais transparente, com menos segredos e pessoas mais atuantes. Sendo assim, não é mais suficiente ter uma conta no Facebook ou no Twitter (gerenciadas por jovens nativos digitais). Estes novos tempos demandam a necessidade de encontrar um público de interesse e promover um diálogo para torná-lo engajado no tema. Não adianta mais informá-lo somente depois que a decisão foi tomada.
Em suma: o debate sobre a reorganização escolar já deveria estar acontecendo há pelo menos um ano, para poder ser implementado no final de 2015. O governo deveria ter começado a informar e engajar os públicos de interesse (como, por exemplo, alunos, professores, gestores e profissionais da educação, sindicatos, Ministério Público, meios de comunicação e ONGs relacionadas ao tema) nesta discussão com antecedência. Além disso, deveria ter iniciado e fomentado o debate para, no processo, coletar e analisar eventuais sugestões de todos os públicos interessados, para então tomar a decisão de implementar a reorganização ou não.
Mas, contrariando a lógica do nosso tempo, o governador seguiu o caminho analógico de sempre: decidir dentro dos gabinetes, publicar no Diário Oficial e fazer cumprir a golpes de cassetete. Deu no que deu.